Mudei de escola, e agora?

Cynthia Cassoni, Professora em Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi e do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP, Brasil.

Edna Maria Marturano, Professora titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

Imagem: Licenciado Pixabay

No artigo “Contexto escolar na transição dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental”, publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, vol. 37), pesquisadoras da Universidade de São Paulo entrevistaram 379 alunos e alunas da rede pública em uma cidade do interior paulista, quando estavam no 5º e no 6º ano. Todos frequentavam escolas municipais no 5º ano. Parte da amostra permaneceu na mesma escola no ano seguinte, parte se transferiu para outra escola municipal e parte se transferiu para escola estadual, segundo critérios de proximidade geográfica entre as escolas.  Nas duas coletas de dados, os participantes realizaram uma avaliação de desempenho e responderam à Escala de Stress Infantil, Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais, Questionário para Avaliação do Autoconceito e Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Crianças. Na análise dos dados, que contou com a parceria de colegas da Universidade do Porto e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, formaram-se três grupos, respectivamente com as crianças que no 6º ano permaneceram na mesma escola municipal (n = 75), mudaram para outra escola municipal (n = 100) ou mudaram para escola estadual (n = 204).

Os resultados indicaram que entre o 5º e o 6º ano houve diminuição das habilidades sociais, do autoconceito escolar geral e da satisfação com a escola, em todos os grupos. A transição parece ter afetado mais intensamente a satisfação com a escola nas crianças que mudaram de escola, pois essas mostraram maior perda de satisfação. Madjar e Cohen-Malayev (2016) encontraram resultado semelhante investigando a percepção do clima escolar. Encontraram-se indícios de que, antes mesmo de efetivar-se, a transição afeta diferencialmente os alunos, pois já no 5º ano as crianças com expectativa de transferência para escola municipal apresentavam autoconceito mais elevado e maior satisfação com a vida, ao passo que aquelas destinadas a escolas estaduais relatavam mais sintomas de stress; as primeiras apresentaram depois da transição os maiores decréscimos em dimensões do autoconceito.

Para as pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP), os efeitos dessa transição, tais como percebidos pelas próprias crianças, levando em conta a demanda adicional de mudança de escola, podem ser compreendidos em uma perspectiva ecológica (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998). Assim, o artigo discute a ecologia das escolas de origem e de destino como condição indissociável do fator mudança de escola, na interpretação dos efeitos diferenciais observados.

O estudo é inovador no sentido de ultrapassar o paradigma dominante na pesquisa empírica sobre transições escolares como eventos pontuais que afetam o funcionamento posterior do aluno; ele avança ao demonstrar, no nível do ensino fundamental, que essa passagem é processo de longo curso, sensível a condições contextuais concretas, associadas à experiência de mudança de escola, condições essas que se apresentam seja como condicionantes de expectativas no 5º ano ou como novas demandas adaptativas no 6º ano.

Na sequência, a professora Cynthia Cassoni comenta sobre o impacto dabmudança de escola. Confira:

Referências

BRONFENBRENNER, U. and MORRIS, P. A. The ecology of development processes. In: LERNER, R. M. (Ed.). Handbook of child psychology: theoretical models of human development (vol. 1, pp. 993-1027). New York: Wiley, 1998.

MADJAR, N. and COHEN-MALAYEV, M. Perceived school climate across the transition from elementary to middle school. School Psychology Quarterly [online], 2016. vol. 31, no. 2, pp. 270-288, e-ISSN: 1939-1560 [viewed 8 April 2020]. DOI: 10.1037/spq0000129. Avaliable from: https://psycnet.apa.org/record/2015-47622-001

Para ler o artigo, acesse

CASSONI, C., et al. School context in the transition from the early years to the final years of Elementary Education. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2020, vol. 37, e190049, ISSN 0103-166X [viewed 28 April 2020]. DOI: 10.1590/1982-0275202037e190049. Available from: http://ref.scielo.org/rvd457

Links externos

Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi

http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/estudos

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Sobre as autoras

Cynthia Cassoni, psicóloga, docente, pós-doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2020). Atua principalmente na área de psicologia do desenvolvimento com ênfase em intervenção no desenvolvimento escolar e problemas de comportamento em diferentes contextos. Mais de 20 anos no atendimento psicológico e na orientação para pais (estilos e práticas educativas parentais).
E-mail: cynthia.cassoni@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4681729346094258
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/cynthiacassoni/

Edna Maria Marturano, psicóloga, livre docente e professora titular na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Com experiência nas áreas de Psicologia do Desenvolvimento e Tratamento e Prevenção Psicológica, atuando principalmente com fatores de risco e proteção do desenvolvimento da criança.
E-mail: emmartur@fmrp.usp.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1564285659850897
Facebook: https://www.facebook.com/ednamaria.marturano

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CASSONI, C. and MARTURANO, E. M. Mudei de escola, e agora? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/05/07/mudei-de-escola-e-agora/

 

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