Por Elaine Cristina Vargas Dadalto, professora de Odontopediatria, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Maruípe, ES, Brasil
Artigo intitulado “Conhecimentos sobre benefícios do aleitamento materno e desvantagens da chupeta relacionados à prática das mães ao lidar com recém-nascidos pré-termo”, publicado no volume 35, número 4 da Revista Paulista de Pediatria, destaca que o recém-nascido prematuro que necessita de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal e alimentação por meio de sonda gástrica pode apresentar, como consequência, atraso da maturidade da função de sucção e sua atividade coordenada com a respiração e deglutição, dependendo da idade gestacional e peso ao nascimento. Para a alta hospitalar, é necessário que o recém-nascido, além de obter condições sistêmicas, recupere também a atividade de sucção para que a alimentação oral seja segura. A estimulação da sucção não nutritiva tem sido preconizada para antecipar o início da alimentação por sucção, visando reduzir o tempo de permanência no hospital (KAMHAWY, et al., 2014), e o estabelecimento do aleitamento materno se associa à menor necessidade da sucção não nutritiva complementar (GOES et al., 2013). A oferta de chupeta para estimular a sucção não nutritiva representa um fenômeno cultural (DADALTO; ROSA, 2013), mas é motivo de controvérsia entre profissionais de saúde. Dessa forma, o estudo da UFES teve como objetivo avaliar os conhecimentos e expectativas de mães de prematuros internados em UTI neonatal sobre aleitamento materno e uso de chupeta, além de analisar a vivência dessas mães ao lidar com a necessidade de sucção nos primeiros meses de vida dos bebês.
Nesta pesquisa, foram entrevistadas inicialmente 62 mães — e 52 após seis meses — de recém-nascidos com idade gestacional inferior a 37 semanas internados em uma UTI neonatal pública e uma particular na cidade de Vitória (ES), entre fevereiro e junho de 2011.
Os resultados apresentados demonstraram que as mães tinham conhecimento prévio sobre os benefícios da amamentação, porém a maioria teve dificuldades para manter o aleitamento materno exclusivo após a alta da UTI neonatal e introduziram a mamadeira, afirma a professora Dra. Elaine Cristina Vargas Dadalto, uma das autoras da pesquisa. Da mesma forma, o estudo mostrou que as mães tinham conhecimento sobre as desvantagens da chupeta, mas mudaram sua concepção diante da interpretação de que esta poderia acalmar o bebê. Em contrapartida, a opinião preliminar de que a chupeta poderia trazer vantagens para a mãe e o bebê não influenciou no uso nos primeiros seis meses, uma vez que alguns bebês rejeitaram a chupeta, apesar de ter sido ofertada pela mãe.
Segundo Dra. Elaine, é relevante destacar que a necessidade do bebê para a sucção não nutritiva durante o processo do aleitamento materno nem sempre foi compreendida pelas mães. A expressão ‘o bebê faz meu peito de chupeta’ foi muito citada, comenta. No grupo de bebês que não usava chupeta, o sentido da frase foi positivo referindo ao fato de que o bebê continuava no peito e, portanto, não necessitava de chupeta. No grupo que usava chupeta, a interpretação foi de que o bebê deveria somente extrair o leite, de forma que a mãe fez com que o bebê não agisse mais assim, o que ocorreu após a introdução da chupeta. Nesse ponto, o estudo contribui para que o conhecimento científico sobre a necessidade do bebê de realizar a sucção não nutritiva durante o aleitamento materno seja popularizado. As mães devem ser instruídas sobre este padrão que apresenta menor força de sucção, especialmente nos prematuros, mas que é importante para a satisfação do bebê, que não necessitará recorrer à sucção adicional de chupeta.
O estudo evidenciou a dificuldade das mães para estabelecer o aleitamento materno exclusivo após a alta da UTI neonatal, o que poderia ser prevenido com a instituição de políticas públicas para proporcionar acompanhamento domiciliar de bebês prematuros após a alta hospitalar, uma vez que a maioria das mães não reside próximo ao hospital, o que restringe o acesso ao auxílio profissional. Nas visitas domiciliares, além da detecção de problemas relacionados ao aleitamento, a motivação das mães deve ocorrer a partir da sugestão de alternativas para lidar com o choro e a necessidade de sucção do bebê, promovendo uma boa interação mãe bebê para o sucesso da amamentação.
Referências
DADALTO, E.C.V. and ROSA, E.M. Aspectos culturais para a oferta da chupeta às crianças. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. [online]. 2013, vol. 23, no. 2, pp. 231-237, ISSN: 0104-1282 [viewed 09 February 2018]. Avaliable from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822013000200017&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
GOES, M.P.S., et al. Persistência de hábitos de sucção não nutritiva: prevalência e fatores associados. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. [online]. 2013, vol. 13, no. 3, pp. 247-257, ISSN: 1806-9304 [viewed 09 February 2018]. DOI: 10.1590/S1519-38292013000300006. Avaliable from: http://ref.scielo.org/xh534m
KAMHAWY, H., et al. Non‑nutritive sucking for preterm infants in Egypt. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. [online]. 2014, vol. 43, no. 3, pp. 330-340, ISSN: 1552-6909 [viewed 09 February 2018]. DOI: 10.1111/1552-6909.12310. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24754382
Para ler o artigo, acesse
DADALTO, E.C.V. and ROSA, E.M. Conhecimentos sobre benefícios do aleitamento materno e desvantagens da chupeta relacionados à prática das mães ao lidar com recém-nascidos pré-termo. Rev. paul. pediatr. [online]. 2017, vol. 35, no. 4, pp. 399-406, ISSN: 0103-0582 [viewed 09 February 2018]. DOI: 10.1590/1984-0462/;2017;35;4;00005. Avaliable from: http://ref.scielo.org/h5wzzh
Link externo
Revista Paulista de Pediatria – RPP: <http://www.scielo.br/rpp>
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