Como os homens estão vivenciando a COVID-19?

Por Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe e Luiza Gualhano, Editora assistente, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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O artigo “Sentimento e emoções de homens no enquadramento da doença COVID-19”, publicado na edição temática sobre pandemia (HALLAL, 2020) do periódico Ciência & Saúde Coletiva (vol. 25, no. 9), apresenta um estudo sócio-histórico, qualitativo, em ambiente virtual com homens, de identidade cisgênera, transgênera e não binária, residentes no Brasil. Esse segmento foi recrutado mediante chamada e disponibilização de um link através de e-mails, convites inbox, Facebook, Instagram e WhatsApp. Para alcance dos participantes foi adotada a estratégia de recrutamento consecutivo Snowball 20. A coleta foi encerrada por conveniência ao alcançar 200 homens. A pesquisa foi operacionalizada durante o período de quarentena e distanciamento social a partir da 21ª semana epidemiológica do novo coronavírus (SOUSA et al., 2020). Observa-se, como uma limitação do trabalho, o fato de terem sido ouvidos apenas homens com acesso à internet (ESTRELA et al., 2020).

Eis os principais sentimentos narrados pelos homens que se manifestaram sobre a pandemia: (1) em primeiro lugar, tentativa de negar a gravidade da situação; (2) em seguida, preocupação e receio de que houvesse um colapso no sistema de saúde brasileiro em razão da incapacidade do governo de dar respostas às urgentes demandas; (3) solidariedade e preocupação com a integridade humana dos profissionais de saúde; (4) tensão, medo e dor face à vivência do contexto pandêmico; (5) compreensão do fenômeno e comoção frente ao cenário presenciado; (6) realização de ações concretas para diminuir o estresse, a ansiedade, a solidão e a incerteza; e (7) busca de extrair lições a partir das vivências do fenômeno.

Imagem: Gabriel Ramos.

É óbvio que o enfrentamento de uma pandemia depende, em primeiro lugar, das iniciativas do Estado, portanto, a preocupação com o processo confuso com que o governo federal se moveu e se comporta, mencionado pelos participantes, se baseia na visão de um país marcado por divergências partidárias, negacionismo do conhecimento científico e menosprezo de medidas sanitárias recomendadas por autoridades nacionais e internacionais. Os homens manifestaram que temem muito um cenário desfavorável para o país, e tais preocupações precedem as reflexões de ordem pessoal. Essas estão relacionadas ao trabalho e ao empenho de se manterem ativos. Eles falaram muito pouco das questões domésticas. O sofrimento pessoal dos homens pelo novo coronavírus contém uma espécie de masculinidade ferida em seu papel de provedores, o que se reflete no medo de ficar desempregado e na vontade de jogar tudo para o alto e enfrentar o perigo. Esses sentimentos que se apoiam na cultura patriarcal, elevam o estresse, a ansiedade e o medo (COVID-19 in Brazil, 2020; LIMA et al., 2020).

Foram muito pouco mencionados nas mensagens, os conflitos familiares, uma temática recorrente da mídia nesses tempos, denunciando aumento da violência conjugal e de feminicídios no Brasil e no mundo, nessa temporada em que ficar em casa, frequentemente representou um risco maior para a vida, a integridade física e os direitos das mulheres e das crianças (SILVA et al., 2020). Ou seja, essa pandemia não se mostra apenas como uma doença que definitivamente confronta a humanidade com suas fragilidades e com a morte, mas também, está expressando o pior e o melhor da vida em sociedade.

Referências

COVID-19 in Brazil: “So what?” The Lancet [online]. 2020, vol. 395, no. 10235, pp. 1461, ISSN: 0140-6736 [viewed 16 September 2020]. DOI: 10.1016/S0140-6736(20)31095-3. Available from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31095-3/fulltext

ESTRELA, F.M., et al. Pandemia da COVID 19: refletindo as vulnerabilidades a luz do gênero, raça e classe. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 9, pp. 3431-3436, ISSN: 1678-4561 [viewed 16 September 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020259.14052020. Available from: http://ref.scielo.org/3y8bym

HALLAL, P.C. Resistência e resiliência em tempos de pandemia. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 9, pp.3342-3342, ISSN: 1678-4561 [viewed 16 September 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020259.20312020. Available from: http://ref.scielo.org/3dqx9q

LIMA, D.L.F., et al. COVID-19 no estado do Ceará, Brasil: comportamentos e crenças na chegada da pandemia. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 5, pp. 1575-1586, ISSN: 1678-4561 [viewed 16 September 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020255.07192020. Available from: http://ref.scielo.org/6fgbm4

SILVA, A.F. da, et al. Elementos precipitadores/intensificadores da violência conjugal em tempo da COVID-19. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 9, pp. 3475-3480, ISSN: 1678-4561 [viewed 16 September 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020259.16132020. Available from: http://ref.scielo.org/4h8dtc

Para ler o artigo, acesse

SOUSA, A.R. de, et al. Sentimento e emoções de homens no enquadramento da doença COVID-19. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 9, pp. 3481-3491. ISSN: 1678-4561 [viewed 1 September 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020259.18772020. Available from: http://ref.scielo.org/m6dnh9

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

MINAYO, M.C.S. and GUALHANO, L.A. Como os homens estão vivenciando a COVID-19? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2020 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2020/09/16/como-os-homens-estao-vivenciando-a-covid-19/

 

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