Mobilizações e precauções de trabalhadoras sexuais na pandemia de Covid-19

Camila Montagner Fama, Jornalista, Projeto Cosmopolíticas do Cuidado no Fim-do-mundo, Faculdade de Saúde Pública (FSP), Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil

Logo do periódico Cadernos de Saúde Pública.

Entrevistas semiestruturadas realizadas pelo estudo “Eu Quero é Mais! A Vida de Profissionais do Sexo Durante a Pandemia da COVID-19”, de forma presencial e remota foram analisadas em artigo sobre os efeitos da pandemia relatados por trabalhadoras sexuais cis, trans e travestis. O estudo contou com 43 trabalhadoras sexuais de diversas regiões do Brasil que foram entrevistadas e tiveram suas entrevistas posteriormente submetidas a cotejamento quantitativo.

Os resultados foram apresentados no artigo Trabalhadoras sexuais no marco pandêmico brasileiro: efeitos em e relações com a saúde, publicado nos Cadernos de Saúde Pública (vol. 40, no. 9, 2024).

A análise foi feita no âmbito da pesquisa implementada em 32 países sob coordenação da Coalizão PLUS (Coalition PLUS), uma rede global de organizações na luta contra o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e HCV (Hepatite C). O artigo é assinado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal Fluminense, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e do Centre d’Estudis Epidemiològics sobre les Infeccions de Transmissió Sexual i Sida de Catalunya.

O componente qualitativo da pesquisa foi realizado de forma híbrida on-line e off-line, levando em conta obstáculos tais como o acesso à smartphones e conexão de qualidade. As atividades on-line não conseguiriam alcançar pessoas em situações de alta vulnerabilidade, como as que estão em abrigos ou em situação de rua.

Participaram da pesquisa trabalhadoras sexuais cisgênero, lideranças do movimento brasileiro de prostitutas, vinculadas à Rede Brasileira de Prostitutas (RBP), à Articulação Nacional das Profissionais do Sexo (ANPROSEX) e à Central Única de Trabalhadoras e Trabalhadores Sexuais (CUTS). Também foram entrevistadas integrantes do Coletivo/OSC Mulheres da Luz, da área do Parque da Luz, centro de São Paulo.

Logo do projeto “Eu quero é mais” com a ilustração de uma boca vermelha com o título do projeto sobreposto em letras pretas

Imagem: Divulgação.

As participantes trans e travestis foram as ativistas que trabalham e residem na cidade de São Paulo e já participaram em pesquisas anteriores com a equipe do estudo. Entre elas estavam as trabalhadoras sexuais trans e travestis da região do Butantã, em São Paulo, e as de Uberlândia (MG).

Catorze trabalhadoras das 43 entrevistadas relataram algum sintoma de “gripe” ou adoecimento em virtude da COVID-19 e quatro disseram ter sofrido “falta de ar”. Isso se deu principalmente entre aquelas com diagnóstico prévio de doenças respiratórias.

Mulheres trans e travestis de São Paulo e as trabalhadoras sexuais com mais idade foram os grupos que mencionaram mais casos graves de adoecimento e mortes por COVID-19 entre familiares e clientes “mais velhos”. O uso consistente de máscara levou em conta o modelo e a prática de trocas periódicas também foi descrito como cotidiano pelas mulheres cis “mais velhas” e algumas trans.

As trabalhadoras entrevistadas relataram a preocupação de contaminar clientes idosos e, por vezes, recusaram-se a fazer o programa por conta disso. De modo geral, os cuidados se revelaram mútuos entre elas e os clientes mais antigos.

O estudo também analisou a diferença entre as trabalhadoras cis com mais idade, que contaram com a ajuda de amigos, parentes e “clientes fixos” para manter o isolamento nos primeiros meses de pandemia de modo consistente; enquanto as entrevistadas trans e travestis se valeram de economias feitas previamente para se manter nesse período, voltando ao trabalho quando ficaram sem poder se sustentar e perceberam que a pandemia se estenderia por longo prazo.

Em Campinas, a Associação Mulheres Guerreiras foi bem-sucedida em se organizar para reivindicar a vacinação das trabalhadoras do Jardim Itatinga e de outros trabalhadores do entorno com quem conviviam. Com a aplicação da vacina Janssen, que naquele momento era prescrita em dose única, a imunização desse grupo foi mais rápida e completa.

Raros casos de resistência à vacinação em São Luís e Belém foram relatados entre trabalhadoras sexuais cis por questões religiosas, influência de fake news e do discurso negacionista então reproduzido maciçamente pelo Governo Federal.

Para ler o artigo, acesse

CALABRIA, A.M., et al. Trabalhadoras sexuais no marco pandêmico brasileiro: efeitos em e relações com a saúde. Cad. Saúde Pública [online]. 2024, vol. 40, no. 9, e00181123 [viewed 13 January 2024]. https://doi.org/10.1590/0102-311XPT181123. Available from: https://www.scielo.br/j/csp/a/zCJdZBCJkSJf6QCgVbWKHmk

Links externos

Cadernos de Saúde Pública – CSP

Cadernos de Saúde Pública – Site

Cadernos de Saúde Pública – Redes Sociais: Facebook | x | Instagram

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

FAMA, C.M. Mobilizações e precauções de trabalhadoras sexuais na pandemia de Covid-19 [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/01/13/mobilizacoes-e-precaucoes-de-trabalhadoras-sexuais-na-pandemia-de-covid-19/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation