Serviço especializado de amamentação revela principais problemas das mulheres após alta hospitalar

Por Kelly Pereira Coca e Karla Oliveira Marcacine, docentes, Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem, SP, Brasil

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno (AM) seja exclusivo nos primeiros seis meses de vida e, complementado até os dois anos de idade da criança (WHO, 2003). Essa prática é considerada a melhor escolha para nutrição do recém-nascido (RN), promovendo proteção imunológica contra doenças respiratórias e infecções gastrointestinais, além do vínculo afetivo entre mãe e filho (VICTORA, et al., 2016). Apesar da recomendação e dos benefícios do AM, as taxas de amamentação em todo o mundo ainda estão longe de serem atingidas (ROLLINS, 2016) e diversas são as razões interferentes nessa prática. As mulheres podem desejar amamentar, no entanto, encontram barreiras social, cultural e política, durante todo o ciclo gravídico puerperal, prejudicando seu início e continuidade (BROWN, 2017).

Na busca por compreender esses fatores, o artigo “Dificuldades relacionadas ao aleitamento materno: análise de um serviço especializado em amamentação” publicado na Acta Paulista de Enfermagem (vol. 31, no. 4), avaliou, a partir de uma coorte retrospectiva de 12 anos, a associação entre o tipo de aleitamento e as dificuldades relacionadas à essa prática entre mulheres e crianças assistidas em um ambulatório especializado em amamentação. O serviço é reconhecido pela Associação Internacional de Consultores em Lactação, IBCLC. Pioneiro na área, oferece atendimento gratuito desde 2004 para as puérperas que desejam amamentar, atuando na identificação precoce das dificuldades, promovendo o aleitamento materno exclusivo (AME) e, consequentemente, contribuindo para a melhoria das taxas nacionais desta prática.

Dados de 1.673 puérperas mostraram que a percepção de baixa produção de leite e a técnica incorreta para amamentar foram as principais dificuldades apresentadas no primeiro mês pós-parto. O nível de escolaridade materna, a situação conjugal da mulher, sua experiência prévia com aleitamento materno, o formato invertido do mamilo, o contato pele-a-pele tardio com a criança logo após o parto, o uso de chupeta e a idade da criança também estiveram associadas ao desmame precoce.

Os achados contribuem para a compreensão das dificuldades para amamentar mais frequentes, de forma que o enfermeiro possa direcionar seu cuidado desde a alta hospitalar, evitando o desmame precoce, bem como, revelam a necessidade de novas investigações que promovam mudanças a partir de intervenções efetivas no atendimento à dupla mãe-criança para o sucesso do aleitamento materno.

Referências

BROWN, A. Breastfeeding as a public health responsibility: a review of the evidence. J Hum Nutr Diet [online]. 2017, vol. 30, no. 6, pp. 759-770, eISSN:1365-277X [viewed 14 December 2018]. DOI: 10.1111/jhn.12496. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28744924

ROLLINS, N. C., et al. Lancet Breastfeeding Series Group. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices? The Lancet [online]. 2016, vol. 387, no. 10017, pp. 491-504, ISSN: 0140-6736 [viewed 14 December 2018]. DOI: 10.1016/S0140-6736(15)01044-2. Available from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(15)01044-2/fulltext

VICTORA, C. G., et al. Lancet Breastfeeding Series Group. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. The Lancet [online]. 2016, vol. 387, no. 10017, pp. 475-490, ISSN: 0140-6736 [viewed 14 December 2018]. DOI: 10.1016/S0140-6736(16)30536-0. Available from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)30536-0/fulltext

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global strategy for infant and Young child feeding. Geneva: WHO, 2003.

Para ler o artigo, acesse

CARREIRO, J.A., et al. Dificuldades relacionadas ao aleitamento materno: análise de um serviço especializado em amamentação. Acta paul. Enferm [online]. 2018, vol. 31, no. 4, pp. 430-438, ISSN: 0103-2100 [viewed 14 December 2018]. DOI: 10.1590/1982-0194201800060. Available from: http://ref.scielo.org/z3yc32