Eficácia da ação coletiva no enfrentamento ao novo coronavírus no Nordeste

Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

O artigo de Ligia Kerr, et al. “COVID-19 no Nordeste brasileiro: sucessos e limitações nas respostas dos governos dos estados”, publicado no suplemento 2 de 2020, do periódico Logo do periódico Ciência & Saúde ColetivaCiência & Saúde Coletiva, é o segundo artigo no mesmo formato publicado neste ano (Aquino et al, 2020). Embora os objetivos do trabalho sejam bastante amplos e mereçam ser lidos em sua totalidade, apresentam-se aqui somente três aspectos dele: como a COVID-19 chegou ao Nordeste; a diversidade sociodemográfica e as desigualdades que limitam as ações frente à pandemia; e como medidas tomadas coletivamente estão contribuindo para contê-la.

Sobre o surgimento da COVID-19, um estudo genético sobre a evolução e disseminação da COVID-19 no país mostrou que três diferentes cepas conseguiram se disseminar e foram transmitidas antes da confirmação dos primeiros casos oficiais. Uma delas atingiu, com maior intensidade, alguns estados da região Sudeste; as outras duas entraram no país pelo estado do Ceará, provavelmente vindas da Europa e dos Estados Unidos (Silva Cândido, et al, 2020) por vias turísticas. As consequências desse processo, desconhecido à época, foi a ampla e silenciosa disseminação do novo coronavírus. Quando os governos locais tomaram as primeiras medidas de distanciamento social em meados de março, o Ceará já tinha 1.160 casos confirmados e cerca de 1/3 de seus municípios já apresentavam contaminação. Investigação retrospectiva, realizada pela vigilância epidemiológica do estado mostrou que 50 casos de COVID-19 haviam sido confirmados na capital um dia após a notificação de Wuhan à OMS em janeiro (Ceará, 2020).

Composição de ilustrações de vírus estilizados e coloridos

Os Estados do Nordeste são muito diversos entre si, e o novo coronavírus os atingiu diferentemente. Por exemplo, o Sergipe e o Maranhão apresentam os menores percentuais de população idosa, a mais afetada pela pandemia. No entanto, o Maranhão tem um adensamento excessivo de pessoas por quarto, quase 2,5 vezes maior que o da Bahia e da Paraíba. Esse adensamento tem associação direta com a transmissão do vírus.

O Maranhão também acumula os maiores indicadores associados negativamente à saúde: pior renda mensal domiciliar, maiores percentuais de população abaixo da linha de pobreza e em pobreza extrema, e a maior proporção de pessoas em trabalho informal. O Ceará tem um percentual importante da população abaixo da linha de pobreza e em pobreza extrema, além de ser o Estado com menos domicílios servidos com abastecimento de água: fatores fundamentais para eclosão de doenças infecciosas. Observa-se que a maior incidência da COVID-19 e as maiores taxas de mortalidade foram registradas no Ceará, seguidas pelo Maranhão e Pernambuco.

As medidas para conter a pandemia foram tomadas em todos os estados da região em meados de março. Os esforços conjuntos foram garantidos pelo empenho e firmeza do coletivo de governadores, garantindo estratégias compartilhadas de confinamento e de barreiras sanitárias, respaldadas por consensos científicos (Natividade, et al, 2020; Hallal, 2020).

O resultado é que, apesar de representar a região mais pobre e desigual do país, as taxas de transmissão da COVID-19 no Nordeste vêm diminuindo desde metade do mês de abril e o número de reprodução (Rt) do vírus neste momento está abaixo de 1. Além disso, todos os estados da região convergem para redução das curvas epidêmicas. Os dados atuais são muito mais alentadores do que os apresentados por Regiões mais ricas e com mais recursos técnicos e tecnológicos. O povo do Nordeste está dando uma bela lição ao país; lição essa que perdurará depois do tempo da COVID-19!

Referências

AQUINO E.M, Et al. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impactos e desafios no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2020, vol.25, suppl.1, pp. 4099-4120, ISSN: 1413-8123 [viewed 30 October 2020]. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.28642020. Available from: http://ref.scielo.org/jpzfgh

HALLAL, P. C. Resistência e resiliência em tempos de pandemia. Ciência & Saúde Coletiva [online].  2020, vol. 25, no. 9, pp. 3342-3342, ISSN: 1413-8123 [viewed 30 October 2020]. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.20312020. Available from: http://ref.scielo.org/hzdnvb

NATIVIDADE, M.S. et al. Distanciamento social e condições de vida na pandemia COVID-19 em Salvador-Bahia, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 9, pp. 3385-3392, ISSN: 1413-8123 [viewed 30 October 2020]. DOI: 10.1590/1413-81232020259.22142020. Available from: http://ref.scielo.org/x4bdct

SILVA, C.D. et al. Evolution and epidemic spread of SARS-CoV-2 in Brazil. MedRxiv [online]. 2020. [viewed 30 October 2020].  https://doi.org/10.1101/2020.06.11.20128249. Available from: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.11.20128249v2

Para ler o artigo, acesse

KERR, L. et al. COVID-19 no Nordeste brasileiro: sucessos e limitações nas respostas dos governos dos estados. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2020, vol. 25, suppl. 2, pp. 4099-4120, ISSN: 1413-8123 [viewed 30 October 2020]. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.28642020. Available from: http://ref.scielo.org/wyv29n

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

MINAYO, M.C.S. Eficácia da ação coletiva no enfrentamento ao novo coronavírus no Nordeste [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2020 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2020/11/04/eficacia-da-acao-coletiva-no-enfrentamento-ao-novo-coronavirus-no-nordeste/

 

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