Como as pessoas vivendo com HIV/Aids percebem sua saúde bucal?

Gustavo Barbosa Parola, Cirurgião-dentista, Serviço de Atenção Especializada Adulto, Secretaria Municipal de Saúde de Santos, Santos, SP, Brasil.

Karina Franco Zihlmann, Professora Doutora, Departamento de Saúde, Educação e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos, SP, Brasil.

O artigo “A saúde bucal na perspectiva das pessoas vivendo com HIV/Aids: subsídios para a educação permanente de cirurgiões-dentistas”, publicado no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação (v. 23), visa compreender como os PVHA lidam com sua saúde bucal, identificando subsídios para o cuidado humanizado e integral.

A pesquisa foi realizada entre os anos de 2015 e 2017, e os dados foram categorizados pelo método de análise de conteúdo temática.

Uma das interfaces evidenciadas pela epidemia do HIV é o fato de que as pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) apresentam uma demanda específica de cuidado em saúde bucal. A atenção à saúde bucal é reconhecida como um dos pilares para a manutenção da saúde geral do indivíduo e, em especial, das pessoas com um sistema imunológico comprometido, sujeitas a várias doenças oportunistas na cavidade bucal (BRASIL, 2006).

Mesmo diante das propostas da Política Nacional de Humanização da Saúde (PNH) (BRASIL, 2007), evidencia-se o despreparo dos profissionais para lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de saúde supõe. Uma perspectiva de cuidado em saúde apresentada por Ayres (2001), foi abordada pelos autores, na qual discorre que cuidar da saúde de alguém é mais do que construir um objeto e intervir sobre ele. Preconiza que o profissional de saúde deve pensar de forma crítica, possuir competências com compromissos éticos e de cidadania, autonomia, capacidade de resolver problemas, refletir e transformar a sua prática, porque apenas as habilidades técnicas não suprem as atuais necessidades do ser humano. O ato de cuidar se consolida, antes de tudo, por meio do elo entre o cuidador e o ser cuidado, como uma atitude humanística.

Com isto, os autores constataram, na percepção dos pacientes, uma noção estereotipada do que se espera do comportamento de um profissional de saúde da área de odontologia, em uma expectativa de que este sempre focará em “orientar como proceder”, restrito à saúde bucal, sem considerar outros elementos envolvidos na ação de cuidado em saúde. Por outro lado, dada a característica eminentemente tecnicista da formação da maioria desses profissionais de saúde (fortemente embasada no modelo biomédico), devido, particularmente, à natureza técnica da própria odontologia — com seus materiais, procedimentos, normas e guidelines —, o profissional é levado a agir tentando responder às demandas de orientação, como se esta fosse a única forma de cuidado.

Diante desse cenário, ficou claro que havia uma dificuldade por parte dos participantes da pesquisa em tratar da questão da saúde bucal a partir de seu próprio ponto de vista, ou seja, parecia que os participantes queriam se afastar da possibilidade de assumir uma responsabilização sobre o que está em jogo nesse âmbito de cuidado. Os dentistas, por sua vez, que recebem em sua formação uma ideia menos complexa do que é cuidar, podem não perceber que isso tem uma influência na forma como o sujeito escuta e entende suas orientações, interferindo na forma como o procedimento técnico da saúde bucal se efetiva na prática.

Referências

AYRES, J. R. de C. M. Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2001, vol. 6, no. 1, pp.63-72, ISSN 1413-8123 [viewed 2020 January 07]. DOI: 10.1590/S1413-81232001000100005. Available from: http://ref.scielo.org/39yns5

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Bol Epidemiol DST/AIDS, v. 4, n. 1, 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Saúde (Documento Base). 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.

Para ler o artigo, acesse

PAROLA, G. B. and ZIHLMANN, K. F. A saúde bucal na perspectiva das pessoas vivendo com HIV/Aids: subsídios para a educação permanente de cirurgiões-dentistas. Interface (Botucatu) [online]. 2019, vol. 23, e180441, ISSN 1414-3283 [viewed 2020 January 07]. DOI: 10.1590/interface.180441. Available from: http://ref.scielo.org/ptgq8h

Link externo

Interface – Comunicação, Saúde, Educação – ICSE: www.scielo.br/icse

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PAROLA, G. B. and ZIHLMANN, K. F. Como as pessoas vivendo com HIV/Aids percebem sua saúde bucal? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/01/07/como-as-pessoas-vivendo-com-hiv-aids-percebem-sua-saude-bucal/

 

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