Fabiana Sabadini Rezende Niglio, Coordenadora de Comunicação do Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, SP, Brasil.
Silvia Pimentel Marconi Germer, Editora Adjunta do Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, SP, Brasil.
A ideia de consumir insetos revira o estômago de muita gente, porém essa prática pode ajudar a resolver dois grandes desafios da humanidade: a busca pela saudabilidade e a sustentabilidade na produção de alimentos.
Essas foram algumas das conclusões do artigo de revisão Insetos comestíveis como potenciais fontes de proteínas para obtenção de peptídeos bioativos, publicado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na revista Brazilian Journal of Food Science Technology.
A pesquisa assume especial relevância pelo fato de que os insetos podem fornecer proteínas e nutrientes de alta qualidade, bem como por apresentar estudos científicos que discutem a hidrólise proteica com enzimas como alternativa na produção de peptídeos com importantes atividades biológicas, tais como antioxidante, antidiabética, anti-hipertensiva e antimicrobiana. Os peptídeos bioativos são definidos como frações específicas de proteínas, com sequência de aminoácidos que promovem um impacto positivo em várias funções biológicas, e que podem ser inseridos como ingredientes em formulações de alimentos e suplementos.
Do ponto de vista da sustentabilidade, em comparação à produção da proteína de origem animal pela pecuária convencional, criar insetos gera baixos níveis de gases de efeito estufa, requerendo poucos recursos hídricos e áreas menores.
A entomofagia, o uso de insetos como alimento, é uma prática adotada em várias regiões do mundo, principalmente em países localizados na Ásia, na América Latina e na África (Castro et al., 2018; Woolf et al., 2019). De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations, os insetos mais consumidos mundialmente são besouros (Coleoptera) (31%), lagartas (Lepidoptera) (18%), abelhas, vespas, formigas (Hymenoptera) (14%), gafanhotos e grilos (Orthoptera) (13%).
Para o mundo ocidental, a prática de comer insetos parece estar longe de se tornar realidade, entretanto, o mercado brasileiro de insetos comestíveis está crescendo. Segundo Rodrigues, 2019, a aposta está na inserção de insetos como ingredientes em diferentes produtos, facilitando a incorporação na dieta, tais como doce de damasco com grilo, barras de chocolate com larvas, sorvete de pistache com insetos, suplemento proteico de farinha de grilo e barrinhas de cereal.
Embora exista o interesse por parte de empresas brasileiras no lançamento de produtos à base de insetos no mercado, um outro fator limitante é a regulamentação inexistente, embora medidas já tenham sido tomadas junto às agências reguladoras, segundo os pesquisadores. Isso explica, em parte, o fato da produção de insetos no país estar sendo destinada principalmente à produção de ração animal.
Em linhas gerais, insetos representam uma fonte de proteína de alta qualidade nutricional, porém a rejeição é uma barreira que dificulta a produção e o uso em alimentos. Nesse contexto, o processo de hidrólise enzimática pode representar uma alternativa viável para o emprego de peptídeos como ingredientes, com vantagens nutricionais e tecnológicas. No entanto, novos estudos são necessários para a avaliação da real bioatividade dessas moléculas em sistemas in vivo, assim como para a investigação de fatores de alergenicidade e de técnicas de incorporação em matrizes alimentícias.
Referências
CASTRO, R.J.S. and SATO, H.H. Simultaneous hydrolysis of proteins from different sources to enhance their antibacterial properties through the synergistic action of bioactive peptides. Biocatalysis and Agricultural Biotechnology [online]. 2016, vol. 8, pp. 209-212 [viewed 8 July 2022]. http://doi.org/10.1016/j.bcab.2016.09.014. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1878818116302298?via%3Dihub
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS – FAO. Edible insects: Future prospects for food and feed security. Rome: FAO, 2013.
RODRIGUES, G. Altamente proteicos, insetos começam a entrar no cardápio [online]. O Tempo. 2019 [viewed 8 July 2022]. Available from: https://www.otempo.com.br/interessa/altamente-proteicos-insetos-comecam-a-entrar-no-cardapio-1.2209526
WOOLF, E., et al. Willingness to consume insect-containing foods: A survey in the United States. Lebensmittel-Wissenschaft + Technologie [online]. 2019, vol. 102, pp. 100-105 [viewed 8 July 2022]. http://doi.org/10.1016/j.lwt.2018.12.010. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0023643818310685?via%3Dihub
Para ler o artigo, acesse
Matos, F.M. and Castro, R.J.S. Insetos comestíveis como potenciais fontes de proteínas para obtenção de peptídeos bioativos. Braz. J. Food Technol. [online]. 2021, vol. 24, e2020044 [viewed 8 July 2022]. https://doi.org/10.1590/1981-6723.04420. Available from: https://www.scielo.br/j/bjft/a/TkMZ8Vr83rBtZMZwMts8VCF/?lang=pt#
Links externos
Brazilian Journal of Food Technology: http://bjft.ital.sp.gov.br/
Perfis nas redes sociais do Brazilian Journal of Food Technology: Facebook | Twitter
Brazilian Journal of Food Technology – BJFT: https://www.scielo.br/j/bjft/
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários