Claudia Jurberg, Jornalista e Editora de Mídias Sociais, Instituto Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Hantavírus transmitidos por morcegos foram identificados em diversas partes do mundo, mas o conhecimento sobre esses vírus em morcegos neotropicais, especialmente nos biomas megadiversos do continente americano, ainda é limitado. Frente a essa lacuna, um estudo recente apontou que o hantavírus identificado no Brasil formou uma linhagem única e altamente divergente, em comparação com outras cepas já encontradas na América do Sul e amplia o entendimento sobre a diversidade viral e a ecologia desses vírus na região.
Um grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro e da Paraíba se dedicou a analisar 97 amostras de tecidos pulmonares e renais de morcegos capturados na Mata Atlântica. O objetivo do estudo foi avaliar a presença e a prevalência de hantavírus na região. Os resultados, recentemente publicados no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, no artigo A newly bat-borne hantavirus detected in Seba’s short-tailed bats (Carollia perspicillata) in the Brazilian Atlantic Rainforest (vol. 119, 2024), revelaram a detecção de RNA de hantavírus em cinco morcegos da espécie Carollia perspicillata, o morcego-de-cauda-curta.
Embora já existam evidências sorológicas que indicam a circulação de hantavírus no Brasil, a falta de detecções genômicas dificulta a compreensão da diversidade viral, prevalência e ecologia desses vírus transmitidos por morcegos.
As análises filogenéticas apontaram que o hantavírus identificado formou uma linhagem única e altamente divergente em comparação com outras cepas já encontradas na América do Sul. Esse novo achado é relevante, pois amplia o entendimento sobre a diversidade viral e a ecologia desses vírus na região.
Diante da descoberta, os autores sugerem uma reflexão sobre a necessidade de classificar novos gêneros e subfamílias, dada a identificação de hantavírus em outros grupos animais, como morcegos, répteis e peixes.
A pesquisa aponta a existência de um novo hantavírus transmitido por morcegos na região da Mata Atlântica, denominado Mamanguape vírus (MGPV). Essa descoberta não só expande o conhecimento sobre a diversidade viral, mas também abre novas possibilidades para investigações sobre a classificação, evolução e ecologia desses vírus na América do Sul, especialmente no Brasil.
O vírus
O hantavírus é um tipo de vírus pertencente à família Hantaviridae, que pode ser transmitido para os seres humanos por meio de roedores infectados. A infecção por hantavírus geralmente ocorre através do contato com urina, fezes ou saliva de roedores infectados.
A infecção pelo vírus é capaz de causar doenças graves, e os dois principais tipos de síndrome são: Síndrome Pulmonar por Hantavírus que é comum nas Américas e pode ser fatal, pois afeta os pulmões, causando dificuldades respiratórias graves e podendo evoluir para insuficiência respiratória. E a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal, mais comum na Europa, Ásia e África, e que afeta os rins e pode resultar em falência renal, além de causar hemorragias.
O estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), marcando um avanço significativo no entendimento sobre os hantavírus no Brasil e na América Latina.
Para ler o artigo, acesse
SOUZA, P.J., et al. A newly bat-borne hantavirus detected in Seba’s short-tailed bats (Carollia perspicillata) in the Brazilian Atlantic Rainforest. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz [online]. 2024, vol. 119, e240132 [viewed 18 March 2025]. https://doi.org/10.1590/0074-02760240132. Available from: https://www.scielo.br/j/mioc/a/fcshnC3fs9Trkv3RJ3fWCHk/
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