Por Luciano Machado Ferreira Tenório de Oliveira, Professor da Faculdade Boa Viagem Universidade Federal de Pernambuco, Recife (PE), Brasil
A percepção da qualidade do sono, independentemente da quantidade de horas dormidas e do tempo de estudo fora da escola, foi associada com a dificuldade de assimilação do conteúdo abordado em sala de aula percebida pelo aluno adolescente.
Foi o que concluíram pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, Pernambuco, que avaliaram 481 jovens com idade entre 14 e 19 anos, de ambos os sexos, estudantes de 15 escolas da rede pública estadual de ensino médio da cidade de Caruaru, Pernambuco. O estudo “Associação entre a percepção da qualidade do sono e a assimilação do conteúdo abordado em sala de aula” foi publicado na Revista Paulista de Pediatria (vol. 36, no. 3).
O estudo descritivo com abordagem quantitativa aplicou questionários em sala de aula, na forma de entrevista coletiva sem a presença dos professores. A percepção da qualidade do sono foi mensurada com a pergunta “Como você avalia a qualidade do seu sono?”, com as alternativas “Dorme bem”, para aqueles que avaliaram como boa, muito boa ou excelente; e “Não dorme bem”, para aqueles que avaliaram como ruim ou regular. A percepção da assimilação do conteúdo abordado em sala de aula foi avaliada a partir da pergunta “Você tem dificuldades para assimilar o conteúdo abordado em sala de aula?”, com as alternativas “Sim” e “Não”.
Com uma prevalência de 54,1% de participantes do sexo feminino, o estudo mostrou que 44,1% dos adolescentes relataram dificuldade de assimilação do conteúdo abordado em sala, 77,1% dormiam menos de 8 horas e 28,9% tinham uma percepção da qualidade do sono ruim. Os jovens que estudavam pelo menos uma hora por dia fora da sala de aula tinham menos chances de ter dificuldade de assimilação do conteúdo abordado na escola. Já os entrevistados que relataram ter uma percepção da qualidade do sono ruim tinham mais chances de ter dificuldade de assimilação do assunto abordado em sala, independentemente do sexo, da idade, do turno, do tempo de estudo fora da sala de aula e da quantidade de horas dormidas.
O estudo não encontrou associação significativa entre a quantidade de horas dormidas e a assimilação do conteúdo abordado na escola. A quantidade diária de sono necessária para o revigoramento do corpo e do cérebro pode diferir entre os indivíduos, e os pesquisadores ressaltam que existem alguns perfis de dormidores, os que se satisfazem com menos de seis horas diárias de sono — curtos dormidores — e outros que necessitam de cerca de nove horas diárias de sono — longos dormidores (AESCHBACH, et al., 1996).
Um resultado preocupante encontrado no estudo foi que quase metade dos adolescentes relatou sentir dificuldade de assimilação do conteúdo abordado na aula, o que merece ser investigado com mais detalhes a fim de esclarecer melhor o significado e a origem dessas dificuldades. Os pesquisadores destacam a necessidade de maior atenção à percepção da qualidade do sono e ao tempo de estudo fora da sala de aula dos adolescentes, visando uma melhor assimilação dos conteúdos. Pesquisas com uma abordagem qualitativa com aqueles que relataram sentir dificuldades de assimilação podem ser interessantes para agir pontualmente nos motivos específicos que estão acarretando tais dificuldades.
Referência
AESCHBACH, D., et al. Homeostatic sleep regulation in habitual short sleepers and long sleepers. Am J Physiol [online]. 1996, vol. 270 (1 Pt 2), pp. R41-53, ISSN: 0002-9513 [viewed 9 August 2018] DOI: 10.1152/ajpregu.1996.270.1.R41. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8769783
Para ler o artigo, acesse
BATISTA, G.A., et al. Associação entre a percepção da qualidade do sono e a assimilação do conteúdo abordado em sala de aula. Rev. paul. pediatr. [online]. Ahead of print. 2018, ISSN: 0103-0582 [viewed 9 August 2018]. DOI: 10.1590/1984-0462/;2018;36;3;00008. Available from: http://ref.scielo.org/5rczdk
Links externos
Revista Paulista de Pediatria – RPP <http://www.scielo.br/rpp>
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