Deborah Rezende, Dehlicom – Soluções em Comunicação Empresarial, assessoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
As vacinas para prevenir a infecção por SARS-CoV-2 são consideradas a abordagem mais efetiva para controlar a pandemia pelo vírus. Apesar dos tempos exíguos do desenvolvimento desses agentes imunológicos contra a Covid-19, cada vacina aprovada passou por todas as fases pré-clínicas e clínicas (fases I a III) de pesquisa científica. Como em outros imunizantes, eventos adversos foram observados durante a fase de monitoramento dos programas de imunização populacional contra essa nova doença (fase IV), alguns relacionados ao envolvimento do aparelho circulatório. O artigo Posicionamento sobre Segurança Cardiovascular das Vacinas contra Covid-19 – 2022, revisou as evidências de dois desses efeitos adversos referente à saúde cardiovascular: trombose com trombocitopenia imune e miocardite induzida pela vacina. A conclusão foi que os imunizantes contra a infecção pelo novo coronavírus são seguras e seus benefícios superam em larga escala os riscos de efeitos adversos relacionados.
A proposta para o estudo surgiu a partir do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por determinação do seu Conselho Administrativo, que convocou em grupo de trabalho para monitorar e organizar, de forma continuada e sistemática, evidências científicas da segurança cardiovascular das vacinas contra Covid-19. O objetivo do grupo foi reproduzir dados cientificamente sólidos, sintetizar a evidência no momento disponível e oferecer recomendações para o cardiologista brasileiro na forma de posicionamentos da entidade.
Sobre a trombose com trombocitopenia imune induzida por vacina (VITT), o documento relata que as vacinas AstraZeneca e Janssen foram implicadas em causar a doença. Embora seja reconhecida como uma reação adversa a esses imunizantes, a incidência real de VITT é ainda desconhecida, e evidências apontam para uma complicação rara. A maioria dos relatos descreve um pequeno número de casos entre dezenas de milhões de indivíduos vacinados. Em uma série de 220 indivíduos com VITT definitiva ou provável, a taxa de mortalidade foi de 22%.5 Nos EUA, a mortalidade relacionada a essa doença foi de 0,57 mortes por milhão de doses da vacina Janssen no geral, e de 1,8 a 1,9 mortes por milhão de doses em mulheres de 30 a 49 anos. Comparativamente, a taxa de mortalidade global por Covid-19 é de 1% a 2%. A incidência de trombose chega a 8% de todos os pacientes hospitalizados com a infecção pelo SARS-CoV2, e até 23% em indivíduos em unidades de terapia intensiva.
Figura 1. Posicionamento sobre Segurança Cardiovascular das Vacinas contra COVID-19 – 2022.
A partir dessas evidências, o estudo traz ser consenso que os benefícios da vacinação superam os riscos potenciais de efeitos colaterais raros da vacina, como a VITT, e recomenda: levantando sobre história prévia de tromboembolismo venoso (TEV) ou uma predisposição para tal; indivíduos que receberam uma primeira dose da vacina AstraZeneca e não desenvolveram VITT devem completar o esquema vacinal com duas doses; e quem tiver VITT com uma vacina de vetor de adenovírus, deve fazer a transição do esquema vacinal para uma vacina de RNAm.
O texto de autoria principal de Humberto Graner Moreira explica ainda que a associação entre miocardite e vacinas é descrita como um evento adverso raro, cuja incidência é observada mais frequentemente após vacinação contra varíola, influenza e hepatite B. Entre 1990 e 2018, apenas 0,1% das mais de 620 mil notificações de reações adversas pós-vacinas foram atribuíveis à miopericardite nos EUA. Em julho de 2021, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relatou uma possível associação entre as vacinas de RNAm para SARS-CoV-2, como a da Pfizer e da Moderna, e casos de miocardite e pericardite. A estimativa inicial foi de uma taxa de 32,4 casos por milhão de doses aplicadas, chegando até a 66,7 por milhão após a segunda dose entre homens de 12 e 17 anos. A incidência diminuía significativamente com o aumento da idade e era marcadamente mais baixa entre mulheres de todas as idades.
Após a comparação de estudos de base populacional publicados sobre a ocorrência desse evento pós-vacinação para SARS-CoV-2, foi possível chegar a uma conclusão. Primeiramente foram observadas muitas peculiaridades, quer seja nos critérios diagnósticos, período considerado, diferentes faixas etárias incluídas, além de diferenças metodológicas no cálculo do risco. Por fim, o conjunto de evidências sugere que o risco de miocardite aguda associada à vacinação para Covid-19 é real e tem incidência muito baixa, porém, mais comumente relatada em jovens do sexo masculino.
o entanto, como o curso clínico da doença é geralmente leve e autolimitada, mesmo entre os adolescentes homens, a totalidade do efeito protetor da vacinação contra Covid-19, particularmente na prevenção da forma grave da infecção grave, na hospitalização e morte, continua a exceder claramente o risco de miocardite induzida. A vacinação também reduz a necessidade de medidas de mitigação nas escolas, minimizando as interrupções na educação das crianças e a manutenção de seu bem-estar geral, saúde e segurança.
Para ler o artigo, acesse
MOREIRA, H.G. Posicionamento sobre Segurança Cardiovascular das Vacinas contra Covid-19 – 2022. Arq. Bras. Cardiol. [online]. 2022, vol. 118, no. 4 [viewed 22 June 2022]. https://doi.org/10.36660/abc.20220179. Available from: https://www.scielo.br/j/abc/a/GR5dBTHR4kcFsWsC7XPtFLz/?lang=pt
Link externo
Arquivos Brasileiros de Cardiologia – ABC: https://www.scielo.br/j/abc/
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