A introdução inadequada de alimentos à dieta do lactente pode resultar em consequências danosas para a saúde?

Por Wanessa Casteluber Lopes, docente das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) e da Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI), Montes Claros, MG, Brasil

No período de aleitamento materno exclusivo, as crianças já recebiam água e leite não materno e, na introdução da alimentação complementar, a oferta de guloseimas ocorreu precocemente. Foi o que concluíram pesquisadores da Unimontes, em Montes Claros (MG), que avaliaram, em 2015, o consumo alimentar de 545 crianças menores de 24 meses residentes na área urbana do município de Montes Claros (MG). O estudo foi publicado na Revista Paulista de Pediatria sob o título “Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida” (vol. 36, no. 2).

O estudo transversal de base populacional realizou a coleta de dados por meio de entrevistas com os responsáveis pelas crianças em seus domicílios. Foi aplicado um questionário para avaliar a situação sociodemográfica da família, as características materno-infantis e o consumo alimentar. Ao completarem 180 dias de vida, 4% das crianças estavam em aleitamento materno exclusivo, 22,4% em aleitamento materno predominante e 43,4% em aleitamento materno complementar. As crianças já recebiam água (56,8%), suco natural/fórmula infantil (15,5%) e leite de vaca (10,6%) no terceiro mês de vida. Aos 12 meses de idade, o suco artificial foi oferecido para 31,1% das crianças e 50% já consumiam doces. Antes de completar um ano de idade, 25% das crianças já haviam consumido macarrão instantâneo.

De acordo com o estudo, a introdução de cereais, vegetais, feijão e carne entre as crianças avaliadas se encontra dentro do recomendado; no entanto, as frutas foram oferecidas antes dos seis meses de idade. Quanto à análise do consumo de guloseimas, observou-se que aproximadamente metade das crianças já havia recebido doces (pirulitos, balas e caramelos) antes de um ano de vida. Nesse mesmo período, o açúcar e o achocolatado foram introduzidos para aproximadamente 30,0% das crianças, e o mel para 10,0%. O consumo de alimentos com alta concentração de açúcares e gorduras está associado à ocorrência de excesso de peso e cárie em crianças (ABESHU, LELISA and GELETA, 2016), informam os pesquisadores. Quanto ao aspecto nutricional, a introdução precoce de alimentos é desfavorável, pois aumenta o risco de contaminação e reações alérgicas, interfere na absorção de nutrientes importantes do leite materno e implica em risco de desmame precoce.

Considerando que os primeiros anos de vida são caracterizados por rápida velocidade de crescimento e desenvolvimento e que a alimentação tem papel fundamental para assegurar que tais fenômenos ocorram de forma adequada (BHUTTA, et al., 2008; WHO; 2013), os pesquisadores alertam para a necessidade de implantação de políticas públicas de promoção e de melhoria dos serviços materno-infantis para mudar esse cenário, uma vez que a alimentação saudável na infância repercute no perfil de saúde da população. Crianças submetidas ao aleitamento materno exclusivo durante os seis primeiros meses de vida têm menores chances de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis na infância, na adolescência e na vida adulta, afirmam os autores do estudo.

Nesse sentido, os profissionais de saúde possuem papel importante no aconselhamento das famílias para a alimentação no primeiro ano de vida, reforçando a superioridade do leite materno e desencorajando a introdução de outros leites; além disso, têm papel fundamental em ressaltar a importância da introdução correta da alimentação complementar.

Referências

ABESHU, M.A., LELISA, A. and GELETA, B. Complementary feeding: review of recommendations, feeding practices, and adequacy of homemade complementary food preparations in developing countries – lessons from Ethiopia. Front Nutr [online]. 2016, vol. 17, no. 3, pp. 41, ISSN: 2296-861X [viewed 28 June 2018]. DOI: 10.3389/fnut.2016.00041 Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27800479

BHUTTA, Z.A., et al. What works? Interventions for maternal and child undernutrition and survival. Lancet [online]. 2008, vol. 371, no. 9610, pp. 417-440, ISSN: 0140-6736 [viewed 28 June 2018]. DOI: 10.1016/S0140-6736(07)61693-6. Available from: https://www.thelancet.com/article/S0140-6736(07)61693-6/abstract

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Essential nutrition actions: improving maternal, newborn, infant and young child health and nutrition. Geneva: WHO; 2013.

Para ler o artigo, acesse

LOPES, W.C., et al. Alimentação de crianças nos primeiros dois anos de vida. Rev. paul. pediatr. [online]. 2018, vol. 36, no. 2, pp. 164-170, ISSN: 0103-0582. DOI: 10.1590/1984-0462/;2018;36;2;00004. Available from: http://ref.scielo.org/s738ck

Links externos

Revista Paulista de Pediatria – RPP <http://www.scielo.br/rpp>

Revista Paulista de Pediatria <http://www.rpped.com.br/>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

LOPES, W.C. A introdução inadequada de alimentos à dieta do lactente pode resultar em consequências danosas para a saúde? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2018 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2018/06/28/a-introducao-inadequada-de-alimentos-a-dieta-do-lactente-pode-resultar-em-consequencias-danosas-para-a-saude/

 

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