Rodrigo Gurgel-Gonçalves, Professor e Biólogo da Universidade de Brasília (UnB), Faculdade de Medicina, Laboratório de Parasitologia Médica e Biologia Vetores, Brasília, DF, Brasil
“Estamos lidando com uma situação sem precedentes”, afirma o Dr. Rodrigo Gurgel-Gonçalves, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em controle de vetores, um dos autores do artigo The greatest Dengue epidemic in Brazil: Surveillance, Prevention, and Control, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (vol. 57. 2024). Ainda segundo ele, a combinação de fatores climáticos, como o aumento da temperatura e chuvas irregulares, com a resistência crescente do mosquito aos inseticidas e a dificuldade em eliminar criadouros, tornou o controle da dengue mais desafiador do que nunca”, ressalta.
Nos últimos 25 anos, quase 18 milhões de brasileiros foram infectados pelo vírus da dengue. A epidemia de 2024 já superou todas as anteriores em números de casos e mortalidade, afetando todas as regiões do Brasil. Os quatro sorotipos do vírus estão em circulação simultânea, aumentando o risco de reinfecção e casos graves.
Avanços tecnológicos e desafios no controle de Aedes aegypti
O Brasil tem implementado novas tecnologias para combater o mosquito Aedes aegypti, como a liberação de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, que reduz a capacidade do mosquito de transmitir o vírus. Outra estratégia é o uso de inseticidas disseminados pelos próprios mosquitos, além de vacinas que vêm sendo testadas.
“Essas tecnologias têm grande potencial, mas precisam ser integradas a políticas públicas eficazes e à mobilização da população”, explica o Dr. Gurgel. Ele atenta que a adoção de métodos inovadores, como a vacina da Takeda, incorporada ao sistema público de saúde, e a vacina do Instituto Butantan, em fase avançada de testes, pode contribuir para a redução significativa dos casos de dengue no futuro.
Apesar dos avanços, o Dr. Gurgel alerta para a necessidade de engajamento contínuo da sociedade na eliminação de criadouros de mosquitos e na manutenção da limpeza urbana. “É um esforço coletivo”, diz ele, frisando que a comunidade deve continuar ativa na eliminação de possíveis focos de mosquito, e campanhas de conscientização, como o “Dia D contra a Dengue,” precisam ser reforçadas.
Além disso, o pesquisador destaca que as mudanças climáticas aumentam o desafio de controle da dengue em áreas antes livres da doença, como regiões de maior altitude. “Estamos vendo o surgimento de focos de dengue em lugares que antes eram considerados barreiras naturais contra a transmissão, o que evidencia a urgência de adaptar nossas estratégias de saúde pública”, enfatiza.
O Dr. Gurgel salienta ainda que as alterações climáticas têm profundas implicações no ciclo de vida e na distribuição de Aedes aegypti. “As temperaturas mais elevadas aceleram a reprodução dos mosquitos, aumentam as taxas de picada e encurtam o período de incubação viral nos mosquitos, o que potencializa a transmissão da dengue”, complementa.
Questionado sobre as expectativas de que novas vacinas e tecnologias de controle de Aedes aegypti sejam mais amplamente adotadas nos próximos anos, o Dr. Gurgel espera que o Brasil consiga reduzir significativamente o número de casos de dengue. No entanto, segundo ele, o sucesso depende de um enfoque multissetorial, que inclua melhorias no saneamento, vigilância epidemiológica contínua e, principalmente, a conscientização e mobilização da sociedade.
“Não há uma bala de prata para eliminar Aedes aegypti. Precisamos de uma combinação de tecnologias, políticas públicas eficazes e um engajamento constante da população para controlar esta epidemia,” conclui.
Para ler o artigo, acesse
GURGEL-GONÇALVES, R., OLIVEIRA, W.K. and CRODA, J. The greatest Dengue epidemic in Brazil: Surveillance, Prevention, and Control. Rev Soc Bras Med Trop. [online]. 2024, vol. 57, e002032024 [viewed 28 November 2024]. https://doi.org/10.1590/0037-8682-0113-2024. Available from: https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/gTT8ZZVR8g4Xx9xQPyp4GBz/
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