Como restabelecer funcionalmente a parede abdominal?

Por André Vicente Bigolin, Doutorando, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Renan Trevisan Jost e Rafaela Franceschi, Cirurgia do Aparelho Digestivo, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Logo do periódico ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo)

A parede abdominal anterolateral é formada por músculo reto abdominal, músculos oblíquos interno e externo e músculo abdominal transverso e suas aponeuroses. Esses músculos desempenham papel fundamental entre os outros 26 pares de músculos que compõem o core (JOHANSSON; GUNNARSSON; STRIGARD, 2011; PARKER et al., 2011). Esse sistema muscular suporta as regiões abdominal e lombopélvica, estabilizando a coluna e a pelve e mantendo a organização cinética durante o movimento funcional.

Ao funcionar adequadamente, promove não apenas a força, mas também a estabilidade. Qualquer dano estrutural ou neurológico nesse sistema musculoaponeurótico pode prejudicar a qualidade de vida. Esses efeitos são claros em pacientes com hérnia incisional. Nos Estados Unidos, 3,2 bilhões de dólares foram gastos somente no tratamento da hérnia ventral em 2006. Na França, esses custos foram estimados em aproximadamente 84 milhões de euros em 2011.

O objetivo do estudo “What is the best method to assess the abdominal wall? Restoring strength does not mean functional recovery”, publicado no periódico ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (vol. 33, no. 1), foi determinar valores padronizados de sinais de ativação para os músculos da parede abdominal anterolateral durante exercícios isométricos e isocinéticos, validá-los no Biodex e correlacionar esses resultados com dados de torque obtidos durante a execução dos exercícios mencionados.

Em uma revisão da literatura, foram encontrados 87 estudos envolvendo EMGs e músculos da parede abdominal entre 1950 e 2008 (KUMAR; NARAYAN; GARAND, 2003). Variabilidade entre os testes, descrições técnicas ruins, amostras pequenas, sem descrição do nível de atividade física dos indivíduos avaliados e técnicas não padronizadas de captura e processamento de sinais foram alguns dos problemas observados.

Com esse instrumento, a cinética é controlada (isocinético) e a força de contração abdominal é convertida em torque (em Newtons por segundo). A eletromiografia de superfície (EMGs), também denominada eletromiografia cinética, devido à sua capacidade de avaliar a ativação muscular durante o movimento, é comumente usada na análise de treinamento e reabilitação dos músculos do core e em pacientes com lombalgia.

Imagem: BIGOLIN, et al. (2020).

Figura 1. Colocação dos eletrodos para eletromiografia de superfície sem fio (EMGs) dos músculos reto abdominal, oblíquo externo e transverso/oblíquo interno. Foi mantida distância de 2 cm entre os centros.

No entanto, ainda há debate sobre até que ponto a função muscular pode ser restabelecida e o quanto isso é clinicamente relevante para a vida diária do paciente. Como a recorrência foi significativamente reduzida com o advento do reparo com tela, o foco mudou para novos desfechos de qualidade de vida. Em 2011, um grupo de pesquisadores validou o dinamômetro eletrônico BiodexMulti-Joint System 4 Pro.

Referências

JOHANSSON, M.; GUNNARSSON, U.; STRIGARD, K. Different techniques for mesh application give the same abdominal muscle strength. Hernia [online]. 2011, vol. 15, pp. 65-68 [viewed 4 September 2020]. DOI: 10.1007/s10029-010-0745-1. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s10029-010-0745-1

KUMAR, S., NARAYAN, Y. and GARAND, D. An electromyographic study of isokinetic axial rotation in young adults. Spine J. [online]. 2003, vol. 3, no. 1, pp. 46-54, ISSN: 1529-9430 [viewed 4 September 2020]. DOI: 10.1016/S1529-9430(02)00447-3. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1529943002004473

PARKER, M., et al. Pilot study on objective measurement of abdominal wall strength in patient swith ventral incisional hernia. Surg Endosc. [online]. 2011 vol. 25, no. 11, pp. 3503-3508 [viewed 4 September 2020]. DOI: 10.1007/s00464-011-1744-8. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00464-011-1744-8

Para ler o artigo, acesse

BIGOLIN, A.V., et al. What is the best method to assess the abdominal wall? Restoring strength does not mean functional recovery. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2020, vol. 33, no. 1, e1487. ISSN: 2317-6326 [viewed 4 September 2020]. DOI: 10.1590/0102-672020190001e1487. Available from: http://ref.scielo.org/vgk9qc

Links externos

ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo) <http://www.scielo.br/abcd>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BIGOLIN, A.V., JOST, R.T. and FRANCESCHI, R. Como restabelecer funcionalmente a parede abdominal? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2020 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2020/09/04/como-restabelecer-funcionalmente-a-parede-abdominal/

 

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