Desigualdade educacional no acesso ao ensino superior é marcada por aspectos estruturais étnico-raciais

Por Graciele Almeida de Oliveira, Assessoria de Imprensa, Fundação Carlos Chagas, São Paulo, São Paulo, Brasil

O artigo “As marcas da cor/raça no ensino médio e seus efeitos na educação superior brasileira” escrito por Amélia Artes e Sandra Unbehaum e publicado no periódico Educação e Pesquisa (vol. 47) traz uma análise quantitativa a partir de dados do IBGE para caracterizar o percurso e a participação da população negra da educação básica ao ensino superior brasileiro. O trabalho levou em conta uma análise inteseccional entre sexo e cor/raça, importante para se compreender as consequências estruturais e dinâmicas de interações sobre a sociedade (CRENSHAW, 2002). O estudo mostra que apesar da participação de estudantes negros no ensino superior ter aumento graças as conquistas de diferentes políticas de inclusão, ela ainda é distante da desejada. O percurso formativo dos jovens brasileiros a partir de diferentes marcadores sociais foram avaliados para dimensionar os desafios e dar subsídios para novas políticas públicas que visem a equidade e uma educação de qualidade para todos.

John Rawls (1992) associa a justiça à equidade e faz refletir sobre a necessidade e os desafios para uma educação justa e diversa. Nesse sentido, de acordo com as autoras, tratar do acesso equitativo nas diferentes etapas de educação formal relaciona-se de forma direta à concepção de justiça social (FRASER, 2002). A educação brasileira, marcada por desigualdades históricas, vem vivenciado mudanças relacionadas às ações afirmativas voltadas à população negra e consolidada nos últimos 15 anos. Ainda assim, de acordo com o estudo, em 2010, apesar de aumentada em relação à década anterior, a participação da população negra no ensino superior não chegava a um terço do alunado. Os homens negros representavam apenas 14,6% desse total, longe de representar a participação desse grupo na população brasileira.

A desigualdade observada no ensino superior é reflexo do percurso formativo dos jovens negros na educação básica, em especial o ensino Médio. A aprovação da Emenda Constitucional n. 59 (BRASIL, 2009), que passa a incluir as etapas de educação infantil e o ensino médio na obrigatoriedade de frequência, contribuiu para o aumento da frequência no ensino médio por homens e mulheres negras, mostrando o impacto de políticas públicas na equidade de acesso ao ensino médio.

O artigo mostra que o processo de desigualdade de acesso da população negra, em especial os jovens negros, ao ensino superior está relacionado as dificuldades encontradas em fases anteriores de suas formações. Os dados indicam que a desigualdade racial, entre brancos e negros, é uma marca na conclusão do ensino médio mais intensa do que apenas a relação entre homens e mulheres. Todos os dados corroboram para mostrar que um olhar interseccional é essencial para complexificar as evidências de acesso de jovens à educação e a implementação de uma justiça social.

Referências

BRASIL. Emenda Constitucional Nº 59, de 11 de Novembro de 2009. Brasília, DF: [s.n.], 2009.

CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Rev. Estud. Fem. [online]. 2002, vol. 10, no. 1, pp. 171 [viewed 2 September 2021]. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2002000100011. Available from: http://ref.scielo.org/wsqtsy

FRASER, N. Políticas feministas na era do reconhecimento: uma abordagem bidimensional da justiça de gênero. In: BRUSCHINI, C. and UNBEHAUM, S.G. (org.). Gênero, democracia e sociedade brasileira. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Editora 34, 2002

RAWLS, J. Justiça como eqüidade: uma concepção política, não metafísica. Lua Nova [online]. 1992, no. 25, pp. 25-59 [viewed 2 September 2021]. https://doi.org/10.1590/S0102-64451992000100003. Available from: http://ref.scielo.org/6jw2zd

Para ler o artigo, acesse

ARTES, A. and UNBEHAUM, S. As marcas de cor/raça no ensino médio e seus efeitos na educação superior brasileira. Educ. Pesqui. [online]. 2021, vol. 47, e228355, ISSN: 1678-4634 [viewed 2 September 2021]. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202147228335. Available from: http://ref.scielo.org/yws4tz

Links Externos

Educação e Pesquisa – EP: https://www.scielo.br/ep

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

DE OLIVEIRA, G.A. Desigualdade educacional no acesso ao ensino superior é marcada por aspectos estruturais étnico-raciais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/09/02/desigualdade-educacional-no-acesso-ao-ensino-superior-e-marcada-por-aspectos-estruturais-etnico-raciais/

 

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