Por Bruna Pedrosa, Residente em Odontopediatria, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, Recife, PE, Brasil
O artigo “Conhecimento dos pais de crianças oncológicas em saúde bucal”, publicado na Revista Gaúcha de Odontologia (vol. 67), demonstra o conhecimento dos pais de crianças com câncer, atendidas no setor de Oncologia Infantil do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP. A maioria dos pais tem conhecimento da situação de saúde bucal e dos fatores que podem influenciá-la, o que é essencial para promover mudanças de comportamento que levem a atitudes positivas em relação aos cuidados com a mesma, principalmente em grupos de risco como no caso de pacientes oncológicos, porém não colocam em prática.
Isso demonstra a necessidade de conscientização dos benefícios da manutenção de uma boa saúde bucal para que esse conhecimento se transforme em atitudes positivas, minimizando assim o sofrimento dessas crianças. É preciso maior esclarecimento por parte dos cirurgiões-dentistas sobre os cuidados relacionados a esses pacientes, principalmente no sentido de melhorar o acesso ao tratamento odontológico.
Foi realizado um estudo de corte transversal, no período de maio a setembro de 2016, com amostra de 163 pais/responsáveis de crianças acompanhadas pelo setor de Oncologia Pediátrica do IMIP, Recife/PE.
A pesquisa foi realizada com a aplicação de um formulário elaborado conforme as variáveis do estudo, dirigido aos pais/responsáveis, pela pesquisadora, durante o acompanhamento dos pacientes internados nas enfermarias ou enquanto aguardavam consulta médica no ambulatório do Setor de Oncologia Pediátrica da instituição. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de acordo com a Resolução 466/2012, com parecer sob o número 1.967.956.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), para o biênio 2016/2017 estima-se cerca de 12.600 novos casos, onde a maioria será nas regiões Sudeste (6050) e Nordeste (2750) (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2016). Na leucemia, que representa a causa de 50% das crianças que vão a óbito por câncer, a boca comumente é comprometida, as manifestações estomatológicas podem estar presentes no estágio inicial da doença e aumentar a sua intensidade quando instituída a terapia antileucêmica, como consequência da imunossupressão (SANTOS; ANBINDER; CAVALCANTE, 2003). Na presença de infecções de origem odontogênica e/ou periodontal prévias à quimioterapia e/ou radioterapia nos pacientes que usualmente não mantém uma boa higiene bucal, o risco de desenvolvimento das infecções orais é potencializado, podendo ocorrer uma disseminação por via hematogênica, comprometendo dessa forma outros órgãos, durante os períodos de mielossupressão induzida pela quimioterapia. Portanto, é necessário salientar que muitas crianças, antes mesmo de começar o tratamento, possuem vários problemas bucais, os quais podem até provocar a interrupção do tratamento oncológico (RIBEIRO; VALENÇA; BONAN, 2016).
A prevenção de doenças bucais em crianças e adolescentes sob tratamento oncológico é importante, visto que lesões bucais decorrentes dessa terapia agravam consideravelmente a condição clínica e o risco de infecção, e ainda dificultam a atuação odontológica quando é necessária realizá-lo (BARBOSA; RIBEIRO; CALDO-TEIXEIRA, 2010; SANTOS; ANBINDER; CAVALCANTE, 2003).
A odontologia, aplicada ao paciente oncológico pediátrico, exerce papel fundamental na manutenção da saúde geral e, consequentemente, na qualidade de vida dessas crianças (SASADA, et al., 2015). As más condições de saúde bucal são fatores etiológicos determinantes não só das intercorrências estomatológicas, mas das sistêmicas, podendo levar o paciente a óbito (ROCHA, 2016).
Referências
BARBOSA, A.M., RIBEIRO, D.M. and CALDO-TEIXEIRA, A.S. Conhecimentos e práticas em saúde bucal com crianças hospitalizadas com câncer. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2010, vol. 15, suppl.1, pp. 1113-1122, ISSN: 1413-8123 [viewed 10 May 2019]. DOI: 10.1590/S1413-81232010000700019. Available from: http://ref.scielo.org/6rvd82
INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER – INCA. Estimativa 2016: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer, 2016.
RIBEIRO, I.L.A., VALENÇA, A.M.G. and BONAN, P.R.F. Odontologia na oncologia pediátrica. João Pessoa: Ideia, 2016.
ROCHA, R.S., et al. Determinantes sociais da saúde e qualidade de vida de cuidadores de crianças com câncer. Rev. Gaúcha Enferm [online]. 2016, vol. 37, no. 3, e57954, ISSN: 1983-1447 [viewed 10 May 2019]. DOI: 10.1590/1983-1447.2016.03.57954. Available from: http://ref.scielo.org/ypx92m
SANTOS, V.I., ANBINDER, A.L. and CAVALCANTE, A.S.R. Leucemia no paciente pediátrico: atuação odontológica. Cienc Odontol Bras [online]. 2003, vol. 6, no. 2, pp. 49-57, ISSN: 2178-6011 [viewed 10 May 2019]. DOI: 10.14295/bds.2003.v6i2.325. Available from: http://bds.ict.unesp.br/index.php/cob/article/view/325
SASADA, I.N.V., et al. Prevenção de intercorrências estomatológicas em oncologia pediátrica. RFO UPF [online]. 2015, vol. 20, no. 1, pp. 105-109, ISSN: 1413-4012 [viewed 10 May 2019]. Available from: http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-40122015000100019&lng=pt&nrm=iso
Para ler o artigo, acesse
PEDROSA, B.R.V., et al. Parents’ knowledge about the oral health care of oncological children. Rev. Gaúch. Odontol. [online]. 2019, vol. 67, e2019008, ISSN: 1981-8637 [viewed 10 May 2019]. DOI: 10.1590/1981-86372019000083605. Available from: http://ref.scielo.org/tg5qm8
Link externo
INCA – Instituto Nacional do Câncer <https://www.inca.gov.br/>
Oncologia Infantil Nordeste <http://www.oncologiainfantilnordeste.com.br/>
Oncologia Pediátrica <http://www1.imip.org.br/imip/assistenciaesaude/saudedacrianca/oncologiapediatrica.html>
RGO – Revista Gaúcha de Odontologia: <http://www.scielo.br/rgo>
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