Mulher-mãe: assim caminha a renovação da humanidade!

Por Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe e Luiza Gualhano, Assistente de comunicação, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Hierarquias produzidas pela intercessão entre classe e raça/etnia influenciam fortemente o acesso aos bens sociais. Nesse sentido, os avanços obtidos pela redução da pobreza não têm sido suficientes para garantir a qualidade igualitária da atenção à gestação e ao parto.

Embora profundas desigualdades continuem presentes, um novo discurso em relação à maternidade tornou-se hegemônico. Não mais vige a ideia de uma contingência biológica ou de um suposto instinto. Tornar-se mãe passou a ser escolha para a quase totalidade das mulheres e muitas práticas relativas à parturição e ao aleitamento emergiram como projetos pessoais e coletivos.

Os artigos apresentados nesta edição, de diferentes formas, tratam das repercussões das mudanças socioculturais e simbólicas atribuídas à maternidade e ao papel da mulher. Falam principalmente sobre direitos sexuais e reprodutivos que devem ser observados na atenção básica e em todo o conjunto de cuidados que os servidores da saúde devem oferecer ao ato de gestar e parir (MOYNIHAN, et al., 2013; LEAL, et al., 2018).

Os textos sobre os modelos de parto, por exemplo, homenageiam a participação do setor saúde no processo das mudanças referidas (TELO; WITT, 2018), embora alguns autores apontem também problemas em relação à qualidade do atendimento e aos preconceitos por parte dos profissionais contra mulheres não brancas, inclusive na Rede Cegonha (MESQUITA FILHO, et al., 2018; THEOPHILO; RATTNER; PEREIRA, 2018). Tais discriminações refletem como ideologias de gênero e racismo, atravessam a sociedade e também o trabalho em saúde (PEREIRA, et al., 2018; AYRES; HENRIQUES; AMORIM, 2018).

Em seu editorial (VILLELA, 2018) ressalta que, apesar das transformações evidentes, a sociedade ainda não reconhece a maternidade como um trabalho social feminino em favor de todos, o que urge ser feito, ao lado do reconhecimento das mulheres como agentes de sua própria vida.

Referências

AYRES, L.F.A., HENRIQUES, B.D. and AMORIM, W.M. A representação cultural de um “parto natural”: o ordenamento do corpo grávido em meados do século XX. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3525-3534, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.27812016. Available from: http://ref.scielo.org/qnf2sf

LEAL, M.C., et al. Saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil nos 30 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 1915-1928, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-81232018236.03942018. Available from: http://ref.scielo.org/vbkc6n

MESQUITA FILHO, M., et al. O preconceito contra a mulher entre trabalhadores da Atenção Primária em Saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3491-3504, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.00132017. Available from: http://ref.scielo.org/2jjg9k

MOYNIHAN, L. Contemporary Motherhood; An Intimate Look at Mothers in the 21st Century. Grand Rapids: Kendall College of Art and Design of Ferris State University, 2013.

PEREIRA, R.M., et al. Novas práticas de atenção ao parto e os desafios para a humanização da assistência nas regiões sul e sudeste do Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3517-3524, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.07832016. Available from: http://ref.scielo.org/5sgy7b

TELO, S.V. and WITT, R.R. Saúde sexual e reprodutiva: competências da equipe na Atenção Primária à Saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3481-3490, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.20962016. Available from: http://ref.scielo.org/bm8z3r

THEOPHILO, R.L., RATTNER, D. and PEREIRA, É.L. Vulnerabilidade de mulheres negras na atenção ao pré-natal e ao parto no SUS: análise da pesquisa da Ouvidoria Ativa. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3505-3516, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.31552016. Available from: http://ref.scielo.org/cskp9k

VILLELA, W.V. Ser mulher, gestar e parir: sentidos em transição e desafios para o setor saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2018, vol. 23, no. 11, pp. 3478-3478, ISSN: 1413-8123 [viewed 21 November 2018]. DOI: 10.1590/1413-812320182311.23522018. Available from: http://ref.scielo.org/vjfgpg

Para ler os artigos, acesse

Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.11 Rio de Janeiro Nov. 2018

Link externo

Ciência & Saúde Coletiva – CSC: <http://www.scielo.br/csc>