As formigas do Parque Estadual São Camilo e a história de resiliência de um fragmento de Mata Atlântica

Natalia Ladino, doutoranda, Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil. 

Rodrigo Machado Feitosa, professor, Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

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Atualmente, grande parte da Mata Atlântica brasileira está representada por fragmentos de floresta pequenos e isolados, como resultado da grande redução em sua área original de extensão nas últimas décadas. Alguns desses fragmentos florestais estão em áreas protegidas do país. Uma das unidades de conservação estabelecidas para proteger este bioma no Paraná é o Parque Estadual São Camilo. O parque está inserido numa ampla matriz de uso antrópico no município de Palotina, e constitui um ponto estratégico de ligação com outras áreas preservadas de menor extensão no estado. Contudo, sua biodiversidade local enfrenta ameaças importantes, associadas especialmente com o avanço da fronteira agrícola e atividades humanas ilícitas no entorno e mesmo no interior do parque. Um dos primeiros passos para entender nosso impacto sobre os ecossistemas é a identificação dos organismos que os habitam, e, nesse sentido os inventários de espécies ainda são ferramentas cruciais para a obtenção desses dados.

Até recentemente, os esforços em reportar a diversidade biológica no parque têm se centrado em um restrito grupo de organismos: fungos, plantas, morcegos, abelhas e vespas. No entanto, as formigas são agentes essenciais em processos ecológicos, abundantes em biomassa, facilmente coletadas, altamente sensíveis a mudanças ambientais e com uma boa resolução taxonômica. Estas características tornam as formigas modelos biológicos muito relevantes na avaliação do estado de conservação de ecossistemas terrestres. Nesse contexto, no artigo Ants (Hymenoptera: Formicidae) of the Parque Estadual São Camilo, an isolated Atlantic Forest remnant in western Paraná, Brazil, elaboramos a primeira lista de espécies de formigas para o Parque Estadual São Camilo baseada em quatro técnicas de coleta.

Infográfico sobre as formigas do Parque Estadual São Camilo (Palotina, PR).

Imagem: Elaborada por N. Ladino.

Figura 1. Formigas (Hymenoptera: Formicidae) do Parque Estadual São Camilo, um remanescente isolado de Mata Atlântica no oeste do Paraná, Brasil.

Estabelecemos cinco pontos de coleta de formigas no parque durante a segunda semana de dezembro de 2020. As técnicas de coleta incluíram armadilhas de queda, extratores de serapilheira, captura manual em vegetação e solo e uma armadilha de interceptação de voo. O processamento das amostras foi feito na sede administrativa do parque e no Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Identificamos as formigas com o auxílio de ferramentas taxonômicas e a consulta a especialistas, e depositamos o material testemunho na coleção Padre Jesus Santiago Moure (DZUP) da UFPR.

Registramos 108 espécies de formigas, ampliando o número de gêneros e espécies conhecidas não só para o estado do Paraná como para toda a Região Sul do Brasil. Considerando as dimensões desta unidade de conservação e as pressões antrópicas que o parque vêm sofrendo, consideramos este número superior a 100 espécies um relevante indicativo da importância do Parque Estadual São Camilo como refúgio da biodiversidade na fronteira oeste da Mata Atlântica brasileira, e chamamos a atenção para a necessidade de sua preservação.

Vídeo 1. Evolução do entorno do Parque Estadual São Camilo ao longo do tempo, com detalhes de cobertura vegetal e expansão urbana.

Vídeo 2. Registro de um evento de migração de ninhos de Neoponera marginata (Formicidae: Ponerinae) em uma das trilhas do Parque Estadual São Camilo.

Referências

CORTEZ, V.G. and GONÇALVES, R.B. Guia da biodiversidade de Palotina. Curitiba: Editora UFPR, 2015.

LIRA, P.K., PORTELA, R.C.Q. and TAMBOSI, L.R. Land-Cover Changes and an Uncertain Future: Will the Brazilian Atlantic Forest Lose the Chance to Become a Hopespot? In: MARQUES, M.C.M. and GRELLE, C.E.V. (eds.) The Atlantic Forest. Springer Cham, 2021.

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RIBAS, C.R., et al. Ants as Indicators in Brazil: A Review with Suggestions to Improve the Use of Ants in Environmental Monitoring Programs. Psyche [online]. 2012, vol. 2012, 636749 [viewed 24 June 2022]. https://doi.org/10.1155/2012/636749. Available from: https://www.hindawi.com/journals/psyche/2012/636749/

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Para ler o artigo, acesse

LANDINO, N. and FEITOSA, R.M. Ants (Hymenoptera: Formicidae) of the Parque Estadual São Camilo, an isolated Atlantic Forest remnant in western Paraná, Brazil. Zoologia (Curitiba) [online]. 2022, vol. 39, e22001 [viewed 24 June 2022]. https://doi.org/10.1590/S1984-4689.v39.e22001. Available from: https://www.scielo.br/j/zool/a/P5GfcNvCmRtgrKvjnvg8Jss/?lang=en

Link(s)

Conheça os Parques do Paraná | Instituto Água e Terra: https://www.iat.pr.gov.br/Pagina/Conheca-os-Parques-do-Parana

Feitosa Lab | Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas: https://www.feitosalab.com/

Natalia Maritza Ladino López: https://bit.ly/3DtWlTf

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

LADINO, N. and FEITOSA, R.M. As formigas do Parque Estadual São Camilo e a história de resiliência de um fragmento de Mata Atlântica [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2022 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2022/06/24/as-formigas-do-parque-estadual-sao-camilo-e-a-historia-de-resiliencia-de-um-fragmento-de-mata-atlantica/

 

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