Como a interdisciplinaridade é pensada por estagiários de cursos de Ciências da Natureza?

Deborah Cotta, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGE/FaE/UFMG). Belo Horizonte, MG, Brasil. 

João H. C. de Moura, doutor em Ensino de Ciências e Matemática (Pecim-Unicamp), professor da área de Física no IFSP – Campus Registro.  

A ideia da interdisciplinaridade vem se fortalecendo no Brasil nas políticas curriculares e em documentos oficiais a partir dos anos de 1990, e tem ênfase com a proposição da Base Nacional Comum Curricular em 2018. O que acontece, no entanto, é que as práticas interdisciplinares não são atividades triviais e nem podem ser tratadas como processos simples ou naturais. As disciplinas escolares são territórios que concorrem entre si na disputa por tempo e por espaço no cotidiano e no contexto escolar (PETRUCCI-ROSA, 2007).

Nesse sentido, a fim de pensar a prática interdisciplinar considerando as potencialidades do estágio como um importante espaço de formação docente, o artigo “Práticas interdisciplinares na formação inicial de professores de Ciências da Natureza: contextos distintos, indagações similares”, publicado na Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (v.23), apresenta a análise de um conjunto de roteiros e relatórios escritos por futuros professores de disciplinas das Ciências da Natureza.  Os princípios da Análise Textual Discursiva contribuíram com a identificação de categorias emergentes nas produções de texto, que guiaram as compreensões dos autores.

Imagem: @josealjovin on Unsplash.

Os textos foram produzidos em grupos, formados por licenciandos de diferentes cursos de graduação, a partir de atividades realizadas em turmas do Ensino Médio. Os pesquisadores perceberam que, mesmo na proposição e relato de atividades interdisciplinares, a lógica disciplinar dos conteúdos persistia entre os estagiários, e cada disciplina era vista como um ente isolado em sua terra-natal. Era possível perceber a segmentação das disciplinas ao longo das atividades propostas, assim como nos relatos. Os estagiários demonstraram preocupação com a gestão e organização do tempo e do espaço escolar, tanto para garantir uma explicação suficiente dos conteúdos de sua disciplina quanto para promover práticas interdisciplinares eficientes. Os pesquisadores observaram ainda que começar uma atividade interdisciplinar a partir de um grande tema pode ser uma importante estratégia, mas que o abandono da estrutura curricular tradicional é um desafio significativo e exigente.

Assim, foi possível perceber que as práticas essencialmente disciplinares perduram na visão e na relação desses professores em formação com os conhecimentos.  O artigo nos convida a pensar como a estrutura da formação universitária contribui para a defesa dos conhecimentos especializados pelos sujeitos envolvidos com determinada área, que integram a complexa teia que é a comunidade disciplinar (GOODSON, 2001), em disciplinas escolares isoladas. Dessa forma, o estágio supervisionado curricular, posto como um espaço para produzir conhecimentos de natureza interdisciplinar, pode ser visto como uma transgressão e quebra da lógica vigente, o que exige esforço e comprometimento coletivo.

Para que as práticas interdisciplinares sejam então efetivas, são necessários um constante apego e desapego dos conteúdos, a integração de saberes de disciplinas diferentes e a abertura para negociações e concessões entre todos os envolvidos.

Referências

GOODSON, I. F. O Currículo em Mudança – Estudos na construção social do currículo. Tradução de Jorge Ávila de Lima. Porto: Portugal, 2001.

PETRUCCI-ROSA, M. I. Experiências Interdisciplinares e formação de professore(a)s de disciplinas escolares: imagens de um currículo-diáspora. Revista Pro-Posições [online]. 2007, vol.18, no.02, pp.51 – 65 [viewed 10 August 2021]. Available from: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643544/0

Para ler o artigo, acesse

MOURA, J. H. C., ROSA, M. I. P. and MASSENA, E. Prestespráticas interdisciplinares na formação inicial de professores de ciências da natureza: contextos distintos, indagações similares. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte) [online]. 2021, vol.23 [viewed 10 August 2021]. https://doi.org/10.1590/1983-21172021230107. Available from: http://ref.scielo.org/5br775

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

COTTA, D. and MOURA, J. H. C. Como a interdisciplinaridade é pensada por estagiários de cursos de Ciências da Natureza? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/08/10/como-a-interdisciplinaridade-e-pensada-por-estagiarios-de-cursos-de-ciencias-da-natureza/

 

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