Antonio Carlos Ligocki Campos, presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), Curitiba, PR, Brasil.
O artigo Brazilian multi-society position statement on emerging bariatric and metabolic surgical procedures, publicado nos Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva e escrito pelos presidentes das três Sociedades Cirúrgicas brasileiras, apresenta uma avaliação das evidências científicas sobre procedimentos da cirurgia bariátrica.
A obesidade é uma doença crônica e progressiva, multifatorial e de difícil resolução. Frequentemente se associa a comorbidades relevantes, como Diabetes Mellitus, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, conhecidos como síndrome metabólica, com grande impacto para a saúde do indivíduo acometido e para todo o sistema de saúde. Sua incidência está aumentando em todo o mundo e já atinge níveis alarmantes no Brasil.
O tratamento da obesidade é complexo e, mesmo quando se obtém perda de peso adequada, infelizmente se associa a altos índices de recidiva. Com o objetivo de vencer os desafios de se obter perda de peso durável e redução das comorbidades, a cirurgia bariátrica e metabólica se apresenta como método superior às outras modalidades de tratamento em termos de eficácia e durabilidade, o que justifica o aumento no número de procedimentos bariátricos em todo o mundo.
O Brasil é o segundo país no mundo em número de cirurgias bariátricas, atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se que são realizados quase cem mil procedimentos anuais no nosso país.
No início dos anos 90 no século passado, o Instituto de Saúde dos Estados Unidos (NIH) definiu as indicações cirúrgicas, baseado no Índice de Massa Corpórea (IMC) do paciente e elencou alguns procedimentos que poderiam ser utilizados. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM), através da resolução 2131/15, baseado na recomendação do NIH, determinou os mesmos níveis de IMC para indicar a cirurgia e autorizou especificamente 4 procedimentos que poderiam ser empregados no nosso país.
Entretanto, a medicina avança rapidamente e de forma bastante dinâmica. Dois destes procedimentos recomendados pelo CFM foram abandonados da prática diária por se mostrarem ineficientes para perda de peso ou associados a número inaceitável de complicações. Por outro lado, diversos outros procedimentos têm sido empregados no mundo há mais de duas décadas, com inegável sucesso. Considerando as peculiaridades de cada paciente e os objetivos do tratamento para cada caso é interessante que o cirurgião possa ter um leque maior de opções de procedimentos para adequar melhor a cirurgia para cada caso.
Procurando avançar neste tema tão importante, em 2021 foi organizado o Fórum Brasileiro de Cirurgias Emergentes, com mais de 400 especialistas e acadêmicos com amplo conhecimento sobre cirurgia bariátrica e metabólica, representando três sociedades cirúrgicas diretamente envolvidas com cirurgia bariátrica: a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) e o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Palestrantes internacionais participaram online e apresentaram suas experiências com as técnicas em discussão, enfatizando as políticas regulatórias de seus países.
As sociedades médicas mencionadas acima decidiram avaliar com profundidade as evidências científicas mais atuais sobre cada procedimento empregado em cirurgia bariátrica atualmente em todo o mundo. O resultado deste trabalho está condensado neste “Position Paper” inédito, assinado pelos três Presidentes 3 dessas sociedades. Trata-se de uma declaração multissocietária de posicionamento sobre novos procedimentos cirúrgicos bariátricos e metabólicos emergentes.
As indicações para cirurgia e os procedimentos foram cuidadosamente revisados. As recomendações deste documento são baseadas em extensa revisão da literatura e discussões entre especialistas em cirurgia bariátrica e foram aprovadas pelas três sociedades cirúrgicas mencionadas. Concluímos que os pacientes com índice de massa corpórea (IMC) acima de 30 kg/m2 podem ser candidatos à cirurgia metabólica na presença de comorbidades (hipertensão arterial e diabetes tipo 2), sem resposta ao tratamento clínico da obesidade ou no controle de outras doenças associadas.
Em relação aos procedimentos cirúrgicos, concluímos que o bypass gástrico de uma anastomose (OAGB) (Figura 1), a anastomose duodeno-Ileal única com gastrectomia vertical (OADS ou SADI-S) (Figura 2) e a gastrectomia vertical com bipartição de trânsito (SGTB) (Figura 3) estão associados a baixas taxas de morbidade, perda de peso satisfatória e resolução de comorbidades relacionadas à obesidade, como diabetes e hipertensão arterial. A SGII (Figura 4) foi considerada uma técnica cirúrgica viável, sendo considerada uma alternativa promissora.
Figura 1. Baypass gástrico com uma anastomose (OAGB)
Figura 2. Gastrectomia vertical com uma anastomose duodeno-ileal (SADI-S) ou uma anastomose “duodenal switch” (OADS).
Figura 3. Gastrectomia vertical com bipartição (SGTB)
Figura 4. Gastrectomia vertical com interposição ileal (SGII).
As recomendações desta declaração visam sincronizar nossas sociedades com os sentimentos e entendimentos da maioria de nossos membros e também servir como um guia para futuras decisões sobre procedimentos cirúrgicos bariátricos em nosso país e no mundo.
Para ler o artigo, acesse
VALEZI, A.C., CAMPOS, A.C.L and VON BAHTEN, L.C. Brazilian multi-society position statement on emerging bariatric and metabolic surgical procedures. ABCD Arq Bras. Cir Dig. [online]. 2023, vol. 36, e1759 [viewed 10 October 2023]. https://doi.org/10.1590/0102-672020230041e1759. Available from: https://www.scielo.br/j/abcd/a/gGQfW7JbJrFvbZ7LPDhtbwF/
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