Percepções de pessoas idosas sobre o cuidado com o(a) idoso(a) frágil na comunidade

Gislaine Alves de Souza, Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Fiocruz Minas, Fundação Oswaldo Cruz, Instituto René Rachou, Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Karla Cristina Giacomin, Médica geriatra, Prefeitura de Belo Horizonte, Secretaria Municipal de Saúde, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Josélia Oliveira Araújo Firmo, Pesquisadora, Instituto René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz, Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento, Fiocruz Minas, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Os pesquisadores do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento desenvolvem projetos em saúde pública, com ênfase em saúde da pessoa idosa. No doutorado do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do Instituto René Rachou, uma pesquisa investigou as evidências científicas a respeito do cuidado à pessoa idosa frágil na comunidade, na percepção da própria pessoa idosa. O artigo “O cuidado com as pessoas idosas frágeis na comunidade: uma revisão integrativa” publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (vol. 23, no. 6), por meio de uma revisão integrativa descobriu que a percepção da pessoa idosa sobre a fragilidade difere daquela da literatura biomédica que aponta para reversibilidade dessa condição.

Para a pessoa idosa, a fragilidade é percebida como um rótulo negativo, com piora gradual e que inclui tanto dimensões físicas quanto psicossociais, identificáveis conforme os níveis de saúde e participação social. Esses elementos contribuem para aprimorar a compreensão da dinâmica do cuidado e adequar os serviços e estratégias políticas para esse público, as quais efetivamente possibilitem o alcance da integralidade e qualidade de vida dessa população. Nesta entrevista, Gislaine Alves de Souza, doutoranda em Saúde Coletiva aborda as contribuições do artigo para melhorar o cuidado a pessoa idosa frágil.

1. Qual o diferencial desse artigo?

As pessoas idosas frágeis representam a maior parte daqueles que necessitam de cuidados informais, formais e dos serviços de saúde. Assim, constitui uma preocupação para a saúde pública. Contudo, a integralidade do cuidado depende do ponto de vista do receptor, de suas experiências, e pouca literatura aborda a ótica da pessoa idosa frágil no âmbito comunitário. A perspectiva dessa população permanece relativamente desconhecida. Logo, sintetizar evidências científicas é relevante para melhorar a assistência e os cuidados de saúde.

2. Como a revisão integrativa foi sistematizada?

A busca dos artigos foi realizada na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), da Medical Literature Analysis and Retrieval System (Medline), Web of Science, Scopus e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Nas buscas os termos frail elderly, standard of care, culturally competent care, care; elderly, care, fragility; older adults, care, fragility; frail older people, care; frailty, old, care foram pareados com o uso do operador booleano “and”. Os critérios de inclusão foram artigos disponíveis completos e de acesso livre; publicados entre 2014 e 2019; escritos em língua portuguesa, inglesa, espanhola ou francesa. Foram identificados 6.103 artigos, realizou-se a leitura do resumo de 3.556 artigos selecionando-se 110 que após a exclusão dos artigos duplicados e leitura na integra 28 artigos foram incorporados a essa revisão.

3. Como é vista a fragilidade pelas pessoas idosas frágeis?

Aparece discrepância entre a operacionalização da fragilidade em contextos clínicos e a compreensão das pessoas idosas. Elas não se identificam com os critérios objetivos (definição fenotípica) de diagnóstico e o sentimento de fragilidade varia conforme os níveis de saúde e a participação em atividades físicas e sociais. É recorrente a visão da pessoa idosa da fragilidade como um rótulo negativo, prejudicial, rejeitado e associado a piora das condições de saúde, diminuição da participação e aumento da estigmatização. Vista como inevitável, permanente, irreversível e decorrente do envelhecimento, a fragilidade, embora para alguns facilite a obtenção de assistência, é um termo pouco aceito pelas pessoas idosas para descreverem sua situação de saúde. Isso demanda uma inovação na comunicação a essa população.

4. Quais necessidades e prioridades aparecem na percepção da pessoa idosa?

As pessoas idosas frágeis visualizam como prioridade: permanecerem no seu domicílio e se manterem independentes o máximo de tempo possível, preservando sua capacidade para o autocuidado e para as atividades que consideram importantes, sem depender de um terceiro. O apoio psicossocial na comunidade e a escuta às suas demandas são elencados por eles como fundamentais para o bem-estar, reduzindo ansiedade e hospitalização. Nessa perspectiva, a solidão é um problema que aumenta a utilização dos serviços. Referem um sentimento de despersonalização quando não estão envolvidos nas decisões acerca de seus cuidados.

As pessoas idosas visualizam a necessidade de os serviços ofertarem cuidados mais heterogêneos, personalizado conforme os tópicos de vida diária importantes para cada pessoa, possibilitando a manutenção de sua autonomia apesar da incapacidade. Como também ações direcionadas aos aspectos afetivos, psicossociais, espirituais, ambientais, e de apoio aos seus cuidadores. Os achados sinalizam para adequações dos serviços às necessidades de saúde da população idosa frágil, que favoreçam um modelo de cuidado integral. Ao longo do envelhecimento, o apoio e a escuta à pessoa idosa e aos seus cuidadores são necessários para aumentar a segurança no cuidado e melhorar a comunicação considerando as escolhas de acordo com os interesses desse público.

Para ler o artigo, acesse

SOUZA, G. A. de; GIACOMIN, K. C. and FIRMO, J. O. A. O cuidado com as pessoas idosas frágeis na comunidade: uma revisão integrativa. Rev. bras. geriatr. gerontol. [online]. 2020, vol. 23, no. 6, e190134, ISSN: 1981-2256 [viewed 13 October 2020]. DOI: 10.1590/1981-22562020023.190134. Available from: http://ref.scielo.org/277rx5

Links externos

Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia – RBGG: www.scielo.br/rbgg

http://www.cpqrr.fiocruz.br/pg/pesquisa/grupos-de-pesquisa/18-2/

Sobre a autora

Psicóloga, especialista em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde, mestre em Saúde Coletiva com ênfase em Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Atualmente doutoranda em Saúde Coletiva pelo Instituto René Rachou (FIOCRUZ-MG), integra ao Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento (NESPE) e ao Grupo de Estudos em Saúde Coletiva (GESC).
E-mail: gislaine.as@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1601873301034766

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SOUZA, G. A. de; GIACOMIN, K. C. and FIRMO, J. O. A. Percepções de pessoas idosas sobre o cuidado com o(a) idoso(a) frágil na comunidade [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/11/03/percepcoes-de-pessoas-idosas-sobre-o-cuidado-com-oa-idosoa-fragil-na-comunidade/

 

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