Por Andreza Viana Lopes Cardoso, Mestranda em Saúde Coletiva, Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
Os resultados da pesquisa “Uso e resolutividade de serviços públicos de saúde bucal ofertados a crianças em município de grande porte” estão publicados na Revista Gaúcha de Odontologia — RGO (vol. 66, no. 1) e revelaram que a atenção à saúde bucal de crianças ainda é um grande desafio para os serviços de saúde. Do total de crianças com necessidade de tratamento odontológico (n=1344), aproximadamente metade não usou o serviço de saúde bucal no ano avaliado. Esse uso foi maior nas crianças com necessidade de tratamento odontológico em maior número de dentes. Contudo, observaram menor uso nas crianças com muito elevado risco socioeconômico. Do total de crianças em tratamento, em 49,6% o tratamento foi concluído. Dessas, 5,2% abandonaram o tratamento e 10,2% foram encaminhadas para a atenção secundária. Os pesquisadores observaram que a frequência de abandono de tratamento foi maior entre as crianças com pior nível socioeconômico, já o percentual de tratamento concluído foi menor nesse grupo de crianças. Esses resultados mostram que a atenção à saúde bucal de crianças é ainda uma realidade desafiadora aos serviços de saúde, pois revelam iniquidades persistentes no uso e na resolutividade dos serviços de saúde bucal, que foram menores para crianças com pior condição socioeconômica. Resultados observados em consonância com a literatura (MACHRY, et al., 2013; NARVAI, et al., 2006); RODRIGUES, et al., 2014).
Os dados do estudo foram coletados do levantamento anual de necessidades em saúde bucal realizado pelas Equipes de Saúde Bucal de Unidades Básicas de Saúde de Belo Horizonte e as variáveis socioeconômicas foram provenientes da consulta a prontuários e a sistemas de informação do SUS. Esta área de estudo é relevante pois, além da cárie dentária — já considerada como problema de saúde pública de alta prevalência —, outros fatores exercem influência no perfil de saúde bucal das crianças, como condição socioeconômica.
Sendo assim, são necessárias ações que aproximem os serviços odontológicos à realidade da criança, favorecendo a criação de vínculo, a busca ativa daquelas com maior necessidade e oportunidades de trabalho em promoção da saúde fora da clínica. Além disso, a priorização e o planejamento das ações em saúde bucal devem levar em conta, além da necessidade observada nos levantamentos, outros determinantes de saúde, principalmente nos grupos menos favorecidos.
Referências
MACHRY, R.V., et al. Socioeconomic and psychosocial predictors of dental healthcare use among Brazilian preschool children. BMC Oral Health [online]. 2014, vol. 13, no. 60, ISSN: 1472-6831 [viewed 22 May 2018]. DOI: 10.1186/1472-6831-13-60. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24171711
NARVAI, P.C., et al. Cárie dentária no Brasil: declínio, iniquidade e exclusão social. Rev Panam Salud Publica [online]. 2006, vol. 19, no. 6, pp. 385-93, ISSN: 1680-5348 [viewed 22 May 2018]. Available from: https://www.scielosp.org/article/rpsp/2006.v19n6/385-393/pt/
RODRIGUES, L.A.M., et al. Uso de serviços odontológicos entre pré-escolares: estudo de base populacional. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2014, vol. 19, no. 10, pp. 4247-4256, ISSN: 1413-8123 [viewed 22 May 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320141910.13382013. Available from: http://ref.scielo.org/n6zzm8
Para ler o artigo, acesse
CARDOSO, A.V.L., et al. Uso e resolutividade de serviços públicos de saúde bucal ofertados a crianças em município de grande porte. RGO, Rev. Gaúch. Odontol. [online]. 2018, vol. 66, no. 1, pp. 60-69, ISSN: 1981-8637 [viewed 22 May 2018]. DOI: 10.1590/1981-863720180001000083293. Available from: http://ref.scielo.org/xqqvnc
Link externo
RGO – Revista Gaúcha de Odontologia: <http://www.scielo.br/rgo>
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