Por Hugo Fernandes, Professor adjunto, Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Havia lacunas sobre a associação da violência com a vulnerabilidade ao HIV em jovens homens que fazem sexo com homens. Porém, de acordo com o estudo publicado em outubro de 2017 na Revista Acta Paulista de Enfermagem (vol. 30, no. 4), jovens homossexuais e bissexuais com idades entre 13 e 24 anos soroconvertidos pelo HIV e acompanhados pelo Hospital São Paulo da UNIFESP, sofreram ao longo da infância ou adolescência situações de violência que, de algum modo, provocaram aumento de suas precondições de vulnerabilidade.
As situações violentas relatadas foram agrupadas em categorias como a homofobia, o bullying, a violência familiar, a sexual e a institucional.
Ambientes insalubres e agressivos afetam negativamente a saúde de jovens homossexuais, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, provocando isolamento e silêncio em torno da sexualidade, e colocando-os em risco de infecção pelo HIV (JEFFRIES, et al., 2017). A alta prevalência de violência familiar, sexual e institucional implica em mudanças na significação dos poderes interpessoais, na socialização e no autoconhecimento, no autojulgamento (RIBEIRO, et al., 2015; LI, et al., 2017).
Os jovens deste estudo revelaram histórico prolongado de homofobia e bullyng em sua trajetória. A sociedade os percebe como diferentes do padrão imaginário coletivo de masculinidade. A imagem social de pessoas inferiores aos demais fez com que sofressem situações percebidas como ainda mais violentas, especialmente o abuso sexual, as agressões familiares e a violência institucional, praticada na escola e em nome da religião. Em meio a este contexto, a busca de apoio e compreensão foi tentada, mas o encontrado foi débil, sendo, por vezes, ofertada por profissionais como enfermeiros e psicólogos após a descoberta da infecção pelo HIV.
Como forma de enfrentamento os jovens entregaram-se intensamente nos relacionamentos sexuais e afetivos onde a paixão, o erotismo e o carinho mostravam-se como “tábua de salvação”. Todos os jovens se soroconverteram ao HIV ao abandonar o uso de sexo protegido nas relações estáveis.
A equipe de pesquisadores pretende ampliar a investigação por etapas, iniciando pela violência familiar onde serão investigados os possíveis recursos e tecnologias atuais que minimizem essa condição.
Referências
JEFFRIES, W. L. 4th, et al. Unhealthy environments, unhealthy consequences: Experienced homonegativity and HIV infection risk among young men who have sex with men. Glob Public Health [online]. 2017 vol. 12, no. 1, pp. 116-129, ISSN: 1744-1706 [viewed 7 November 2017]. DOI: 10.1080/17441692.2015.1062120. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26251185
LI, M. J., et al. Contextualising family microaggressions and strategies of resilience among young gay and bisexual man of Latino heritage. Cult Health Sex. [online]. 2017, vol. 19, no. 1, pp. 107-120, ISSN: 1464-5351 [viewed 7 November 2017]. DOI: 10.1080/13691058.2016.1208273. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27426889
RIBEIRO, I. M. P., et al. Prevalência das várias formas de violência entre escolares. Acta paul. enferm. [online]. 2015, vol. 28, no. 1, pp. 54-59, ISSN: 0103-2100 [viewed 7 November 2017]. DOI: 10.1590/1982-0194201500010. Avaliable from: http://ref.scielo.org/5fmm2c
Para ler o artigo, acesse:
FERNANDES, Hugo, et al. Violência e vulnerabilidade ao HIV/AIDS em jovens homossexuais e bissexuais. Acta paul. enferm. [online]. 2017, vol. 30, no. 4, pp. 390-396, ISSN: 1982-0194 [viewed 7 November 2017]. DOI: 10.1590/1982-0194201700058. Available from: http://ref.scielo.org/454yn7
Link externo
Acta Paulista de Enfermagem – APE: <http://www.scielo.br/ape>
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