Revistas acadêmicas no campo científico de Administração: estrelas ou coadjuvantes?

Alketa Peci, Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Lilian Alfaia Monteiro, Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Juiz de Fora, MG, Brasil.

No artigo “Revistas Acadêmicas como agentes do campo científico de Administração” contextualizamos como o surgimento do campo de Administração como campo distinto de conhecimento respondeu à consolidação da reforma administrativa da Era Vargas e ao projeto industrial-desenvolvimentista em curso no País desde os anos 1930, e materializou-se pelo estabelecimento dos primeiros cursos de Administração a partir dos anos 1940 e 1950 (Barros & Carrieri, 2013). Em poucas décadas, esse campo prolifera numericamente em várias dimensões: milhares de cursos de graduação e dezenas de programas de pós-graduação (Bertero, 2003), fortalecimento de associações como a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), multiplicação de eventos acadêmicos e consolidação de critérios de avaliação institucional e individual que premiam ou punem a qualidade e a produtividade (Peci & Alcadipani, 2006). A dinâmica das revistas acadêmicas de Administração acompanha e reflete esse crescimento quantitativo do campo. As primeiras revistas surgem nos anos 1960 – RAUSP, RAP e RAE – e dominam a produção científica do campo por várias décadas. Essa produção começa a crescer gradualmente nas décadas de 1980-1990, mas o salto quantitativo dá-se a partir de 2000. Hoje existem mais de 300 revistas acadêmicas no campo de Administração (Rosa & Romani-Dias, 2019a). Pouco conhecemos, ainda, sobre como esses atores se posicionam no campo científico de Administração e como, ainda, se diferenciam entre eles.

As revistas acadêmicas cumprem uma dupla função: são os principais meios de comunicação da produção científica de um campo para seus membros internos (pesquisadores) e externos (mídia, sociedade); são, simultaneamente, agentes importantes do campo científico de Administração, ao lado dos pesquisadores, programas, associações e outros atores relevantes que marcam sua dinâmica.

Imagem: Mangostar por Shutterstock.

Tendo como recorte a área de Estudos Organizacionais, analisamos retoricamente 500 artigos científicos nacionais e internacionais, publicados nas revistas da área ao longo de seis décadas, e identificamos: a) como evoluem as revistas científicas do campo; b) quais são as principais estratégias de legitimação que sustentam o que é uma contribuição científica; c) como essas estratégias refletem o crescimento qualitativo e quantitativo do campo de Administração. Finalmente, analisamos os desafios impostos pelas métricas de internacionalização e defendemos que a contribuição das revistas acadêmicas no Brasil para o desenvolvimento do conhecimento em Administração precisa ser vista à luz do jogo de poder do campo, atualmente ameaçado pelo recorte de recursos públicos que sustentou sua expansão quantitativa ao longo das últimas décadas.

Referências

BARROS, A. and CARRIERI, A. Ensino superior em administração entre os anos 1940 e 1950: Uma discussão a partir dos acordos de cooperação Brasil-Estados Unidos. Cadernos EBAPE.BR [online]. 2013, vol.11, no.02, pp. 256-273 [viewed 12 May 2021]. https://doi.org/10.1590/s1679-39512013000200005 . Available from: http://ref.scielo.org/334m3n

BERTERO, C. O. A problemática educação de administradores.

RAE-Revista de Administração de Empresas [online]. 2003, vol. 43, no.02, pp. 10-10 [viewed 12 May 2021]. https://doi.org/10.1590/S0034-75902003000200002. Available from: http://ref.scielo.org/3g9n9v

PECI, A. and ALCADIPANI, R. Demarcação científica: Uma reflexão crítica. Organização & Sociedade [online]. 2006, vol.13, no.36, pp. 145-161 [viewed 27 April 2021]. https://doi.org/10.1590/s1984-92302006000100008 . Available from: http://ref.scielo.org/w6yc5d

ROSA, R. A. and ROMANI-DIAS, M. Indexação de periódicos e a política de avaliação científica: Uma análise do campo de administração, contabilidade e turismo no Brasil. International

Journal of Professional Business Review [online]. 2019a, vol.04, pp. 1-17 [viewed 27 April 2021]. https://doi.org/10.26668/businessreview/2019.v4i2.168 . Available from: http://openaccessojs.emnuvens.com.br/JBReview/article/view/168

Para ler o artigo, acesse

PECI, A.  and  MONTEIRO, L. A. ACADEMIC JOURNALS AS AGENTS OF THE SCIENTIFIC FIELD OF ADMINISTRATION. Rev. adm. empres. [online]. 2021, vol.61, no.03 [viewed 27 April 2021]. https://doi.org/10.1590/s0034-759020210306x. Available from: http://ref.scielo.org/rqjb6r

Links externos

RAE-Revista De Administração De Empresas – RAE: www.scielo.br/rae

Sobre as autoras

Alketa Peci

Possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade de Tirana, Master in International Business for Young Foreign Import-export Managers pela STOA/ICE, Itália, mestrado em Administração Pública pela EBAPE FGV e doutorado em Administração pela EBAPE FGV. É editora-chefe da RAP-Revista de Administração Pública e Diretora-Presidente da ANPAD. E-mail: alketa.peci@fgv.br

Lilian Alfaia Monteiro

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Administração Pública e Doutorado em Administração, ambos pela Fundação Getúlio Vargas. É professora na Universidade Federal de Juiz de Fora e tem interesse de pesquisa pelas áreas de Estudos Organizacionais, Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas. E-mail: lilian.alfaia@ufjf.edu.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PECI, A. and MONTEIRO, L. A. Revistas acadêmicas no campo científico de Administração: estrelas ou coadjuvantes? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/05/20/revistas-academicas-no-campo-cientifico-de-administracao-estrelas-ou-coadjuvantes/

 

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