Complicações cardíacas da esquistossomose podem causar incapacidade a longo prazo e morte

Deborah Rezende, Dehlicom — Soluções em Comunicação Empresarial, assessoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil

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A esquistossomose é uma doença tropical negligenciada (DTN), causada por platelmintos, trematódeos do gênero Schistosoma, endêmica de regiões rurais com má infraestrutura de saúde, acesso limitado à água potável ou saneamento, transmitida pela penetração de larvas do verme na pele. Ela pode invadir o sistema venoso e se espalhar por órgãos como coração, pulmões, fígado e intestinos, e levar a eventos cardiovasculares fatais. O artigo Esquistossomose e o Coração — Em Nome das Doenças Tropicais Negligenciadas e Outras Doenças Infecciosas que Afetam o Coração (Projeto NET-Heart) faz a revisão sistemática de dados de publicações sobre o comprometimento cardiovascular na doença, incluindo o diagnóstico e tratamento, para propor um algoritmo para rastrear essas manifestações. A conclusão foi que as complicações cardíacas da esquistossomose podem causar incapacidade a longo prazo e morte, e que o monitoramento clínico, exame físico, eletrocardiograma precoce e ecocardiograma devem ser considerados como medidas-chave para detectar esse envolvimento cardiovascular.

O documento teve o objetivo de expandir o conhecimento do impacto da DTN sobre a saúde cardiovascular. Para tanto, a revisão da literatura foi conduzida seguindo o delineamento do projeto NET-Heart (Neglected Tropical Diseases and Other Infectious Diseases Affecting the Heart) — uma iniciativa da Sociedade Interamericana de Cardiologia (SIAC). Foi realizada uma busca nos bancos de dados MEDLINE/PubMed e LILACS por qualquer associação entre esquistossomose e envolvimento cardiovascular, sem restrição de data. Foram analisados somente estudos em inglês envolvendo humanos. Os artigos foram rastreados por dois investigadores independentes. Uma busca manual foi também realizada a partir das referências dos artigos selecionados, o que resultou em 110 documentos, dos quais 33 foram incluídos nesta revisão sistemática: sendo seis artigos de revisão, uma revisão sistemática, um ensaio clínico, 14 estudos observacionais, sete relatos de casos e quatro séries de casos.

Infográfico demonstrando o ciclo de vida do schistosoma

Imagem: autores.

Figura 1. Ciclo de vida do Schistosoma.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 240 milhões de pessoas são afetadas pela esquistossomose no mundo. O Schistosoma mansoni é a principal espécie que infecta os humanos, e pode levar a eventos cardiovasculares fatais. O estudo informa haver relatos de casos publicados de miocardite, pericardite e isquemia do miocárdio documentados na fase aguda da doença. Esses desfechos cardiovasculares são pouco compreendidos, devido ao número limitado de casos e ausência de registros. Pacientes com complicações cardiovasculares agudas podem ainda se apresentarem assintomáticos, contribuindo para deficiências na coleta de dados. A complicação mais importante da esquistossomose crônica é a hipertensão arterial pulmonar (HAP), com sinais e sintomas não diferentes dos causados por outras etiologias. No entanto, nos estágios posteriores da doença, os pacientes podem apresentar sintomas de insuficiência cardíaca direita, tais como dispneia, edema bilateral de membros inferiores, e taquicardia.

O artigo de autoria principal de Edith Liliana Posada-Martínez ainda explica que em áreas endêmicas deve-se suspeitar de esquistossomose em pacientes com manifestações de HAP e que indivíduos com a doença podem apresentar aumento do átrio direito, hipertrofia ventricular direita e bloqueio do ramo direito no eletrocardiograma. Também revela que o diagnóstico de um comprometimento cardíaco devido à esquistossomose é um desafio, dada sua apresentação heterogênea.

Publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC Cardiol), em maio de 2022, o documento conclui que a esquistossomose é uma questão de saúde púbica global, que requer melhoria em sua detecção e manejo. As complicações da dessa doença impactam predominantemente indivíduos com acesso limitado à saúde. O tratamento é variável, e depende do comprometimento cardíaco, espécie de Schistosoma, e fase da doença. A maneira mais efetiva de se reduzir o impacto global dessa enfermidade é pela prevenção, com foco na identificação de grupos em risco, melhoria do acesso à água potável e do saneamento em áreas endêmicas.

Para ler o artigo, acesse

MARTINEZ, E.L.P. Esquistossomose e o Coração – Em Nome das Doenças Tropicais Negligenciadas e Outras Doenças Infecciosas que Afetam o Coração (Projeto NET-Heart). Arqu. Bras. Cardiol. [online]. 2022, vol. 118, no. 5, ISSN: 0066–782X [viewed 30 June 2022]. https://doi.org/10.36660/abc.20201384. Available from: https://www.scielo.br/j/abc/a/DtmLzJHhBGCyjsbNXddCNQz/

Link externo

Arquivos Brasileiros de Cardiologia – ABC: https://www.scielo.br/j/abc/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

REZENDE, D. Complicações cardíacas da esquistossomose podem causar incapacidade a longo prazo e morte [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2022 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2022/06/30/complicacoes-cardiacas-da-esquistossomose-podem-causar-incapacidade-a-longo-prazo-e-morte/

 

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