Por Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe e Luiza Gualhano, Assistente de comunicação, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Kydja M.S.T. de Araújo e colaboradores, no artigo “Avaliação da qualidade de vida de pessoas idosas com HIV assistidas em serviços de referência no Recife”, publicado no periódico Ciência & Saúde Coletiva (vol. 25, no. 6), se dedicam a analisar a situação de saúde das pessoas idosas brasileiras, destacando sobre aquelas que vivem com HIV/AIDs. O cruzamento entre a transição demográfica e a transição epidemiológica que atinge a população idosa brasileira vem marcado pelo aumento de doenças crônicas não transmissíveis e de outros agravos menos estudados, como é o caso da AIDS cujo número de contaminados tem aumentado nesse grupo etário. A infecção pelo HIV em pessoas mais velhas é um sério problema de saúde pública. Principalmente porque os idosos são, em geral, biológica, física e psicologicamente mais vulneráveis e socialmente invisíveis em relação à exposição ao risco.
A vivência com AIDS no envelhecimento significa mais que uma doença, é um problema social de grandes dimensões, uma vez que impacta princípios morais, éticos e religiosos (KYDJA et al., 2020). Há uma negação na sociedade e dentro das famílias em particular, de ver a pessoa idosa como um ser sexualmente ativo. Essa negação se constata na maior parte dos programas destinados a esse público que privilegia de forma abstrata sua socialização. Nos lares, existe uma tendência de reprimir e considerar imprópria qualquer relação amorosa deles, particularmente quando se tornam viúvos ou se separam. Portanto, viver com AIDS representa para o idoso, além de enfrentar dificuldades impostas pela condição sorológica, conviver com uma doença estigmatizada, sem cura e regida pelo preconceito (ANDRADE et al., 2010).
O estudo ouviu 241 idosos, sendo 151 (62,7%) homens e 90 (37,3%) mulheres, com idade entre 60 e 84 anos, alguns com até 30 anos de tratamento e outros recebendo cuidado apenas a cinco, seis meses (média de 12 anos) em Recife, PE. Ao contrário do que se poderia supor, a pesquisa mostra satisfação por parte desse grupo de pessoas, nos seus aspectos existenciais em geral e, em particular, quanto ao atendimento e tratamento de saúde e de acesso à medicação. Os dados sobre os homens são mais positivos em todos os aspectos, quando comparados com os das mulheres, essas, geralmente contaminadas por seus parceiros (AGUIAR et al., 2020). Uma informação relevante é que os homens aqui analisados têm poucos anos de estudo, são solteiros, viúvos e casados, e as mulheres se destacam no grupo das pessoas analfabetas, casadas e viúvas. A maioria dessa população (61%) é de cor parda. É claro, os dados dizem respeito às pessoas que se tratam no serviço de referência.
O quadro aqui apresentado — ainda que referido às representações sociais sobre uma insidiosa doença como a AIDS — mostra que o comportamento sexual das pessoas idosas vai rompendo barreiras culturais, o que acompanha o envelhecimento dos indivíduos que vivenciaram a revolução de costumes dos anos 1960. É preciso dizer, no entanto, que os homens estão muito mais abertos às mudanças que a maioria das mulheres idosas ouvidas: boa parte, contaminada pelo parceiro, vivência grande decepção, angústia e medo do preconceito social.
Referências
ANDRADE, H.A.S., SILVA, S.K. and SANTOS, M.I.P.O. Aids em idosos: vivências dos doentes. Esc. Anna Nery [online]. 2010, vol. 14, no. 4, pp. 712-719, ISSN: 1414-8145 [viewed 8 June 2020]. DOI: 10.1590/S1414-81452010000400009. Available from: http://ref.scielo.org/c2t9p4
AGUIAR, R.B., LEAL, M.C.C. and MARQUES, A.P.O. Conhecimento e atitudes sobre sexualidade em pessoas idosas com HIV. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 6, pp. 2051-2062, ISSN: 1678-4561 [viewed 8 June 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020256.18432018. Available from: http://ref.scielo.org/3spwm2
Para ler os artigos, acesse
Ciênc. saúde coletiva vol.25 no.6 Rio de Janeiro June 2020
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