O Centro da Lavoura e Comércio cafeeiro: contradições de um país escravagista nas grandes exposições internacionais

Wederson de Souza Gomes, Assistente de Comunicação da Revista Almanack, Doutorando em História na UFOP, Ouro Preto, MG, Brasil.

Texto "almanack" no canto superior esquerdo. Letras "e" e "a" estilizadas com um traço no meio.Em Os escravagistas nas “Festas da Modernidade”: o centro da lavoura e do comércio nas exposições internacionais (1880-1888), publicado na Almanack (nº 29), Mariana Muaze analisa a inserção do Brasil nas exposições internacionais oitocentistas. As exposições tinham como objetivo projetar as características que definiam cada nação e, no caso brasileiro, os eventos serviram para projetar o principal produto brasileiro no período, o café; além disso, intentava-se que o Brasil fosse visto pelas demais nações como uma nação ilustrada. Em meio às exposições foi possível observar a força que tinham os grandes cafeicultores e demais segmentos mercantis envolvidos com a atividade, assim como dos entraves entre as elites senhoriais e as legislações que ensejavam uma gradual redução da prática escravista; destacando-se a Lei do Ventre Livre do ano de 1871.

D. Pedro II participou da feira que ocorreu nos EUA, Filadélfia em 1876, e se apresentava como um monarca das luzes, apesar da contradição de o Brasil continuar a perpetuar um sistema escravista em um país que acabara de abolir a escravidão após uma guerra civil. As graves crises enfrentadas pelo Império do Brasil – Guerra do Paraguai, seca no Nordeste – fizeram com que a Coroa desistisse de continuar à frente das exposições. Assim, a função foi assumida pelo Clube da Lavoura de Campinas, mais tarde conhecido como Centro da Lavoura e do Comércio. A transição e a própria mudança do nome decorreram da imagem negativa da classe senhorial pela defesa da escravidão e isso afetava seus negócios no cenário internacional.

Figura 1. Samuel Boote. Exposição Continental 1882: seção brasileira. Quiosque para a distribuição grátis do café do Brasil, 1882. Buenos Aires, Argentina / Acervo Arquivo Nacional. 

As exposições foram reveladoras em demonstrar os conflitos entre a classe mercantil e a monarquia brasileira, haja vista que havia uma enorme pressão interna e do exterior para extinguir a escravidão no Brasil. O governo trabalhava com uma proposta de abolir a escravidão de forma gradual, enquanto os cafeicultores eram contrários a quaisquer medidas nesse sentido. Nesse contexto turbulento foi aprovada a Lei do Ventre Livre em 1871, ainda que com oposição dos escravagistas. Simultaneamente, ao adentrar a década de 1880, o discurso abolicionista ganhou força e os cafeicultores recorreram à Lei do Ventre Livre sob o argumento de a escravidão seria extinta naturalmente em um futuro próximo. Houve também o caso de outros proprietários que se apegaram à ideia da mão de obra imigrante para solucionar aqueles conflitos. Ademais, sabendo da inevitabilidade de se extinguir a escravidão, os cafeicultores e setores mercantis passaram a lutar pela abolição com indenização.

Por fim, a autora assevera que ao assumir o espaço deixado pelo Estado nas grandes exposições os proprietários de escravizados e produtores de café não apenas projetaram suas transações no exterior, como também ocuparam cargos no Estado e amealharam títulos de nobreza, além de construírem uma imagem pública de beneméritos em um contexto em que a classe senhorial enfrentava uma forte crise em decorrência da segunda escravidão.

Para ler o artigo, acesse

MUAZE, M. Os escravagistas nas “Festas da Modernidade”: o centro da lavoura e do comércio nas exposições internacionais (1880-1888). Almanack [online]. 2021, no. 29, ea00221 [viewed 11 janeiro 2022]. https://doi.org/10.1590/2236-463329ea00221. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/z5pn7jcLFxfVBgbdN36yfYk/?lang=pt

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

GOMES, W.S. O Centro da Lavoura e Comércio cafeeiro: contradições de um país escravagista nas grandes exposições internacionais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/02/14/o-centro-da-lavoura-e-comercio-cafeeiro-contradicoes-de-um-pais-escravagista-nas-grandes-exposicoes-internacionais/

 

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