Daniel Pires Bitencourt, Pesquisador da Fundacentro, Editor Associado da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Florianópolis, SC, Brasil.
O agronegócio brasileiro como um todo, incluindo a agroindústria, insumos e serviços, emprega cerca de 28,5 milhões de pessoas, representando cerca de 26% da força de trabalho, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Cepea (2025). Entre essas, muitos brasileiros trabalham diariamente sob o sol forte e calor ou sob chuvas que as vezes acontecem junto com ventos intensos e descargas elétricas. Há ainda os extremos de seca, a poluição do ar por causa das queimadas, os agrotóxicos e as doenças causadas por vetores que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (2024), são os principais impactos das mudanças climáticas.
O trabalho do agricultor nunca foi fácil, mas agora, com os novos cenários climáticos estabelecidos pelo aquecimento global, está ainda mais difícil. O Ensaio Mudanças climáticas, trabalho decente e saúde dos trabalhadores no Brasil: considerações teóricas (vol. 50, 2025), publicado no Dossiê Desenvolvimento Sustentável e Trabalho da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO), abre o debate acadêmico sobre o tema, e aponta direções importantes para o enfrentamento do problema. O estudo foi desenvolvido em parceria entre o Ministério da Saúde do Brasil e a Universidade de Nottingham, do Reino Unido, pelos pesquisadores Edgar Rodríguez-Huerta, Luís Henrique da Costa Leão e Todd Landman.
O artigo começa fazendo uma abordagem geral do contexto da agricultura no Brasil, chamando a atenção para a vulnerabilidade dos trabalhadores agrícolas, agravadas por questões históricas e culturais. O estudo fundamentalmente reforça que a saúde ocupacional desses trabalhadores abrange uma gama muito grande de garantias ao afirmar que “é uma questão de direitos humanos”. Os autores desenvolveram a ideia de que, dentro do escopo dos direitos humanos, o trabalho na agricultura se conecta fortemente com vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs (Levy BS e Roelofs C., 2029), aparecendo como um elemento essencial à ODS “Ação Climática”.
Figura 1. Conexão e inter-relação em vários níveis entre direitos humanos, trabalho decente e saúde dos trabalhadores.
Parece óbvio, mas nem sempre governo e sociedade lembram dos trabalhadores como parte do processo. No caso da agricultura, quase sempre os efeitos das mudanças climáticas são associados exclusivamente a produção, sem considerar a saúde do trabalhador. Os autores do Ensaio publicado em março deste ano na RBSO chamam a atenção para os desafios, limites e lacunas do conhecimento envolvidos com o mundo do trabalho agrícola, a saúde do trabalhador e a emergência das mudanças climáticas.
Este inédito estudo associou a saúde do agricultor brasileiro às mudanças climáticas e apontou saídas para esse enorme desafio. Segundo os autores, a tomada de decisão deve levar em consideração todos os processos envolvidos com a pesquisa, vigilância, avaliação e gerenciamento de risco e política e regulamentação.
Uma das principais conclusões do estudo aponta para os impactos profundos do clima sobre os trabalhadores da agricultura, dando luz para aqueles que já estão em vulnerabilidade devido à pobreza, discriminação, desigualdade de gênero e renda e, também, falta de acesso a recursos. Tudo isso, na opinião dos autores, leva a “condições análogas a escravidão” que, infelizmente, ainda são uma realidade no Brasil.
O agronegócio brasileiro como um todo, incluindo a agroindústria, insumos e serviços, emprega cerca de 28,5 milhões de pessoas, representando cerca de 26% da força de trabalho, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Cepea (2025). Entre essas, muitos brasileiros trabalham diariamente sob o sol forte e calor ou sob chuvas que as vezes acontecem junto com ventos intensos e descargas elétricas. Há ainda os extremos de seca, a poluição do ar por causa das queimadas, os agrotóxicos e as doenças causadas por vetores que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (2024), são os principais impactos das mudanças climáticas.
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