Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho amplia reconhecimento de câncer ocupacional

Ubirani Otero, tecnologista sênior do Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Logo do periódico Revista Brasileira de Saúde OcupacionalA fração atribuível aos fatores de risco ocupacionais para câncer varia entre 2 e 8%. Mesmo parecendo ser um percentual pequeno, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou a ocorrência de 2,9 milhões de mortes atribuídas ao trabalho no mundo, em 2019. Dessas, 31% (912.00 mortes) foram devido às doenças do aparelho circulatório, seguidas pelas neoplasias malignas que representaram 29% de todas as mortes relacionadas ao trabalho (843.000 mortes). Em países de elevado nível socioeconômico, como Estados Unidos, Europa Oriental e o Pacífico Ocidental, as neoplasias ocuparam o primeiro lugar nesse ranking.

Apesar da relevância do câncer relacionado ao trabalho observada no cenário mundial, existem diferenças nas frequências da doença entre os países. São questões como: variações na legislação, com adoção de normas mais restritivas ou mais flexíveis; a eleição de agentes prioritários para ações de prevenção e vigilância que difere entre os países; fatores econômicos, que ditam quais substâncias devem ser reconhecidas e regulamentadas; a diferente distribuição das exposições e atividades econômicas por regiões; bem como as diferentes listas oriundas de agências internacionais de pesquisa em câncer como a International Agency for Research on Cancer (IARC).

No Brasil, urgia a necessidade de atualização da LDRT (Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho). Após 20 anos da adoção dessa lista, houve mudanças significativas nos processos de trabalho, como a incorporação de novas tecnologias, novas exposições e circunstâncias de exposição. Para isso o Grupo Técnico de Trabalho constituído pela CGSAT/SVS/MS (Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador/ Secretaria de Vigilância em Saúde /Ministério da Saúde), no que diz respeito ao câncer, convidou o INCA (Instituto Nacional de Câncer) para fazer parte do grupo de discussão e consenso, composto por especialistas no tema, pesquisadores, representantes dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, membros do Ministério Público do Trabalho e de outros ministérios e representantes dos trabalhadores.

 

Uma fotografia de uma vídeo chamada com Equipe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (ATATC/INCA).

 

A nova LDRT, organizada por agentes e por doenças, ampliou de 182 para 347 os códigos de doenças e de 14 para 50 os tipos de neoplasias. Destaque para a incorporação de novos fatores ocupacionais, como trabalho noturno, vírus (HPV, HIV), poluentes e substâncias químicas. Deve-se ressaltar que a lista da IARC foi adotada como padrão-ouro, mas foram também consideradas neoplasias associadas a exposições ocupacionais presentes em pelo menos duas listas estrangeiras.

A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) apresenta como foi a experiência da equipe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do INCA para essa atualização no texto Câncer relacionado ao trabalho: relato de experiência do Instituto Nacional do Câncer na atualização da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde no Brasil (vol.50, 2025) publicado no Dossiê Ocupação e Câncer.

Na prática, ter uma lista atualizada nessa temática, significa reconhecer o câncer como uma doença ocupacional, que determinadas exposições e/ou circunstâncias de exposição podem fazer parte do processo de desenvolvimento de um tumor. Desta forma, medidas preventivas e de vigilância da doença, dos trabalhadores expostos e da exposição podem ser tomadas, além de garantia dos direitos dos trabalhadores e de suas famílias.

O país tem hoje uma legislação mais abrangente e atualizada, apta a subsidiar gestores na tomada de decisões, ao mesmo tempo em que amplia o acesso à informação para trabalhadores e empregadores sobre os riscos ocupacionais e desenvolvimento de tumores.

Além disso, a lista fornecer subsídios técnicos e epidemiológicos para ações educativas e para a identificação facilitada dos casos de câncer passíveis de estarem relacionados ao trabalho (Listas A e B), e assim intensificar o processo de notificação dos casos de câncer relacionados ao trabalho no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). Espera-se que a LDRT possa contribuir em ações de vigilância, resultando na redução da incidência e mortalidade das doenças relacionadas ao trabalho, em especial ao câncer, contribuindo para ambientes laborais mais seguros e saudáveis.

 

 

Para ler o artigo, acesse

Otero U.B., et al. Câncer relacionado ao trabalho: relato de experiência do Instituto Nacional do Câncer na atualização da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde no Brasil. Rev Bras Saude Ocup [online]. 2025, vol. 50, edoc1 [viewed 4 November 2025].  https://doi.org/10.1590/2317-6369/07525pt2025v50edoc1. Available from: https://doi.org/10.1590/2317-6369/07525pt2025v50edoc1

Links externos

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (Fundacentro)

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – X

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

UBIRANI, O. Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho amplia reconhecimento de câncer ocupacional [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/11/04/lista-de-doencas-relacionadas-ao-trabalho-amplia-reconhecimento-de-cancer-ocupacional/

 

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