Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Oliveira e Pinheiro, em seu artigo Mudanças nos comportamentos de saúde em idosos brasileiros: dados das Pesquisa Nacional de Saúde 2013 e 2019, publicado na Ciência & Saúde Coletiva (vol. 29, no. 11, 2023), analisaram as mudanças de comportamento e estilo de vida dos idosos no Brasil. A pesquisa compara dados de 2013 e 2019 das pessoas acima de 65 anos. Em 2013, 7.712 dessas pessoas foram ouvidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS-2013). Em 2019, na PNS-2019, o número de entrevistados aumentou para 15.926 idosos.
Por meio de um estudo transversal, os autores compararam estimativas de prevalência de alguns hábitos relacionados ao estilo de vida: tabagismo atual e passado; uso abusivo de álcool; prática de atividade física; consumo de frutas e vegetais ou legumes. É importante ressaltar que todos os comportamentos positivos de saúde aumentaram significativamente no período. Foram observadas melhorias significativas no consumo de frutas e de vegetais ou legumes, bem como a cessação do uso de fumo. A prática de atividades físicas prevaleceu nas capitais.
Entretanto, apesar das melhorias gerais, alguns desafios específicos persistem. Os homens idosos continuam a ser os maiores usuários abusivos de fumo e álcool nas grandes cidades e no interior. Entre as mulheres idosas mais jovens também se elevou significativamente o uso abusivo de álcool. Em contrapartida, mulheres, proporcionalmente, aumentaram mais o consumo de frutas, verduras e legumes.
Embora desigualdades de renda, de gênero e entre os segmentos de idade, de forma individual ou coletivamente, estejam presentes na adoção de modos de vida saudáveis (Scwarcwald et al., 2023), as análises da PNS-2019 não mostraram diferenças estaticamente significativas na distribuição por cor/raça, escolaridade e renda.
Por que é importante acompanhar esses dados? Porque o Brasil apresenta um dos processos mais dinâmicos de envelhecimento populacional no mundo (Kessler et al., 2020; Jentsch et al., 2017; Sousa et al., 2020; Oliveira et al., 2014). E qualquer bom geriatra vai dizer que, afora os medicamentos de uso contínuo (se por acaso forem necessários), concomitantemente, a pessoa idosa precisa cuidar de seu estilo de vida: exercícios físicos, atividades com propósito, relacionamentos saudáveis, alimentação adequada, descanso e lazer. As doenças crônicas que espreitam os longevos, frequentemente podem ser controladas com bons hábitos e medicamentos. Por isso, é importante combinar recomendações gerais com comportamentos individuais saudáveis, no contexto em que as pessoas vivem.
Em resumo, os resultados deste estudo apresentam importantes mudanças na prevalência e distribuição dos comportamentos saudáveis de saúde em idosos brasileiros entre as PNS 2013 e 2019. Houve um aumento na adesão a comportamentos positivos (consumo de frutas, verduras ou legumes, atividade física, lazer e cessação do fumo), mas, também, prevalecem hábitos negativos (consumo abusivo de álcool) e estabilidade dos níveis de tabagismo. As mudanças são concordantes com estudos anteriores, que descreveram melhora ao longo dos anos das estimativas de comportamentos de saúde positivos na população geral brasileira. Entre os idosos, as maiores diferenças foram em relação às localidades, interior e capital, e entre mulheres e homens.
Os resultados mostram uma melhora geral, mas desigual, sobretudo entre homens e mulheres, entre capitais, cidades menores e interior. Isso significa que o esforço da área de promoção da saúde precisa se intensificar e se capilarizar (Santana et al., 2014; Flores et al., 2016). É fundamental investir nesse segmento da população para evitar sua perda da autonomia, o pior que pode lhe acontecer do ponto de vista do estilo de vida. Pois, ser uma pessoa dependente – aspecto não estudado nesta pesquisa – significa a necessidade de cuidados de terceiros e uma qualidade de vida muito pior. Todos os estudos sobre os idosos dependentes mostram que eles são os que mais sofrem e são alvo de violência física, psicológica, negligência e violência patrimonial. Esse é um dos principais motivos para assisti-los com os cuidados necessários e para investir no envelhecimento ativo.
Referências
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Para ler o artigo, acesse
OLIVEIRA, B.L.C.A. and PINHEIRO, A.K.B. Mudanças nos comportamentos de saúde em idosos brasileiros: dados das Pesquisa Nacional de Saúde 2013 e 2019. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2023, vol. 28, no. 11, pp. 3111–3122 [viewed 01 December 2023]. https://doi.org/10.1590/1413-812320232811.16702022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/mBJxsStQxTxQrsFkXnyG89S/
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