Luciana Guerra Gallo, Editora Associada da Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil e pós-doutoranda na Universidade de Brasília, DF, Brasil.
Considerando-se a “segunda onda” da COVID-19 e a declaração de novas medidas de distanciamento social em todo o mundo, é oportuno lembrar o artigo “Adesão às medidas de restrição de contato físico e disseminação da COVID-19 no Brasil”, publicado na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (vol. 29, n. 5).
O estudo foi conduzido entre 24 de abril e 24 de junho de 2020, faz parte da “ConVid Pesquisa de Comportamentos”, e foi conduzido por pesquisadores do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Este inquérito de saúde (questionário autopreenchido), realizado pela internet, se iniciou com a seleção de 500 pessoas. Utilizando-se de amostragem em cadeia, incluiu mais de 45 mil participantes, distribuídos em todas as regiões do Brasil.
Considerando-se as mudanças de vida ocasionadas pela epidemia do novo coronavírus, no primeiro semestre do ano, 74,3% dos participantes fizeram restrição intensa ou total de contato físico com outras pessoas; 24,2% fizeram pouca restrição de contatos, e 1,5% dos participantes levou vida normal, sem nenhuma restrição de contato físico. Em outras palavras, de acordo com este estudo, mesmo enquanto as escolas e comércios não essenciais estavam fechados, e os trabalhadores, orientados a desenvolver suas atividades em casa, na maior parte do Brasil, um quarto da população não fez ou fez pouca restrição de contatos com outras pessoas.
Em geral, as mulheres e os idosos tiveram maior adesão à restrição social, quando comparados aos homens e jovens. Comparadas aos idosos, pessoas de 30 a 49 anos de idade tiveram chance 4 vezes maior de não fazer restrição de contato físico. Contudo, o ponto que mais influenciou na adesão ou não às medidas foi o trabalho. As pessoas que trabalhavam fora de casa tiveram 37 vezes maior chance de não aderir às medidas de restrição de contato físico, comparadas àquelas que não trabalhavam. Há que se considerar, portanto, o impacto econômico que tais medidas podem ocasionar na vida dos brasileiros. A decisão pelo confinamento intenso, para as pessoas que não exercem ocupações essenciais, pode levar a perdas importantes no rendimento familiar. Assim, a adoção de tais medidas perpassa por um contexto socioeconômico que não deve ser subestimado.
Este estudo também discute o efeito da adoção do distanciamento social no achatamento da curva de casos. Em um cenário, ainda, sem vacina ou tratamento eficaz, medidas de distanciamento social são extremamente importantes no combate à COVID-19. Os autores creditam parte da redução na disseminação da doença no Brasil à adesão por grande parte da população brasileira às medidas de restrição de contato físico.
Para ler o artigo, acesse
SZWARCWALD, C. L. et al. Adesão às medidas de restrição de contato físico e disseminação da COVID-19 no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2020, vol. 29, no. 5, e2020432 [viewed 29 January 2021]. https://doi.org/10.1590/s1679-49742020000500018. Available from: http://ref.scielo.org/d55brf
Links Externos:
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