Dra. Veronica Slobodian, professora da Universidade de Brasília, Brasília-DF.
O artigo “Why we shouldn’t blame women for gender disparity in academia: perspectives of women in zoology” publicado na edição 38 do periódico Zoologia, surgiu de uma inquietação após vermos publicado na Nature Communications, no final de 2020, um artigo argumentando que mulheres cientistas deveriam ter orientadores homens, porque orientadoras mulheres prejudicam o impacto e a carreira de suas orientandas. Na época, muitos grupos de cientistas discutiram o assunto: era um ultraje culpar mulheres cientistas pelas desvantagens da vida acadêmica. Portanto, resolvemos unir mulheres da área de Zoologia (a área da Biologia que estuda os animais) para escrever uma resposta. Formamos então uma rede que aponta alguns dos motivos pelos quais mulheres cientistas sofrem desvantagens ao longo de suas carreiras e propusemos soluções para diminuir essa desigualdade.
Mas por que unir Zoólogas? Enquanto algumas áreas da Biologia apresentam um número relativamente grande de mulheres em formação e como professoras nas universidades (como é o caso de algumas áreas da biologia molecular), a Zoologia ainda vive uma disparidade de gênero muito grande: muitas mulheres iniciam seus estudos nessa área, mas desistem no caminho; e aquelas que continuam sofrem muito com a falta de reconhecimento (não são convidadas para serem palestrantes em eventos, para comporem bancas de avaliação de mestrado/doutorado, são menos convidadas a compor equipes de projetos, etc). Embora várias pesquisadoras ainda estejam investigando o cenário desta desigualdade, vários motivos já vêm sendo apontados e todos eles convergem para um ponto: como cientistas estão inseridos em uma sociedade machista, eles reproduzem estas condutas.
Mulheres cientistas são muito menos reconhecidas pelos seus feitos acadêmicos (termo cunhado como “Efeito Matilda”). Mulheres cientistas sofrem muito mais assédios durante suas carreiras: morais, sexuais e intelectuais. Na Zoologia, é muito comum que cientistas viagem para o meio de florestas, matas e rios para coletar seus animais de estudo, e também é muito comum que sofram com assédio nessas ocasiões: desde serem tidas como incompetentes para o trabalho até situações constrangedoras de assédio sexual.
Além disso, assim como a maioria das mulheres, as cientistas ainda têm uma segunda jornada muito demandante: elas são, geralmente, desproporcionalmente sobrecarregadas com afazeres domésticos e cuidados com a família, principalmente as que são mães cientistas.
Em suma, as mulheres cientistas passam por muito mais situações de preconceito e desvantagens ao longo de suas carreiras que seus colegas homens. Dessa forma, as mulheres que conseguem se manter na carreira científica fazem isso apesar das inúmeras situações que as deixam em desvantagem. Não é uma situação equilibrada. Por isso, se uma mulher cientista não conseguir dar condições suficientes de sucesso às suas orientadas tanto quanto homens cientistas conseguem, não é uma falha inerente à mulher: é um problema sistemático. E deve ser combatido como tal.
Para combater esse problema sistemático, há diversas redes de mulheres que se formaram nos últimos anos. De maneira geral, nós percebemos que nossas desvantagens e as estratégias usadas para superá-las são semelhantes. Por isso, resolvemos nos unir formando a rede de Mulheres na Zoologia. Nosso objetivo é direcionar esforços para entender a disparidade de gênero nesta área do conhecimento e pensar em estratégias para superá-la. Queremos uma ciência mais diversa e inclusiva pois entendemos que é justo, e porque diversos estudos apontam que ambientes mais diversos geram resultados mais promissores.
Nosso artigo conta com o apoio de quase 600 signatários até o momento: mulheres e homens cientistas que apoiam uma ciência mais diversa e inclusiva. Mas não paramos por aqui. Não descansaremos em nossas propostas e em dar apoio às mulheres cientistas, pois queremos que as futuras meninas que se interessem em ciência possam ser cientistas e ocuparem os lugares que quiserem. Como juntas somos mais fortes, estamos abertas para novas pessoas que queiram contribuir com esse projeto. Quem se interessar, nos acompanhe no Instagram @mulheresnazoologia.
Para ler o artigo, acesse
SLOBODIAN, V. et al. Why we shouldn’t blame women for gender disparity in academia: perspectives of women in zoology. Zoologia [online]. 2021, vol. 38, pp. 01 – 09 [viewed 08 March 2021]. https://doi.org/10.3897/zoologia.38.e61968. Available from: http://ref.scielo.org/jbz9kj
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