Finanças corporativas e governança na atualidade

Gilberto Perez, Editor-chefe da RAM. Revista de administração Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.

Vitória Batista Santos Silva, Suporte técnico da RAM. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil.

Imagem: mohamed_hassan

A dinamicidade presente no mercado financeiro é tão ou mais intensa que a velocidade com a qual uma ação pode mudar o seu comportamento. Com o passar dos anos, não somente a teoria foi se modificando, como ficou cada vez mais clara a necessidade de incorporar à análise das finanças os aspectos comportamentais, e os impactos que a informação pode ter no desempenho de uma empresa. A RAM. Revista de Administração Mackenzie reuniu em sua edição especial de 2020 (vol. 21, no. 6) seis artigos que trazem à tona a discussão de tópicos relevantes para as finanças corporativas e para a questão da governança, ressaltando a preocupação dos pesquisadores dessa área no atual momento.

A preparação da edição contou com a submissão de 33 artigos, dos quais foram selecionados seis para compor a edição especial, em um processo iniciado ainda no final do ano de 2019. Sob a temática “Novos estudos e resultados de pesquisa sobre governança e finanças no contexto do Brasil e da América Latina”, os editores convidados selecionaram estudos que proporcionam uma visão ampla sobre o atual cenário das finanças e da governança corporativa, com estudos que abordam assuntos relevantes para o avanço do conhecimento neste campo, além de trazer visões que contribuem para explicar características do atual estado da arte do estudo das finanças.

Vieira et al. (2020) analisaram um aspecto crucial para o funcionamento do mercado financeiro, ao apontarem as características de personalidade dos empreendedores, e como seu comportamento pode influenciar na estrutura de capital de uma empresa, trazendo à tona um dos aspectos comportamentais sob o qual as finanças podem ser avaliadas. Dentre as variáveis analisadas, o estudo enfatiza o impacto da questão do gênero e da atitude com relação à dívida para o desempenho da estrutura de capital.

Ainda no que tange o caráter comportamental das finanças, também é possível observar a relação com teorias como a Hipótese dos Mercados Eficientes, que é base para o estudo de Dimarzio, Matias Filho e Fernandes (2020), no artigo “Finanças comportamentais: evidências empíricas utilizando Magic Formula no mercado de ações brasileiro” que, considerando pressupostos como a racionalidade dos agentes de uma economia, visa explicar as causas da ineficiência na precificação de ativos.

Outra característica extremamente em voga no mercado financeiro atualmente é o impacto que as informações podem ter sobre o desempenho de ações ou sobre os resultados de uma companhia. Por meio de diversos veículos disponíveis, obter informação confiável tornou-se uma arma poderosa para se conseguir um maior controle sobre o mercado financeiro. Estudos como os de Vasconcelos e Martins (2020) e de Santos, Funchal e Nossa (2020) contribuem para identificar impactos que as informações podem trazer sobre os preços das ações e sobre o valor de mercado das empresas, respectivamente, o que sinaliza que é preciso focar cada vez mais em boas práticas de governança, a fim de evitar o poder das informações possa trazer consequências indesejadas para o desempenho de uma companhia.

Especificamente sobre a governança corporativa, uma opção sempre válida é verificar o que é considerado tendência em outros países com economias que possuam características em comum. A pesquisa de Santos et al. (2020) abordou justamente as tendências observadas na governança corporativas, a partir do que é estabelecido como boas práticas pela Organização das Nações Unidas (ONU). No caso brasileiro, é identificada uma convergência com o que está estabelecido pelo código da ONU, assim como no caso da Argentina e a Colômbia.

Vale dizer que o que tem sido discutido em termos de governança corporativa nas últimas duas décadas inclui diversos temas atuais, que estão relacionados à diversidade, maior igualdade na remuneração entre homens e mulheres, ética, entre outros. Conforme analisado por Parente e Machado Filho (2020), que avaliaram as pesquisas sobre o Conselho de Administração que publicadas no período de 2000 a 2019, e identificaram que as boas práticas de governança e uma maior diversidade de gênero são temas cada vez mais recorrentes ao longo dos últimos anos, e que ajudam a sintetizar vários aspectos abordados na edição.

Assim, com a edição especial de finanças corporativas e governança da RAM esperamos contribuir para ampliar a discussão a respeito de temas atuais no mercado financeiro, para os quais pesquisadores dos mais diversos países têm voltado sua atenção. Desejamos a todos uma boa leitura!

Referências

PARENTE, T. C. et al. Conselhos de Administração no Brasil: revisão da literatura e agenda de pesquisa. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol. 21, no. 6, eRAMD200066. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200066. Available from: http://ref.scielo.org/tpbtbg

SANTOS, A. A. et al. Códigos de governança corporativa dos países latino-americanos: análise das práticas da ONU. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol. 21, no. 6, eRAMD200061. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200061. Available from: http://ref.scielo.org/yftrfc

SANTOS, S. F. S. et al. Irregularidades e o valor de mercado das empresas. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol. 21, no. 6, eRAMD200057. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200057. Available from: http://ref.scielo.org/8y4p59

VASCONCELOS, L. N. C. et al. Governança via negociação de ações no brasil: evidências com investidores institucionais. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol. 21, no. 6, eRAMD200046. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200046. Available from: http://ref.scielo.org/8ps4nq

VIEIRA, K. M. et al. Minha empresa e eu: traços de personalidade do empreendedor e escolha da estrutura de capital. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol. 21, no. 6, eRAMD200300. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200300. Available from: http://ref.scielo.org/zcgffw

Para ler o artigo, acesse

DIMARZIO, F. et al. Finanças comportamentais: evidências empíricas utilizando Magic fórmula no mercado de ações brasileiro. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2020, vol .21, no. 6, eRAMD200050. ISSN: 1678-6971 [viewed 01 December 2020]. https://doi.org/10.1590/1678-6971/eramd200050. Available from: http://ref.scielo.org/85qthc

Links Externos:

RAM. Revista de Administração Mackenzie – RAM: www.scielo.br/ram

RAM. Revista de Administração Mackenzie: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/RAM

Universidade Presbiteriana Mackenzie – Corpo Docente: https://www.mackenzie.br/pos-graduacao/mestrado-doutorado/sao-paulo-higienopolis/administracao-de-empresas/corpo-docente/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PEREZ, G. and SILVA, V. B. S. Finanças corporativas e governança na atualidade [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/01/05/financas-corporativas-e-governanca-na-atualidade/

 

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