Por Monique Campos, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
O estudo “Vacinas anti-leishmaniose visceral canina podem interferir no diagnóstico sorológico preconizado pelo Ministério da Saúde brasileiro?”, publicado na Ciência Rural, v. 47, n. 4 de 2017, teve como objetivo avaliar a soroconversão em cães imunizados com as vacinas Leishmune® e Leish tec®, durante um ano após o protocolo vacinal, com o uso do teste imunocromatográfico rápido DPP® (Dual Path Platform) e do ensaio imunoenzimático (EIE). Para isso, os pesquisadores avaliaram 22 cães divididos em dois grupos, imunizados cada um com uma vacina anti-LVC e acompanhados durante um ano por meio de avaliação clínica e exames laboratoriais. Os resultados de todos os cães deram negativos para LVC nos três tempos analisados: 30 dias, 6 meses e 1 ano após a vacinação. Além disso, os pesquisadores comprovaram a eficiência dos métodos diagnósticos sorológicos (DPP e EIE) utilizados como triagem pelo Ministério da Saúde em cães infectados por Leishmania infantum, demonstrando que esses testes foram capazes de triar os verdadeiros cães infectados. E que a implementação desses testes melhorou o diagnóstico da LVC no Brasil (SCHUBACH, et al., 2014).
Para a pesquisadora Monique Campos, os resultados do estudo preenchem uma lacuna científica sobre as vacinas anti-Leishmania no Brasil, cuja utilização vem sendo discutida sobre a possibilidade da soroconversão de cães imunizados e à geração de resultados falso-positivos nos testes sorológicos destes animais. “O estudo comprova que isso pode não acontecer, já que na amostra avaliada as vacinas não proporcionaram a soroconversão dos cães, independentemente da vacina utilizada”, comenta ela. A pesquisa foi feita por pesquisadores independentes que não estão envolvidos diretamente com o desenvolvimento, fabricação e comercialização das vacinas.
Embora o Ministério da Saúde (2006) não recomende o uso das vacinas como forma de controle, este estudo serve como fonte de informação para discussão de novas formas de controle da doença. “Hoje, uma das medidas de controle é o recolhimento e eutanásia dos cães infectados, medida que, além de não parecer efetiva, causa incômodo e crítica sociais por parte da classe veterinária e sociedades protetoras de animais. Ao mostrar que um animal vacinado não é reagente nos testes, o estudo comprova que não seria feita a eutanásia de um animal falso positivo”, continua ela.
Referências
Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral [online]. Brasília: Ministério da Saúde, 2006 [viewed 17 may 2017]. Available from: http://www.icict.fiocruz.br/sites/www.icict.fiocruz.br/ files/Manual_Vigilancia_Controle_Leishmaniose_Visceral.pdf
SCHUBACH, E. Y. P., et al. Accuracy and reproducibility of a rapid chromatographic immunoassay for the diagnosis of canine visceral leishmaniasis in Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene [online]. 2014, vol. 108, pp. 568-574 [Viewed 10 july 2016]. DOI: 10.1093/trstmh/tru109. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25015665
Para ler o artigo, acesse
CAMPOS, M. P., et al. Vacinas anti-leishmaniose visceral canina podem interferir no diagnóstico sorológico preconizado pelo Ministério da Saúde brasileiro?. Cienc. Rural, Santa Maria [online] 2017, vol. 47, no. 4, e20160846 [viewed 17 may 2017]. DOI: 10.1590/0103-8478cr20160846. Available from: http://ref.scielo.org/qmpxyy.
Link externo
Ciência Rural – CR: <http://www.scielo.br/cr>
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