O futuro da sociedade Latino Americana e do Caribe desafiada pelos jovens

Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Logo do periódico Ciência & Saúde ColetivaO artigoJuventudes en América Latina y el Caribe en perspectiva escrito por José Roberto Luna Manzanero (2021), faz parte da edição 26.7 da Revista Ciência & Saúde Coletiva que, neste número temático se debruçou sobre a Condição Juvenil na Região. O texto apresenta indicadores socioeconômicos e demográficos e a partir deles faz uma análise interseccional dos desafios que esse grupo socioetário enfrenta para alcançar seu pleno desenvolvimento. O destaque é dado aos segmentos mais pobres, discriminados e vulneráveis, mas se refere também ao conjunto populacional de 10 a 24 anos que, no mundo, representa 1/4 da população global e, historicamente, constitui a força vital responsável pelas transformações sociais, econômicas, ambientais e de costumes (UNFPA, 2019).

Na América Latina e Caribe, estima-se que, atualmente, haja 165 milhões de pessoas entre 10 a 24 anos de idade o que significa também ¼ de toda a população. Apesar da redução da pobreza obtida na região entre 2002-2014, a partir de 2015 seus níveis, inclusive os extremos, aumentaram outra vez: em 2018, 30,1% das pessoas viviam abaixo da linha de pobreza e 10,7%, em pobreza extrema. Essa situação ainda em análise deve ter piorado muito com a pandemia do novo Coronavirus.

Ora, ser pobre não significa apenas vivenciar privação econômica, pois essa condição é acompanhada pela falta de oportunidades de acesso a bens e serviços e educativas, de formação profissional e universitária. O resultado é o elevado nível de desemprego ou de empregos precários ofertados aos jovens. Por exemplo, em 2016, apenas 59,5% dos que tinham 20 a 24 anos na Região haviam completado o ensino médio. Mazanero (2021) enfatiza o caso da população indígena, afetada ainda mais que a não indígena, em cujo segmento, 43% das famílias vivem em situação de pobreza e 24% em pobreza extrema. Igualmente, os afrodescendentes representam 24% da população em condições semelhantes.

Imagem: Marcelo Marques.

O autor chama atenção para as consequências dos problemas derivados das desigualdades assinaladas: (1) o desemprego estrutural, pois, um em cada cinco jovens busca e não encontra emprego; (2) 66% dos jovens de 15 a 24 anos não estudam, não trabalham, estão excluídos social e culturalmente, sendo alvo fácil para situações de delinquência; (3) essa realidade afeta particularmente as mulheres, incluídas as jovens, que estão presas aos trabalhos domésticos e aos cuidados não remunerados: 43% delas dizem que não buscam emprego porque precisam cuidar da casa ou de alguém, ou por proibição de algum familiar; (4) um dos efeitos da falta de oportunidades para os jovens é a migração interna forçada ou internacional. Essa é corroborada pelas elevadas taxas de violência na região; (5) um efeito muito perverso das condições juvenis é o percentual de mães adolescentes (20%), que representa a proporção mais alta no mundo. O autor assinala que México, Brasil e Colômbia se encontram entre os países com maior incidência de matrimonio infantil em nível global; (6) outro problema cruel é a forte incidência de violência social: as maiores taxas estimadas de homicídio no mundo estão registradas na Região (28,5/100.000 habitantes); os abusos (físicos, psicológicos e sexuais) contra as mulheres afetam 35% delas; e o suicídio, que está muito ligado à desesperança e à falta de sentido na vida é a 4ª causa de morte entre jovens.

O artigo de Manzanero (2021) traz muito mais riqueza de detalhes, sobre uma situação que requer mudanças profundas e possíveis na região mais desigual do mundo, como chamam atenção os editores convidados desta edição temática (Sobrinho et al, 2021). Seus pensamentos estão de acordo com as ideias de Henriques (2021) expostas numa entrevista do jornal O Globo, em que o educador fala sobre a necessidade de investimento maciço e profundo em educação para superar as profundas desigualdades e enriquecer o país: “nossa situação atual pode se tornar uma deficiência crônica. (…) A sociedade precisa reconhecer o desafio e dizer que a educação é uma prioridade absoluta. Não será fácil nem de imediato. Esse novo mundo [marcado pela revolução tecnológica] exige que a sociedade brasileira faça a escolha que nunca fez”.

Referências

HENRIQUES, R. Pode se tornar uma deficiência crônica [online]. Jornal o Globo. 2021 [viewed 09 September 2021].

SOBRINHO, A., et al. Condição Juvenil na América Latina: demandas e enfrentamentos às iniquidades em saúde. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2021, vol.26, no.07 [viewed 09 September 2021]. https://doi.org/10.1590/1413-81232021267.08262021. Available from: http://ref.scielo.org/h39bkb

United Nations Population Fund (UNFPA). My Body, My Life, My World Rights and choices for all adolescents and youth: a UNFPA global strategy. New York: UNFPA; 2019.

Para ler o artigo, acesse

LUNA, J. R. Juventudes en América Latina y el Caribe en perspectiva: panorama de la situación, desafíos e intervenciones promisorias. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2021, vol.26, no.07 [viewed 09 September 2021]. https://doi.org/10.1590/1413-81232021267.07272021. Available from: http://ref.scielo.org/xqrc6z

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MINAYO, M. C. S. and GUALHANO, L. O futuro da sociedade Latino Americana e do Caribe desafiada pelos jovens [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2021 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2021/09/10/o-futuro-da-sociedade-latino-americana-e-do-caribe-desafiada-pelos-jovens/

 

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