Manoel Messias Santos Alves, Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (PPGED-UFS), Aracaju, Sergipe, Brasil.
As tecnologias têm um papel fundamental na vida das pessoas, principalmente no que diz respeito às formas de comunicação e à rápida disseminação de informações. Mas para que esses e outros benefícios sejam consolidados é necessário que os usuários as utilizem de maneira ética, qualificada e reflexiva nas diferentes práticas sociais.
Nesse sentido, o artigo Desenvolvimento e validação de um instrumento de identificação de vulnerabilidade digital (Q-IVD) para estudantes da Educação Básica, publicado no periódico Educação em Revista, vol. 39 (2023). O artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de Doutorado em Educação que teve como a validação de um instrumento, denominado de Q-IVD, com a finalidade de identificar níveis de vulnerabilidade digital entre o público adolescente, mediante respaldo de professores/pesquisadores que trabalham e desenvolvem estudos relacionados ao uso das tecnologias digitais e formação docente.
O referido estudo foi desenvolvido pelo autor e demais pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia (NUCA) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em meio ao cenário pandêmico marcado pelo Ensino Remoto Emergencial (ERE) vivenciado por professores e estudantes do Ensino Médio da rede estadual de educação de Sergipe.
É inegável que as tecnologias digitais proporcionam uma série de benefícios para a população, como interatividade globalizada, conforto, possibilidades de trabalho e estudo, entretenimento e demais facilidades para seus usuários. Entretanto, não podemos negligenciar que elas podem também, em algum momento, se mostrar prejudiciais em várias dimensões da vida humana.
Imagem: Adaptada pelos autores (2022) com base cartográfica do IBGE.
Figura 1: Distribuição das Diretorias Regionais da Rede Estadual de Sergipe.
O uso de tecnologias digitais pode inclusive chegar ao ponto de comprometer a saúde física e mental por meio da dependência patológica, causando conflitos pessoais e sociais e até mesmo provocarem ou agravarem alguns transtornos emocionais, como a ansiedade, se seu uso ocorrer de maneira abusiva e descontrolada, algo que tem se tornado comum entre o público adolescente (KING; NARDI; SILVA, 2014; ALVES, 2023).
Nesse contexto, o artigo publicado apresenta a sistematização das etapas do processo de desenvolvimento e validação do Q-IVD, especificamente a validação de conteúdo, por meio do método Delphi e perante um grupo juízes especialistas que puderam avaliar o questionário até que o mesmo alcançasse o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) satisfatório em todas as questões.
Além desses juízes, contamos também com a colaboração de um grupo de estudantes que realizaram a análise semântica das questões. Após a concretização dos processos de validação de conteúdo, o Q-IVD foi submetido à aplicação-piloto em quatro escolas estaduais situadas em Sergipe, totalizando a participação de 147 estudantes do 3º ano do Ensino Médio.
Mediante a realização de testes e análises estatísticas, sobretudo com coeficiente alpha de Cronbach = 0,821, considerado satisfatório pela literatura, ficou evidenciado a existência de consistência interna do Q-IVD. Após respondido, os resultados poderão ser estabelecidos de duas formas de acordo com a pontuação obtida, “geral” e “por categorias”, com os seguintes níveis de indicativos de vulnerabilidade digital: ausência de vulnerabilidade; vulnerabilidade leve; vulnerabilidade moderada; e alta vulnerabilidade.
Para fins de divulgação, apresentamos na Figura a seguir, uma imagem acompanhada de um QR Code que dará acesso ao protótipo da versão digital do Q-IVD compatível com diferentes interfaces e dispositivos digitais.
Imagem: elaborada pelos autores.
Convém ressaltar que o propósito do desenvolvimento e da validação do Q-IVD não foi se mostrar contrário aos avanços tecnológicos. Pelo contrário, justamente por reconhecermos e valorizarmos os importantes benefícios advindos das tecnologias no decorrer do desenvolvimento da humanidade, sobretudo na educação, na saúde e na ciência, assim como o aumento acentuado do número de pessoas que estão cada vez mais imersas no ciberespaço, consideramos relevante investigar também os possíveis aspectos negativos provenientes do uso inadequado dos recursos tecnológicos, como indicativos de vulnerabilidade digital perante os adolescentes.
De maneira geral, acreditamos que esse instrumento tem notável relevância para o âmbito educacional, visto que ajudará na ampliação de debates e reflexões acerca do quanto o letramento digital docente se faz cada vez mais necessário para que os professores possam direcionar e promover o uso consciente e saudável das tecnologias digitais pelos estudantes.
Assim, esperamos que o Q-IVD contribua para refletir e analisar a cultura digital dos jovens, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento de um senso crítico apurado para decodificar e compreender as diferentes linguagens midiáticas veiculadas e compartilhadas no ciberespaço, assim como incentivar o uso consciente, responsável e saudável das tecnologias.
Referências
ALVES, M.M.S. Tecnologias móveis para formação docente: validação de um instrumento de identificação de vulnerabilidade digital. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2023.
KING, A.L.S., NARDI, A.E. and SILVA, A.C. Nomofobia: dependência do computador, internet, redes sociais? Dependência do telefone celular? O impacto das novas tecnologias no cotidiano dos indivíduos. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
ALVES, M.M.S. Questionário validado permite identificação de vulnerabilidade digital entre os adolescentes [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/02/26/questionario-validado-permite-identificacao-de-vulnerabilidade-digital-entre-os-adolescentes/
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