Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora Assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Da edição 27.7.2022 da Revista Ciência & Saúde Coletiva ressalta-se se o artigo Diabetes autorreferido e fatores associados na população adulta brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde, 2019 de Malta e colegas (2022) que analisa a prevalência e os fatores associados ao Diabetes Mellitus (DM) na população brasileira, a partir dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Nesse estudo foram ouvidos 82.349 adultos de 18 anos e mais. A prevalência dessa doença na PNS de 2013 aparecia como 6,6% (Iser et al, 2015). E em 2019 passou a 7,7%, mostrando um aumento progressivo que vem desde 1990.
Por que é importante tratar desse tema como problema de saúde pública? Principalmente porque o Diabetes Mellitus (DM) possui uma etiologia complexa e multifatorial, envolve componentes genéticos e socioambientais e resulta de alteração na produção de insulina pelo pâncreas, podendo evoluir para complicações micro e macro vasculares, com repercussões em órgãos como o coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e cérebro (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019). Muita gente que tem diabetes não se dá conta que esse mal silencioso, quando não tratado, pode levar à cegueira ou até exigir amputação dos pés e das pernas. Embora seja um problema crônico, o diabetes pode e deve ser controlado.
Mundialmente, aproximadamente 422 milhões de pessoas têm DM e 1,6 milhões de mortes são atribuídas diretamente essa doença por ano (WHO, 2013). No Brasil, o DM foi responsável por 43.787 mortes em 1990 e 107.760 óbitos em 2019, mais que o dobro. A literatura documenta como fatores associados ao DM, características sociodemográficas como é o caso das profundas desigualdades sociais e em saúde, história familiar, obesidade, hipertensão arterial, prática insuficiente de atividade física, tabagismo e consumo de álcool (Malta et al, 2019).
Embora a PNS 2019 tenha identificado uma prevalência de diabetes autorreferido de 7,7% em indivíduos com 18 anos ou mais (um em cada 13 brasileiros, o que representa um contingente populacional afetado de 12,3 milhões de pessoas), há algumas especificidades na sua distribuição: (1) atinge principalmente as mulheres; (2) o aumento de idade tem um peso muito grande na prevalência: é dez vezes mais elevada após os 40 anos e aproximadamente 25 vezes maior após 60 anos; (3) não há diferenciações por raça/cor; (4) está associado a hábitos como ser fumante e a problemas de saúde como hipertensão, doença cardíaca, colesterol elevado, sobrepeso e obesidade. Como a maioria dos problemas de saúde, o DM também se associa à alimentação de baixa qualidade, à falta de atividades físicas e ao consumo abusivo de álcool. A PNS 2019 mostra que elevada escolaridade e renda são indicadores positivos na prevenção do DM, geralmente porque os componentes dessa população estão mais atentos à prevenção e têm mais condições de consumir alimentos saudáveis.
O DM não é uma doença de idosos, mas os atinge em cheio. Aproximadamente um quinto dessa população apresenta esse agravo, em função de mecanismos fisiopatológicos do envelhecimento, inatividade física, alimentação inadequada, aumento da obesidade e maior oportunidade de diagnóstico. Entretanto, o estudo aponta que a população jovem de 25 a 39 anos já apresenta prevalências elevadas, mostrando que ela vem ocorrendo cada vez mais precocemente, o que muitos estudos explicam como associado a estilos de vida não saudáveis. Destaca-se que o consumo de 400 g de frutas, verduras e legumes, o incentivo a alimentos como grãos minimamente processados, feijão, redução de gorduras e sal, faz parte das diretrizes e orientações repassadas pelas equipes de saúde aos indivíduos com DM.
Em resumo, o estudo de Malta et al (2022) desdobra e analisa cada um dos fatores de risco e proteção e é representativa da população brasileira. Desta forma, seus achados são úteis para apoiar a formulação das políticas públicas intersetoriais e do SUS, particularmente, seu Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas no Brasil, que se soma aos objetivos do desenvolvimento sustentável (ONU, 2016), atendendo a necessidades nacionais e compromissos globais.
Referências
ISER, B.P.M. Prevalência de diabetes autorreferido no Brasil: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2015, vol. 24, no. 2, pp. 305-314 [viewed 29 July 2022]. https://doi.org/10.5123/S1679-49742015000200013. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/kwqktpkDz3KwqcsLggcPvmM/?lang=pt
MALTA, D.C., et al. Prevalência de diabetes mellitus determinada pela hemoglobina glicada na população adulta brasileira. Pesquisa Nacional de Saúde. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2018, vol. 22, Suppl. 2, e190006 [viewed 29 July 2022]. https://doi.org/10.1590/1980-549720190006.supl.2. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/qQttB6XwmqzJYgcZKfpMV7L/?lang=pt
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020 [online]. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. 2020 [viewed 29 July 2022]. Available from: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf
UNITED NATIONS. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development [online]. United Nations. 2016 [viewed 29 July 2022]. Available from: https://sdgs.un.org/2030agenda
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global action plan for the prevention and control of NCDs 2013-2020. Génève: WHO, 2013 [viewed 29 July 2022]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789241506236
Para ler o artigo, acesse
MALTA, D.C., et al. Diabetes autorreferido e fatores associados na população adulta brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde, 2019. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 7, pp. 2643-2653 [viewed 29 July 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-81232022277.02572022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/FC39MrV7mL43ZNgTDjjtfgB/?lang=pt
Links externos
Para ler a edição temática completa acesse: https://www.scielo.br/j/csc/i/2022.v27n7/
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