Práticas educativas promovem funções executivas em contexto de vulnerabilidade social

Adriana Batista de Souza Koide, coordenadora dos Cursos de Letras e Pedagogia da Faculdade de Americana e gestora escolar na Prefeitura Municipal de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Jussara Cristina Barboza Tortella, docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Logo do periódico Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em EducaçãoFomentada pela desigualdade e pela pobreza, a vulnerabilidade social pode impactar negativamente na vida humana. As crianças que crescem em contextos vulneráveis podem ter conexões neurais menos fortalecidas em áreas cerebrais que envolvem consciência, julgamento e ética. Nesse sentido, ser pobre, ou socialmente vulnerável, não faz referência apenas a fatores financeiros, mas também à falta de diversas instâncias como precariedade ou inexistência de recursos como Educação, permanência na escola, saúde, alimentação, sono, ambiente saudável, dentre outros.

Avanços da neurociência indicam que tais consequências ganham novos contornos quando há estímulos para o cérebro em construção. A busca pela compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento infantil sob os impactos da vulnerabilidade social é um fato recente que se destaca com maior evidência nas últimas décadas do século XX.

O artigo Segura sua mão na minha: uma conexão entre neurociência e Educação publicado no periódico Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação (vol. 31, no. 119, pp. 1-25) retrata uma pesquisa que buscou compreender as possibilidades para melhorar o desempenho da aprendizagem em um contexto escolar de alta vulnerabilidade social por meio de práticas pedagógicas que desafiem as funções executivas.

Foto de uma criança e uma mulher em pé. Eles estão de mãos dadas na frente de uma mesa de plástico.

Imagem: arquivo pessoal das autoras.

Para a compreensão da temática principal da pesquisa, as autoras inicialmente realizaram um levantamento bibliográfico com os descritores – neurociência, aprendizagem, Ensino fundamental, práticas pedagógicas, pobreza, vulnerabilidade social, metodologias ativas, funções executivas e estratégias de Ensino – chegando a 60 estudos, sendo que apenas sete eram brasileiros, o que reforçou a pertinência da pesquisa. Estudos atuais sobre os temas vulnerabilidade social e pobreza, neurociência e educação, práticas pedagógicas são apresentados e discutidos na parte teórica do artigo.

A pesquisa, apresentada de forma didática, engloba três estudos interrelacionados, envolvendo formação docente, análise de habilidades do funcionamento executivo e das práticas pedagógicas. Sob o olhar de duas professoras polivalentes, foi analisada, no primeiro estudo, o desempenho da aprendizagem de 60 crianças participantes de 2 turmas do 3º ano do Ensino Fundamental I. Neste tópico o leitor poderá acompanhar o processo de formação das docentes, bem como a elaboração de um instrumento avaliativo construído de forma coletiva.

No segundo estudo temos descritos um instrumento para as avaliações (inicial e final) destinado à análise do processo de aprendizagem e das funções executivas e o processo de intervenção norteado por eixos que consideravam desafios com exercícios físicos, brincadeiras de rua, jogos de tabuleiro, rodas de conversa, meditação, atividades artísticas, labirintos, cruzadinhas, jogos cooperativos, jogo humano de damas, jogos digitais, enigmas e charadas (DIAMOND, LING, 2016; NCPI, 2016).

Por fim, o terceiro estudo ocorreu no período do advento do novo coronavírus, sendo que as pesquisadoras e os participantes da pesquisa buscaram a compreensão de possibilidades de melhoria para o desempenho da aprendizagem por meio de práticas que pudessem, também naquele momento, desafiar as funções executivas com foco nas metodologias ativas, a partir de aulas de forma remota. Neste tópico são retratados desafios e avanços, bem como a elaboração de um novo instrumento avaliativo, adequado às necessidades daquela realidade.

Em geral, os resultados dos três estudos sugerem que desafiar habilidades para a aprendizagem de uma criança pode implicar a sua capacidade em lidar com situações adversas dos ambientes vulneráveis, o que, por sua vez, pode modificar sua trajetória de vida.

Referências

DIAMOND, A. and LING, D.S. Conclusions about interventions, programs, and approaches for improving executive functions that appear justified and those that, despite much hype, do not. Developmental Cognitive Neuroscience [online]. 2016, vol. 18, pp. 34-49 [viewed 5 July 2023]. https://doi.org/10.1016/j.dcn.2015.11.005. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1878929315300517

NCPI. Núcleo Ciência pela Infância – Comitê Científico. Funções executivas e desenvolvimento na primeira infância: habilidades necessárias para a autonomia. São Paulo: Fundação Maria Cecílaia Souto Vidigal, 2016.

Para ler o artigo, acesse

KOIDE, A.B.S. and TORTELLA, J.C.B. Segura sua mão na minha: uma conexão entre neurociência e Educação. Ensaio: aval. pol. públ. educ. [online]. 2023, vol. 31, no. 119, e0233805 [viewed 5 July 2023]. https://doi.org/10.1590/S0104-40362023003103805. Available from: https://www.scielo.br/j/ensaio/a/tgWJnRWc8sgkVFtCDSWGPfS/

Links externos

Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação – ENSAIO: https://www.scielo.br/ensaio

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

KOIDE, A.B.S. and TORTELLA, J.C.B. Práticas educativas promovem funções executivas em contexto de vulnerabilidade social [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/07/05/praticas-educativas-promovem-funcoes-executivas-em-contexto-de-vulnerabilidade-social/

 

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