Por Júlio César Lopardo Alves, Membro da equipe editorial da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, SP, Brasil
Quais são os aspectos positivos e negativos do trabalho relatados por indivíduos com esquizofrenia? O artigo “Experiência laboral e inclusão social de indivíduos com esquizofrenia” publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) discute o impacto do trabalho sobre a vida social e o tratamento de pessoas com esquizofrenia. Foram entrevistados 11 usuários de um ambulatório de especialidades da capital paulista, todos atendidos por um programa de inclusão laboral para indivíduos com esquizofrenia. O estudo destaca a importância de construir estratégias eficazes para a inclusão social de pessoas com esquizofrenia, considerando sempre as especificidades da doença e dos postos de trabalho.
Foram coletados dados sociodemográficos e ocupacionais dos entrevistados, que tinham entre 23 e 45 anos, boa adesão ao tratamento e pelo menos 2 meses de estabilidade do quadro psiquiátrico. As entrevistas duraram em média 20 minutos, foram realizadas em espaço reservado e partiram de uma pergunta narrativa geradora (MINAYO, 2012). Após o esclarecimento sobre o objetivo do estudo, os entrevistadores faziam a seguinte pergunta aos entrevistados: “o que você percebe como aspectos positivos e negativos na sua experiência com o trabalho?” Durante as entrevistas foram elaboradas perguntas complementares que permitissem o exame da dimensão experiencial dos participantes. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas exaustivamente. As informações foram trabalhadas por meio de técnicas de análise que possibilitassem a descrição objetiva dos conteúdos (MINAYO, 2012).
As experiências profissionais dos entrevistados foram representadas por 4 categorias que os autores discutem: 1) sobrecarga e falta de informação/orientação no trabalho; 2) a importância da remuneração; 3) assumindo responsabilidades, esperança e superação; 4) a vivência da doença, o cuidado com a saúde e o trabalho.
Participaram do estudo 10 homens e 1 mulher, com diferentes níveis de escolaridade: ensino fundamental (3), nível médio (5) e ensino superior (3). Todos haviam sido diagnosticados com esquizofrenia, o tempo médio de diagnóstico era 12 anos. Os participantes possuíam experiências profissionais em postos de trabalho formais e informais que, em geral, se caracterizavam pela baixa exigência de escolaridade. Quando o estudo foi realizado, apenas 4 estavam trabalhando: 3 com as próprias famílias, 1 como ajudante em igreja.
O trabalho é central na construção e fortalecimento da subjetividade (DEJOURS; BARROS; LANCMAN, 2016), e não é contraindicado para indivíduos com esquizofrenia (MARTINI, et al., 2018). Estratégias eficazes de inclusão laboral de pessoas com esquizofrenia precisam envolver empresas, familiares, serviços e profissionais da saúde mental. Os interesses e as capacidades dos indivíduos com esquizofrenia devem ser considerados. Os fatores estressantes relacionados aos postos de trabalho devem ser monitorados.
Referências
DEJOURS, C., BARROS, J. and LANCMAN, S. A centralidade do trabalho para a construção da saúde. Revista De Terapia Ocupacional Da Universidade De São Paulo [online]. 2016, vol. 27, no. 2, pp. 228-235, ISSN: 2238-6149 [viewed 5 November 2019]. DOI: 10.11606/issn.2238-6149.v27i2p228-235. Available from: http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/119227/116632
MARTINI, L.C., et al. Schizophrenia and work: aspects related to job acquisition in a follow-up study. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2018, vol. 40, no. 1, pp. 35-40, ISSN: 1516-4446 [viewed 5 November 2019]. DOI: 10.1590/1516-4446-2016-2128. Available from: http://ref.scielo.org/cprmw5
MINAYO, M.C.S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol. 17, no. 3, pp. 621-626, ISSN: 1413-8123 [viewed 5 November 2019]. DOI: 10.1590/S1413-81232012000300007. Available from: http://ref.scielo.org/nd74b8
Para ler o artigo, acesse
MARTINI, L.C., et al. Experiência laboral e inclusão social de indivíduos com esquizofrenia. Rev. bras. saúde ocup. [online]. 2019, vol. 44, e11, ISSN: 0303-7657 [viewed 5 November 2019]. DOI: 10.1590/2317-6369000022418. Available from: http://ref.scielo.org/zgtny6
Link externo
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO: <http://www.scielo.br/rbso>
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