Da vivência às estratégias de enfrentamento: como mulheres experienciam a violência conjugal

Jordana Brock Carneiro, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. E-mail: jordanabrock@yahoo.com.br

Nadirlene Pereira Gomes, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. E-mail: nadirlenegomes@hotmail.com

Luana Moura Campos, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. E-mail: campos.luanam@gmail.com

O fenômeno “Vivenciando a violência conjugal, como um processo progressivo e cíclico, com repercussões para a saúde e implicações para as relações sociais” emergiu das associações e interações entre categorias representativas dos cinco componentes do modelo paradigmático da vertente Straussiana da Teoria Fundamentada nos Dados.

Com base no discurso de 38 mulheres atendidas em Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e de nove profissionais (uma assistente social, uma psicóloga, uma promotora, duas defensoras públicas, duas conciliadoras e duas juízas), o fenômeno revela que a violência na relação íntima se inicia com expressões veladas, como ciúmes, controle, humilhações e isolamento social, e evolui progressivamente para formas mais explícitas, com o uso de força física, até culminar em eventos mais graves, a exemplo da morte. Mesmo após eventos-ápice, é comum a mulher retomar o relacionamento, sobretudo após pedido de desculpas por parte do cônjuge. Tal condição retrata a fase de “lua de mel”, em que o homem se mostra arrependido e a mulher concede o perdão, ação atrelada à expectativa de mudança do seu comportamento1. Esse ciclo tende a se repetir em intervalos cada vez mais curtos e com eventos-ápice cada vez mais graves. Além disso, esse contexto de violência gera consequências para a saúde física e mental das mulheres, a exemplo de hematomas, sangramentos, alterações gastrointestinais e depressão.

A investigação revelou, ainda, repercussões para a vida e saúde das crianças, a exemplo de isolamento social, baixo desempenho escolar e comportamento agressivo. Como condição que intervém no fenômeno, o estudo alerta para a importância do apoio emocional e financeiro da família no processo de enfrentamento da violência. A inexistência deste suporte configura-se como situação que fragiliza a mulher para a tomada de decisão no sentido de romper com a relação abusiva. Um espaço familiar acolhedor oferece segurança suficiente para o alcance de uma transformação interna da mulher, retirando-a de um estado de inércia e submissão, o que favorece a ruptura com o cenário de violência2.

O estudo apresenta outras estratégias para o fortalecimento da mulher à saída do cenário violento, como o suporte de amigos, instituições religiosas e grupos reflexivos, além da busca pelo suporte institucional, representado pela rede de atendimento à mulher em situação de violência, como: Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, Defensoria Pública e Vara de Violência. Importante, entretanto, que esses serviços estejam integrados em rede, a fim de assegurar à mulher amparo necessário às suas demandas, sendo imprescindível, portanto, a atuação de forma articulada3.

Referências

1. PEREIRA-DA SILVA, F., et al. The biopsychosocial sphere of women victims of violence: a systematic Review. Aquichan [online]. 2017, vol. 17, no. 4, pp. 390–400, ISSN: 2027-5374 [viewed 18 March 2020]. DOI: 10.5294/aqui.2017.17.4.3. Available from: http:// aquichan.unisabana.edu.co/index.php/aquichan/article/ view/6262/4643

2. RADA, C. Violence against women by male partners and against children within the family: prevalence, associated factors, and intergenerational transmission in Romania, a cross-sectional study. BMC Public Health [online]. 2014, vol. 14, no. 1, pp. 129, ISSN: [viewed 18 March 2020]. DOI: 10.1186/1471-2458-14-129. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24502351

3. BARAGATTI, D.Y., et al. Critical path of women in situations of intimate partner violence. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2018, vol. 26, e3025, ISSN: 1518-8345 [viewed 18 March 2020]. DOI: 10.1590/1518-8345.2414.3025. Available from: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 11692018000100339&lng=en&tlng=en

Link externo

RLAE – Revista Latino-Americana de Enfermagem: http://rlae.eerp.usp.br/

Grupo de Estudos “Violência, Saúde e Qualidade de Vida” – Vid@: https://www.instagram.com/grupovida_eeufba/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CARNEIRO, J. B.; GOMES, N. P. and CAMPOS, L. M. Da vivência às estratégias de enfrentamento: como mulheres experienciam a violência conjugal [online]. BlogRev@Enf, 2020 [viewed ]. Available from: https://blog.revenf.org/2020/04/03/da-vivencia-as-estrategias-de-enfrentamento-como-mulheres-experienciam-a-violencia-conjugal/

 

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