Por Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe e Luiza Gualhano, Assistente de comunicação, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Dentro dessa visão, é importante criticar uma declaração atual do Ministério da Saúde que, desculpando-se (ou tirando o corpo fora) a respeito da diminuição significativa dos leitos hospitalares e frente às intermináveis filas e mortes nas salas de espera dos hospitais, afirmou que o Brasil segue uma tendência mundial de queda no número dos leitos e de internações. Esse é um raciocínio totalmente equivocado e fora de propósito para o caso brasileiro. Pois se é verdade que nos países mais avançados a tendência é diminuir as hospitalizações, essa decisão foi tomada frente a um sistema já funcionando em plena capacidade e mediante uma política consistente de tratamento em casa ou nos ambulatórios.
Portanto, embora, sob a ótica da saúde coletiva o mais importante do ponto de vista populacional sejam ações e comportamentos dentro de uma visão abrangente de promoção da saúde, não se pode esquecer que o Estado é responsável por atender e cuidar das pessoas doentes, amparando-as em suas experiências de enfermidade e sofrimento, não sendo justo deixar sua situação a cargo e ônus apenas das famílias. Quando o cuidado médico (em sentido pleno) falha, instala-se a desesperança e a descrença no SUS. Por isso, os textos desta edição advogam a importância de se ater aos dois lados da moeda (promoção, prevenção e tratamento médico em tempo e adequado) precisam ser igualmente valorizados.
Os principais temas aqui tratados chamam atenção para vários aspectos da experiência de adoecimento: as que tocam o cotidiano, como é o caso da dor lombar em gestantes (DUARTE; MEUCCI; CESAR, 2018), a relação entre consumo alimentar e riscos cardiovasculares e os transtornos mentais mais comuns na população. Há outros textos que aprofundam o significado do adoecimento na vida social e sexual, como é a discussão sobre o tratamento do câncer peniano (SOUZA, et al., 2018); das análises, métodos e medidas de avaliação de determinados procedimentos para cuidados com pacientes frágeis como idosos (BASTOS, et al., 2018; MAGALHÃES; GOULART; PREARO, 2018) e portadores de Aids (DERESZ, et al., 2018). Todas as faixas etárias são contempladas nos trabalhos. Por exemplo, alguns discorrem sobre os problemas respiratórios que afetam as crianças e os articulam a questões ambientais e condições socioeconômicas (SOUZA, et al., 2018). A edição apresenta também pelo menos dois textos sobre sífilis, um tema que persiste na pauta das doenças infectocontagiosas do país (TEIXEIRA, et al., 2018). Teoricamente, este número temático é formado por maioria de estudos epidemiológicos, fundamentais tanto para o diagnóstico de âmbito populacional como para o planejamento das ações de saúde. Apenas um trabalho utiliza a abordagem qualitativa, tão importante para se entender as razões dos doentes. Esse trata das diferenças do discurso médico e as preocupações dos pacientes (PALMEIRA; GEWEHR, 2018).
Os assuntos aqui mencionados são alguns dos que esta rica edição oferece aos leitores sempre chamando atenção para as mudanças no quadro demográfico e epidemiológico do país, o que clama por investimentos intensos no SUS e na sua gestão adequada.
Referências
BASTOS, L.M., et al. Avaliação do nível de conhecimento em relação à Aids e sífilis por idosos do interior cearense, Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2495-2502, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.10072016. Available from: http://ref.scielo.org/sfmcmp
DERESZ, L.F., et al. Consumo alimentar e risco cardiovascular em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2533-2542, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.20542016. Available from: http://ref.scielo.org/twrvd5
DUARTE, V.M., MEUCCI, R.D. and CESAR, J.A. Dor lombar intensa em gestantes do extremo Sul do Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2487-2494, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.22562016. Available from: http://ref.scielo.org/5qvzfd
MAGALHÃES, F.G., GOULART, R.M.M. and PREARO, L.C. Impacto de um programa de intervenção nutricional com idosos portadores de doença renal crônica. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2555-2564, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.23972016. Available from: http://ref.scielo.org/w7mpft
PALMEIRA, A.B.P. and GEWEHR, R.B. O lugar da experiência do adoecimento no entendimento da doença: discurso médico e subjetividade. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2469-2478, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.15842016. Available from: http://ref.scielo.org/kgrwkd
SOUZA, E.C.O., et al. Fatores socioeconômicos e risco para a hospitalização por asmaem crianças em municípios de Mato Grosso, Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2523-2532, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.18692016. Available from: http://ref.scielo.org/gzst4n
SOUZA, M.A.C., et al. Análise de sobrevida de pacientes com câncer de pênis tratados em um hospital oncológico terciário. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2479-2486, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.17692016. Available from: http://ref.scielo.org/fq7jyb
TEIXEIRA, L.O., et al. Tendência temporal e distribuição espacial da sífilis congênita no estado do Rio Grande do Sul entre 2001 e 2012. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 8, pp. 2587-2597, ISSN: 1413-8123 [viewed 28 August 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018238.25422016. Available from: http://ref.scielo.org/qkd3z2
Para ler os artigos, acesse
Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.8 Rio de Janeiro ago. 2018
Link externo
Ciência & Saúde Coletiva – CSC: <http://www.scielo.br/csc>
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários