Maria Luiza De Grandi, jornalista da revista Ciência Rural. Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Cesar Delgado Vasquez, Coordenador de Pesquisa em Entomologia Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana. Iquitos, Peru.
Considerada uma prática milenar dos povos nativos da América Latina, a meliponicultura consiste na criação racional de abelhas sem ferrão (CORTOPASSILAURINO et al., 2006; CAMARGO & PEDRO, 2007; MICHENER, 2007). A produção de mel proveniente desta prática é uma atividade com grande potencial econômico na Amazônia. Entretanto, a falta de conhecimento sobre a qualidade do mel produzido e as poucas técnicas de manejo acaba por frear o desenvolvimento dessa cultura.
Avaliando a produção e as características físico-químicas e microbiológicas do mel produzido em colmeias racionais, pesquisadores do Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana, desenvolveram a pesquisa “Práticas de manejo e características do mel de Melipona eburnea Friese na Amazônia peruana”, publicada na Ciência Rural (vol.50, nº12).
O estudo foi realizado em três diferentes comunidades da Amazônia peruana. A produção e as características físico-químicas e microbiológicas do mel da espécie Melipona Eburnea foram avaliadas dentro de 90 dias após a instalação das colmeias. O mel proveniente desta espécie também foi comparado ao mel das espécies M. grandis, M. illota e M. Titania, analisadas no mesmo período de tempo. Com a adaptação da técnica de criação de abelhas em caixas racionais a produção de mel variou de 140 ml a 900 ml por colônia, em um período de três meses para M. eburnea, o que significa quatro vezes mais que a produção em troncos tradicionais, ou extrativismo.
De acordo com o pesquisador Cezar Delgado, quanto às características físico-químicas do mel, a umidade total e os açucares totais não diferiu significativamente entre as diferentes espécies de Meliponas estudadas. “A pesquisa mostra que o mel de abelhas sem ferrão pode ser coletado depois de três meses, momento na qual suas características físico-químicas são estáveis e microbiologicamente aptas para o consumo humano.”, explica Delgado.
Servindo como base para estabelecer políticas de promoção e conservação das abelhas nativas, a pesquisa servirá para gerar maior sustentabilidade à criação de abelhas nativas sem ferrão, tais como, a conservação da espécies ao aplicar práticas menos destrutivas das colônias na colheita da mel. “Para a conservação, é preciso evitar que as pessoas cortem as árvores para obter o mel, bem como incrementar o rendimento da produção. Também é preciso oferecer informação dos parâmetros de qualidade da mel e melhorar os ingressos de pequenos produtores ou a agricultura familiar, tornando-o em uma atividade rentável.”, destaca Cezar Delgado. Além disso, as informações sobre a qualidade físico-química e microbiológica produzidas pela pesquisa permitiram aumentar o preço do mel de abelha nativa, de 3 dólares para 27 dólares por embalagem de 600 ml, em algumas comunidades.
Referências
CAMARGO, J. M. F. and S. R. M. PEDRO. Meliponini. In: MOURE, J. S. et al (ed.). Catalogue of bees (Hymenoptera, Apoidea) in the Neotropical region. Curitiba: Sociedade Brasileira de Entomologia, 2007.
CORTOPASSI-LAURINO, M., et al. Global meliponiculture: challenges and opportunities. Apidologie [online]. 2006, vol.37, no.2, pp.275– 292 [viewed 14 April 2021]. https://doi.org/10.1051/apido:2006027. Available from: https://www.apidologie.org/articles/apido/abs/2006/02/m6035sp/m6035sp.html
MICHENER, C. D. The bees of the world, second edition. Baltimore: Johns Hopkins University Press. 2007.
Para ler o artigo, acesse
DELGADO, C.; MEJIA, K. and RASMUSSEN, C. Management practices and honey characteristics of Melipona eburnea in the Peruvian Amazon. Cienc. Rural [online]. 2020, vol.50, n.12, e20190697 [viewed 4 March 2021]. https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20190697. Available from: http://ref.scielo.org/x8dk67
Links Externos
Ciência Rural – CR: https://www.scielo.br/cr
Ciência Rural: http://coral.ufsm.br/ccr/cienciarural/
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