Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe do periódico Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora assistente do periódico Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Num país que ainda tem dificuldade para valorizar a ciência e a tecnologia como alimentos essenciais de seu progresso e desenvolvimento, nunca é demais contar a história de sucesso de um periódico científico. É o caso da Ciência & Saúde Coletiva (C&SC), gestada no calor da discussão de um novo conceito, o de “Saúde Coletiva” como é mostrado no artigo escrito por seus editores na edição 30.9 (Minayo, et al., 2025). Criado pelo “Movimento Sanitário Brasileiro” esse conceito consagrou-se na VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986 e tornou-se presente na Constituição Cidadã de 1988, explicitando a meta de universalização dos serviços com equidade e participação do Estado, da sociedade civil e dos indivíduos.
Dentre os propulsores desse novo conceito encontra-se a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) nascida em 1979. E como um dos meios de sua expansão e aprofundamento, o artigo Do nascimento à maturidade da Ciência & Saúde Coletiva, publicado pelo periódico Ciência & Saúde Coletiva (vol. 30, no. 9, 2025), conta a história da criação do periódico, que teve sua primeira publicação em setembro de 1996 (Minayo, 2025). Na sua criação, a diretoria deu-lhe três diretrizes: ser um periódico temático para superar a individualização disciplinar e congregar o pensamento criativo dos pesquisadores em assuntos relevantes para o Sistema Único de Saúde (SUS); ter o conceito “saúde coletiva” presente em todas as áreas das Ciências da Saúde; ter em seu corpo editorial pesquisadores representativos de todas as regiões do país, aos quais seriam agregados colaboradores internacionais. Em adendo, o periódico não deveria ser corporativo, e sim, abranger o que houvesse de melhor no mundo do conhecimento: uma ciência sem fronteiras. Essa espécie de “mito de origem”, vigora até hoje.
O periódico se desenvolveu com a adesão da comunidade acadêmica, o apoio institucional, mas também por meio de um fator fundamental, sua indexação. Até 2001, ele funcionou com duas edições por ano. Em 2002, foi indexado ao SciELO já com quatro edições anuais. Em 2008, foi indexado ao MedLine, o que significou uma excelente inflexão em relação à qualidade e à adesão de autores e exigiu aumentar o número de edições para oito. Em 2010, foi indexado à Web of Science, em seguida à Scopus. Desde então, passou a ser mensal e a publicar 30 artigos ou mais por edição, pontualmente e sem interrupções. Importante dizer que, em todo esse processo, há um sentimento de profunda gratidão ao SciELO que, além de ter critérios de qualidade para indexar os periódicos de seu acervo em acesso aberto, continua a desvendar caminho para impulsionar a adesão dos periódicos à Ciência Aberta.

Imagem: Via Ciência & Saúde Coletiva
Ciência & Saúde Coletiva entra em seu 30º ano de vida cheia de luz e esperança. Para comemorar essa data, um documentário foi preparado e durante o ano estão ocorrendo podcasts que discutem o tema específico de cada mês, ao mesmo tempo em que editores e autores acompanham o turbilhão de mudanças na comunicação social e na divulgação científica mundial: o periódico é parte desse processo. Eis alguns dados importantes. Segundo relatório da Clarivate (2024) de 2019 a 2023, o Brasil continuou em 13º lugar no mundo quanto ao número de publicações indexadas (458.370) e com 54,4% dos artigos de autores nacionais em acesso aberto.
Entre 2014 e 2023, a maioria de artigos de pesquisa (190.575) foi em Ciências da Saúde o que representa 27% da produção nacional. Esse setor também tem a maior média de impacto de citação normalizado por categoria (1,05, sendo a média mundial 1,00), e a maior proporção de artigos (8,1%) entre os 10% mais citados do mundo. C&SC faz parte dessa história nacional e internacional. Recebeu a classificação máxima (A1) na avaliação da CAPES. Continuou no primeiro lugar dentre todos os periódicos brasileiros no índice h5, (80/102) do Google Scholar. Atingiu o padrão ouro da Scopus em número de publicações, ficando atrás apenas da Nature Reports e da PlosOne.
Há, porém, vários aspectos que precisam melhorar como ascender no impacto medido pela Web of Science, onde ela está com a classificação 1.20 (embora essa pontuação seja mais elevada que a média mundial, 1.0) (Clarivate, 2024). Ao compartilhar essas informações, os editores e a equipe executiva da C&SC estão de olho na correção de rumos! Sabem que caminham numa estrada competitiva e íngreme. O subfinanciamento é um enorme fator de estresse. Por isso, ela precisa de apoio e da solidariedade das instituições do setor para que suas conquistas não decaiam. Com 30 artigos em cada uma das 12 edições anuais, seria totalmente cabível torná-la quinzenal caso houvesse recursos materiais e humanos para sustentar esse ousado passo, pois apesar do rigor na avaliação dos originais, há um acervo já aprovado à espera de divulgação.
Em resumo, para quem atua na produção e divulgação da C&SC é uma honra comemorar esses 30 anos. Pelo que foi feito e pelo há ainda por fazer. Ela promoveu, ajudou a implementar debates, formação e práticas para tornar o SUS cada vez mais inclusivo e de qualidade. Ao mesmo tempo, num movimento de mão dupla, toda a reflexão sobre o SUS a constitui. E, sem dúvida, a divulgação de sua produção científica faz parte do desenvolvimento científico nacional.
Para ler o artigo, acesse:
MINAYO, M.C.S. Do nascimento à maturidade da Ciência & Saúde Coletiva. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2025, vol. 30, no. 9. e12542025 [viewed 14 November 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-81232025309.12542025. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/xNBKJTdWZCct4HrTn3KVrKr/
Referências
Panorama das mudanças na pesquisa no Brasil: aproveitando oportunidades de crescimento [online]. Clarivate. 2024 [viewed 14 November 2025]. Available from: https://www.abcd.usp.br/wpcontent/uploads/2024/08/Relatorio_panorama_da_pesquisa_brasil_clarivate-capes-agosto-2024.pdf.
MINAYO, M.C.S., et al., Associativismo e tematização do campo: duas marcas da Revista Ciência & Saúde Coletiva. Ciênc. saúde coletiva [online]. vol. 30, no. 9, e12322025 [viewed 14 November 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-81232025309.12322025. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/Qrp89fthtQvmM8YmQy6mWQb/
PAES-SOUZA, R. História, compromissos e relevância: celebrando os 30 anos da Revista Ciência & Saúde Coletiva. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2025, vol. 30, no. 9. e11782025 [viewed 14 November 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-81232025309.11782025. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/89X9dMyLQwTngXR7qWsKjfD/
Links externos
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Panorama das mudanças na pesquisa no Brasil
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