Maryane Oliveira Campos, Editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do SUS (RESS), Ministério da Saúde, Brasília, DF, Brasil.
O Brasil possui uma grande dimensão territorial, com seis tipos de biomas e diversas espécies de animais peçonhentos e venenosos. O estudo Tendência temporal e perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos no Brasil, 2007-2019, publicado na Epidemiologia e Serviços de Saúde, foi realizado por um grupo de seis pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) e um da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa teve como objetivo analisar a tendência temporal de acidentes causados por animais peçonhentos no Brasil de 2007 a 2019.
Para a produção do estudo, os pesquisadores utilizaram o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Os acidentes com animais peçonhentos são eventos de notificação obrigatória pelos profissionais de saúde no Brasil, pois podem causar sequelas temporárias ou permanentes e até morte.
Imagem: Pexels.
Os dados da série histórica de 12 anos (2007-2019) registram a notificação de cerca de 2 milhões de acidentes com animais peçonhentos, uma média em torno de 75 mil casos/ano. Os escorpiões foram os maiores causadores (51,2%), seguidos pelas cobras (17,4%) e aranhas (17,3%), totalizando 86% dos casos O escorpionismo foi o acidente mais frequente no país, com destaque para o Nordeste; o ofidismo causou mais mortes, destacando-se as regiões Centro-Oeste e Norte (biomas do Pantanal e da Amazônia). E um alerta para os pais: as crianças foram as principais vítimas de acidentes com abelhas e com lagartas.
O Ministério da Saúde, no Guia de Vigilância em Saúde, orienta que, em casos de acidentes por animais peçonhentos – exceto acidentes com águas-vivas e caravelas –, a primeira medida é lavar o ferimento com água morna e sabão. A vítima deve ser encaminhada imediatamente ao hospital de referência para avaliação médica e tratamento.
O conhecimento do perfil epidemiológico é importante para medidas de saúde pública, como a produção e distribuição de soros antiveneno entre as Unidades da Federação (UFs) e o direcionamento de esforços de prevenção para grupos de risco ou localidades com maior incidência.
Com base nas projeções, os autores chamam a atenção para um incremento anual de todos os acidentes causados por animais peçonhentos a serem atendidos nos serviços de saúde nos próximos anos. Pensando em termos de políticas públicas, é importante destacar também que essas variações não se relacionam apenas ao tipo de vegetação, clima ou relevo. As ações antrópicas, alterações climáticas, crescimento urbano desordenado e eliminação de predadores naturais, entre outros fatores, também podem estar contribuindo com o aumento de casos.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde [recurso eletrônico]. 5 ed. rev. e atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2022 [viewed 30 March 2023]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_5ed_rev_atual.pdf
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SOUZA, T.C. et al. Tendência temporal e perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos no Brasil, 2007-2019. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2022, vol. 31, no. 3, e2022025 [viewed 30 March 2023]. https://doi.org/10.1590/S2237-96222022000300009. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/3DKmsxRVTXY9JCynCFtstmy/
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