Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe, Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora assistente, Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
A edição temática suplementar Análise de Políticas Nacionais e Locais de Saúde, do periódico Ciência & Saúde Coletiva, traz para o leitor um artigo considerado especial pelo tema que aborda: A Tragédia Climática no Rio Grande do Sul e a Força Nacional do SUS: política pública com foco na resiliência diante de novas crises sanitárias (vol. 30, suppl. 1, 2025), escrito por Nunes, Carvalho e Jatobá. Seu foco está na inovação chamada Força Nacional do SUS (FN-SUS), criada em 2011 pelo Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011), respondendo ao impressionante desastre ecológico ocorrido na Serra Fluminense no mesmo ano.
Criada por um decreto sobre “Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional”, a Força Nacional do SUS pode ser convocada pelo Ministro da Saúde, por estados e municípios que dela precisem, assim como, para integrar ações humanitárias internacionais coordenadas. Sua atuação é emergencial e visa oferecer assistência especializada em saúde, apoio técnico e logístico, atendimento médico e diagnóstico situacional rápido.
A Força Nacional é um programa de prevenção, assistência e resposta a desastres e emergências epidemiológicas ou situações de desassistência à população, quando esgotada a capacidade de resposta do estado ou município. Suas equipes são compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, nutricionistas, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais de saúde, além de grupos de apoio logístico.
A ideia de tão significante iniciativa é desenvolver a resiliência do Sistema Único de Saúde (SUS) para lidar com diferentes crises que ameaçam a saúde da população, de forma que se possa manter, concomitantemente, o funcionamento, a segurança, a qualidade e a disponibilidade dos serviços rotineiros dos vários níveis (JATOBÁ and CARVALHO, 2024; OPAS, 2020).

Imagem: Igor Evangelista/MS
Este texto focaliza a atuação da FN-SUS na situação das trágicas enchentes do Rio Grande do Sul em 2024. Ela foi mobilizada 48 horas após os alertas iniciais da catástrofe e incluiu equipes médicas, logísticas e especialistas. Foram instalados centros de triagem e quatro hospitais de campanha em locais estratégicos, que ofereceram serviços médicos, incluindo cirurgias, cuidados intensivos e cuidados de maternidade, suprimentos, medicamentos, vacinas, sistemas de purificação de água, tratamento de lesões, gestão de condições crônicas exacerbadas pela catástrofe e prevenção da propagação de doenças infecciosas.
É importante constatar a expressividade dos números: mais de 15.000 pessoas receberam atendimento médico de emergência na primeira semana, permitindo tratamento imediato das lesões mais comuns e 3.500 pacientes crônicos receberam cuidados e medicamentos de uso contínuo.
No percurso, 60.000 agentes de saúde locais foram mobilizados e receberam um curso rápido com informações sobre prevenção de doenças transmitidas pela água e sobre manutenção da higiene. Os profissionais administraram mais de 50.000 vacinas contra tétano, hepatite A e gripe, para prevenir potenciais surtos, além de terem distribuído mais de 40.000 kits de higiene contendo sabão, desinfetante para as mãos, pastilhas para purificação de água e repelente de mosquitos.
Frente ao impacto psicológico da catástrofe, a Força Nacional prestou apoio de saúde mental às vítimas, aos voluntários e aos trabalhadores, incluindo serviços de aconselhamento e programas de apoio psicossocial, ajudando as pessoas a lidarem com traumas e perdas. Mais de 5.000 pessoas receberam sessões de aconselhamento individual e mais de 10.000 se beneficiaram de programas de apoio psicossocial comunitário, com atividades para crianças, adolescentes e adultos.
O caso da Força Nacional do SUS no Rio Grande do Sul mostra a importância dessa iniciativa para garantir respostas adequadas e rápidas em momentos de crise, enquanto os serviços sustentam sua efetividade rotineira. É claro que ela pode e deve ser aprimorada, mas hoje é preciso apoiá-la e financiá-la adequadamente. Feliz o país que pode contar com um SUS atuante!
Para ler a edição temática completa acesse
Ciência & Saúde Coletiva. vol. 30, suppl. 1, 2025
Para ler o artigo completo, acesse
NUNES, P.C., CARVALHO, P.V.R. and JATOBÁ, A. A Tragédia Climática no Rio Grande do Sul e a Força Nacional do SUS: política pública com foco na resiliência diante de novas crises sanitárias. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2025, vol. 30, suppl. 1, e09852024, ISSN: 1413-8123 [viewed 16 June 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-812320242911.09852024. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/zCdnxvdscdYy5j93hqfgrqr/
Referências
JATOBÁ, A and CARVALHO, P.V.R. The resilience of the Brazilian Unified Health System is not (only) in responding to disasters. Revista de Saúde Pública [online]. 2024, vol. 58 [viewed 16 June 2025]. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2024058005731. Available from: https://www.scielo.br/j/rsp/a/CSH9XCgbYjtjQQMV65RP6Qd/
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Força Nacional do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2011
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE SALUD. The Essential Public Health Functions in the Americas: A Renewal for the 21st Century. Conceptual Framework and Description. Washington, D.C: Organización Panamericana de Salud, 2020.
Links externos
Ciência & Saúde Coletiva – CSC
Ciência & Saúde Coletiva – Site
Ciência & Saúde Coletiva – Redes sociais: Facebook | X | Instagram
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários