A herança das paixões políticas em famílias de ex-militantes sindicais

Jaime Santos Júnior, Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Marilda Aparecida de Menezes, Professora Colaboradora da Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais, Universidade Feral do ABC, Santo André, SP, Brasil, e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Imagem: Januário F. da Silva, 1999. Cedida gentilmente para publicação desse post.

O artigo “Histórias de mulheres militantes na perspectiva dos(as) filhos(as): (des)engajamentos políticos”, publicado no dossiê Educação e Comportamento Político, no periódico Educação & Sociedade (vol. 42),  analisou o lugar das paixões políticas em famílias de ex-militantes sindicais partindo da hipótese: a apreensão das memórias dos pais pelos filhos(as), em contextos sociais muito diferentes, mobilizam bens simbólicos e emocionais distintos que revelam não meramente uma ruptura com os engajamentos políticos dos pais, mas uma mudança na forma como se estabelecem os vínculos afetivos das posições políticas. Os pesquisadores Jaime Santos Júnior e Marilda Menezes, da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Federal do ABC, respectivamente, se valeram dos desdobramentos de uma projeto de pesquisa que analisou, comparativamente, as memórias das greves históricas de metalúrgicos do ABC Paulista e de canavieiros em Pernambuco entre fins da década de 1970 e 1980, desenvolvida entre 2017 e 2019, com o propósito de compreender como as trajetórias de militância dos pais eram apreendidas no âmbito das famílias, pelos filhos(as).

A extensão da análise, incorporando os casos dos filhos e filhas de antigos militantes sindicais procurou dar consequência à metodologia do estudo de memórias, pois não se tratava apenas de inserir fatos novos à narrativa sobre as greves históricas de metalúrgicos do ABC Paulista, já amplamente catalogada pela literatura especializada, mas vê-la sob o prisma das memórias e do legado político na dimensão do cotidiano das famílias, no tempo presente. Essa forma de armar o problema de pesquisa traz à tona uma questão contemporânea no Brasil que versa sobre o desafio de compreender a formação de engajamentos políticos nas novas gerações. O registro etnográfico do espaço do sindicato e a análise da história de vida das famílias que compõem a amostra de casos combinou procedimentos distintos para flagrar permanências e rupturas no conteúdo da herança geracional.

Os resultados alcançados podem ser divididos em duas frentes. Primeiro, em termos teórico-metodológicos, que inscreve os engajamentos políticos na zona cinzenta dos afetos e emoções, inspirados pelos estudos de Pierre Ansart (2019) e Marcel Mauss (1979). Quando se trata de sentimentos políticos associados a valores, concepções de justiça e visões de mundo forjados em contextos radicalmente distintos entre a geração dos pais e dos filhos(as). Segundo, em termos práticos, com o objetivo de refinar o argumento ao colher como resultado, na transmissão de valores e éticas políticas, como bens simbólicos, uma diferença que se expressava em termos de intensidade afetiva. Para dizer, as evidências sugerem a preservação de valores políticos (concepções de justiça social, cidadania, igualdade, entre outros) herdados das trajetórias dos pais, a denotar como a socialização na família constitui um parâmetro importante para a educação política em sentido mais amplo; todavia a fragilidade desses vínculos salta a vista no sentido de uma defesa mais intransigente do que se expressa como escolhas pessoais. Eis o gradiente de intensidade. Em miúdos, desprender-se de posições políticas assumidas é menos grave nas trajetórias dos(as) filhos(as). Em verdade, isto não é conclusivo, pois os autores seguem pesquisando alguns aspectos que foram menos explorados, tais como a religião e os investimentos educacionais. É o que está por vir.

Referências

ANSART, P. A gestão das paixões políticas. Curitiba: Ed. UFPR, 2019.

MAUSS, M. A expressão obrigatória dos sentimentos. In: OLIVEIRA, R.C. (org.). Mauss – antropologia. São Paulo: Ática, 1979.

SANTOS JUNIOR, J. et al. À margem da história? Mulheres metalúrgicas e a memória das greves do ABC (1978–1983). In: LEITE LOPES, J. S. and HEREDIA, B. A. (orgs.). Movimentos cruzados, histórias específicas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2019.

Para ler o artigo, acesse

SANTOS JUNIOR, J. et al. Histórias de mulheres militantes na perspectiva dos(as) filhos(as): (des)engajamentos políticos. Educ. Soc. [online]. 2021, vol. 42 e240824. ISSN: 1678-4626 [viewed 14 February 2021].  https://doi.org/10.1590/es.240824. Available from: http://ref.scielo.org/mbk2yq

Links Externos

Academia.edu: https://unicamp.academia.edu/EducaçãoeSociedade

Civitas – Revista de Ciências Sociais: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1519-60892019000300675&script=sci_abstract&tlng=pt

Educação & Sociedade – ES: www.scielo.br/es

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Lattes Jaime Santos Júnior: http://lattes.cnpq.br/1838123939044180

Lattes Marilda Aparecida de Menezes: http://lattes.cnpq.br/9822634790399791

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Programa de Memória dos Movimentos Sociais – Movimentos Cruzados, Histórias Específicas: http://www.memov.com.br/site/index.php/component/content/article/17-livros-e-outras-publicacoes/livros-memov/242-movimentos-cruzados-historias-especificas?Itemid=101

Programa de Memória dos Movimentos Sociais: http://www.memov.com.br/site/index.php

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

JÚNIOR, J. S. and MENEZES, M. A. A herança das paixões políticas em famílias de ex-militantes sindicais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/03/18/a-heranca-das-paixoes-politicas-em-familias-de-ex-militantes-sindicais/

 

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