Planta cresce? O que acontece quando crianças planejam uma investigação científica

Deborah Cotta, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/FaE/UFMG). Belo Horizonte, MG, Brasil.

Lúcia Helena Sasseron, livre docente em Educação. Professora Associada do Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (EDM-FEUSP). Coordenadora do LaPEF (Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física) FEUSP. São Paulo, SP, Brasil.

Imagem: @cdc

Pensar o ensino de Ciências da Natureza é um projeto que envolve estudos e diálogos entre grandes áreas, como a Sociologia, Filosofia, a Antropologia e a História da Ciência, entre outros. A ampliação da discussão sobre aspectos didáticos, curriculares e conceituais para a compreensão e ensino das Ciências enquanto prática social e política tem sido problematizada e incentivada  nesses mesmos planos, assim como no acadêmico e normativo.  O artigo “Práticas constituintes de investigação planejada por estudantes em aula de ciências: análise de uma situação” publicado na Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (v.23) analisa como estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental se envolvem no planejamento de uma investigação de fenômenos da natureza. A autora apresenta e discute como a situação educacional de perspectiva investigativa possibilitou o envolvimento de estudantes com práticas epistêmicas e o contato com diferentes elementos da investigação. Os objetos epistêmicos, as condições experimentais (RHEINBERGER, 1997), e as diferentes dimensões do conhecimento: epistêmica, conceitual, social (DUSCHL, 2008) e material (STROUPE, 2014) foram identificadas ao longo da pesquisa.

A partir da análise de interações discursivas entre estudantes e monitores de uma oficina, realizada com crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual, foram percebidas práticas epistêmicas sendo desenvolvidas, discutidas e negociadas entre os sujeitos. A atividade envolveu o planejamento de uma investigação sobre o crescimento das plantas. Foram evidenciadas situações em que as crianças propuseram condições e ações experimentais, planejaram o uso de materiais, e discutiram e legitimaram ideias sobre a avaliação e comunicação dos resultados que poderiam ser obtidos com a experimentação.

As práticas epistêmicas de propor, comunicar, legitimar e avaliar informações, conforme propostas por Kelly e Licona (2018), foram percebidas nas análises da situação investigada como contextualizadas, interacionais, intertextuais e sequenciais. A autora destaca também a participação dos monitores no engajamento e em sua potencialidade de mobilizarem características desta forma de construção do conhecimento, junto com aspectos do ensino de ciências por investigação enquanto abordagem didática.

A situação educacional analisada é parte de um empreendimento mais amplo que se preocupa em constituir algo público, social, coletivo e de autoridade epistêmica compartilhada entre estudantes e monitores. Este estudo revela como práticas da ciência podem acontecer em um contexto de ensino na Educação Básica, e indica a possibilidade de experiências que envolvam os estudantes em investigações, possibilitando também práticas e aprendizados que contemplem essas ideias.

Referências

DUSCHL, R. A. Science education in three-part harmony: balancing conceptual, epistemic and social learning goals. Review of Research in Education [online]. 2008, vol. 32, no. 01, p9. 268-291 [viewed 18 February 2021]. https://doi.org/10.3102/0091732×07309371. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.3102/0091732X07309371

KELLY, G. J. et al. History, Philosophy and Science Teaching. Science: Philosophy, History and Education [online]. 2018 [viewed 18 February 2021]. https://doi.org/10.1007/978-3-319-62616-1. Available from: https://link.springer.com/book/10.1007%2F978-3-319-62616-1

RHEINBERGER, H. J. Toward a History of Epistemic Things: Synthesizing Proteins in the Test Tube. California: Stanford University Press, 1997.

STROUPE, D. Examining Classroom Science Practice Communities: How Teachers and Students Negotiate Epistemic Agency and Learn Science-as-Practice. Science Education [online]. 2014, vol.  98, no. 03, pp. 487-516 [viewed 18 February 2021]. https://doi.org/10.1002/sce.21112. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/sce.21112

Para ler o artigo, acesse

SASSERON, L. H. Práticas Constituintes de Investigação Planejada por Estudantes em Aula de Ciências: Análise de Uma Situação. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte) [online]. 2021, vol. 23 [viewed 18 February 2021]. https://doi.org/10.1590/1983-21172021230101. Available from: http://ref.scielo.org/8mc3rj

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

COTTA, D. and SASSERON, L. H. Planta cresce? O que acontece quando crianças planejam uma investigação científica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/02/18/planta-cresce-o-que-acontece-quando-criancas-planejam-uma-investigacao-cientifica/

 

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