Antropologia da Biossegurança apresenta debate sobre emergências sanitárias e ambientais como doenças vetoriais, epidemias e pandemia

Cristiane Miglioranza, Assistente editorial do periódico Horizontes Antropológicos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Imagem: Jean Segata

Número temático de Horizontes Antropológicos (vol. 26, no. 57), “Antropologia da Biossegurança”, organizado por Jean Segata e Andrea Mastrangelo, aborda os diversos entendimentos de biossegurança e a multiplicidade de antropologias possíveis a partir deles. Os organizadores procuraram reunir artigos de pesquisadores que estudam emergências sanitárias e ambientais, ressaltando doenças vetoriais e zoonoses – como Leishmaniose, Chagas, Dengue, Febre Amarela, Zika, Chikungunya, Malária e Influenza – e epidemias, pandemias, desastres, contaminações ambientais e alimentares que estão no foco de ações de Estado para o controle, a prevenção ou a vigilância de humanos, animais, artefatos e ambientes.

Os pesquisadores enfatizam que “políticas e práticas de biossegurança têm sido produzidas a partir de infraestruturas globais da ciência, da tecnologia e de suas corporações internacionais e ao mesmo tempo envolvem relações locais entre natureza, sociedade e poderes. Em alguns casos, essas políticas atuam como experimentos de ciência estendidos ao mundo, sem dialogar com saberes e práticas locais. Na maioria das vezes, sua implantação tem sido baseada em discursos que convertem a natureza em ameaça à sociedade ou na associação perversa entre pobreza, risco e vulnerabilidade”.

Com isso em vista, eles organizaram a publicação de forma que os artigos reunidos se inscrevessem em uma intersecção entre diferentes temas e campos que tratam de questões contemporâneas – e futuras – para a etnografia e para a teoria antropológica, como os de ambiente, risco e desastres e antropologia médica e da saúde. “A partir de uma perspectiva etnográfica, a interface com a saúde permite abordar densos enredamentos entre humanos e não-humanos, mediados por atores diversos, como mosquitos, venenos, armadilhas, antibióticos, transgênicos, vacinas entre outros, como também por modelos de diagnósticos, tratamentos, campanhas e ações de prevenção, controle e combate. A atenção antropológica orientada para a articulação entre saúde humana, animal e ambiental permite análises que atravessam e emaranham domínios de Estado-nação, fronteiras internacionais, economia, direitos e moralidades a partir de campos de interesse diversos, como o da biopolítica e da microbiopolítica, das relações humano-animal e multiespécie, da etnologia indígena, da saúde global, da antropologia da ciência ou das novas tecnologias digitais”, destacam.

Além do debate inicial sobre a biossegurança e suas antropologias, a publicação traz oito artigos inéditos, entre eles “Biosecurity and the ecologies of conservation. An anthropology of collecting practices among virus hunters and birdwatchers”, do antropólogo francês Frédéric Keck. A trajetória de Keck remonta ao grupo que reuniu Stephen Collier, Andrew Lakoff, Stephen Hinchliffe, Carlo Caduff, entre outros, no Laboratório de Estudos do Contemporâneo de Berkeley, liderado por Paul Rabinow, onde uma parte importante da agenda antropológica do campo se desenhou. O pesquisador se pergunta se os seres vivos são sentinelas uns dos outros, tendo em mente que uma sentinela pode ser o animal que dá sinais, como no caso do canário da mina de carvão, comumente empregado no século XIX. A sentinela pode ser também um animal não vacinado em uma fazenda, que alerta o fazendeiro para a entrada de um vírus, adoecendo ou morrendo. Ainda, pode ser as células do nosso próprio organismo, que alertam o sistema imune para que ele encontre respostas adequadas à presença de um desconhecido. Keck critica o modo romantizado de se tratar os experts versados em virologia e imunologia que operam com sentinelas como se fossem xamãs de pandemias, superestimando a ideia de preparação e resposta. Em vez disso, ele traça um paralelo entre os microbiólogos, os observadores de pássaros, mas também os antropólogos que trabalham em museus, para mostrar como “os seus raciocínios e práticas cinegéticas são comuns quando constroem reservas a conservação do passado e da imaginação do futuro”.

Para ler o artigo, acesse

KECK, F. Biosecurity and the ecologies of conservation. An anthropology of collecting practices among virus hunters and birdwatchers. Horiz. antropol. [online]. 2020, vol. 26, no. 57, pp. 93-114, ISSN: 1806-9983 [viewed 21 July 2020]. DOI: 10.1590/s0104-71832020000200004. Available from: http://ref.scielo.org/gvjzzf

Links externos

Horizontes Antropológicos – HÁ: www.scielo.br/ha

https://www.facebook.com/revistahorizontesantropologicos/

https://twitter.com/horizontesufrgs

Jean Segata – http://lattes.cnpq.br/8646469321774113

Andrea Mastrangelo – http://lattes.cnpq.br/4450212857925156

https://www.ufrgs.br/ppgas/ha/index.php/pt/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MIGLIORANZA, C. Antropologia da Biossegurança apresenta debate sobre emergências sanitárias e ambientais como doenças vetoriais, epidemias e pandemia [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/08/25/antropologia-da-biosseguranca-apresenta-debate-sobre-emergencias-sanitarias-e-ambientais-como-doencas-vetoriais-epidemias-e-pandemia/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation