Rubia Carolina Farias Santos, Assistente Editorial, Fisioterapia em Movimento, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil.
O ano de 2020 foi marcado por um dos grandes desafios dos últimos anos: a pandemia de COVID-19. O desenvolvimento e implantação das vacinas representaram um grande passo, dada a complexidade do tratamento da infecção causada pelo SARS-CoV-2. Embora não a previnam totalmente, as vacinas têm sido cruciais na redução da gravidade da doença e das taxas de hospitalização e morte. No entanto, ainda não existe nenhum medicamento ou terapêutica eficaz para o seu tratamento. Em alguns casos, o SARS-CoV-2 complica o curso de patologias concomitantes, incluindo doenças virais (ALGAADI, S. A.). Desta forma, tratamentos mútuos e complementares na forma de métodos alternativos podem oferecer uma ampla gama de benefícios.
A fim de discutir as potenciais vantagens e desvantagens de tratamentos alternativos em comparação com as abordagens médicas convencionais no tratamento da COVID-19, pesquisadores da Albânia realizaram uma revisão sistemática nas bases de dados PubMed, Web of Science e Google Scholar. A pesquisa, intitulada Alternative therapies for viral infections caused by SARS-Cov-2, foi publicada no periódico Fisioterapia em Movimento.

Imagem: Pixabay.
Foram analisadas fontes bibliográficas dedicadas ao estudo da patogênese, diagnóstico e tratamento da infecção causada por SARS-CoV-2 publicadas de março de 2020 a abril de 2023. Dos 264 artigos encontrados na busca inicial, 45 foram lidos na íntegra e 29 foram incluídos na revisão.
Os métodos mais proeminentes de terapia alternativa contra a COVID-19 foram acupuntura, reflexologia, biohacking, homeopatia e magnetoterapia (BIJELIĆ K, et al.; HAN, Z., et al.; SOILEYMANI, S., et al.). No entanto, os mais eficazes foram as vitaminas e a naturopatia, introduzidas na forma de fitoterapia, cuja maior utilização foi no tratamento de doenças de origem infecciosa (KLADAR, N., et al.).
A pesquisa também ressaltou a importância das ervas no alívio dos sintomas da COVID-19, com foco em substâncias como alho, gengibre, camomila e madressilva (KLADAR, N., et al.; LI, H., et al.). Estas ervas exibem efeitos imunomoduladores, influenciando várias células imunológicas e citocinas. Além disso, extratos de folha de oliveira e Ginkgo biloba apresentam ação antiviral e propriedades anti-inflamatórias, contribuindo para o gerenciamento de doenças (AL-KURAISHY, H. M., et al.; PAUL, A., et al.).

Imagem: Pixabay.
A compreensão da imunomodulação de genes como RELA e MAP3K7 lança luz sobre potenciais alvos para o tratamento com madressilva, enfatizando a importância da intervenção precoce para conter a progressão de doenças (FIORINO, S., et al.; YANG, Z., et al.). No entanto, a validação adicional por meio de estudos in vivo e in vitro é necessária para explorar de forma abrangente essas abordagens.
No geral, a exploração de tratamentos alternativos para as infecções por SARS-CoV-2 apresenta um cenário complexo que combina práticas tradicionais com descobertas científicas contemporâneas. O uso de tratamentos alternativos, contudo, tem vantagens e desvantagens em relação aos convencionais: uma abordagem holística considera o bem-estar geral e o sistema imunológico, contudo há evidência científica limitada para apoiar sua eficácia e segurança; tem potencial para atendimento personalizado com base nas necessidades individuais, porém nota-se uma demora na busca comprovada e convencional baseada em evidências; há uma menor ocorrência de efeitos colaterais, contudo podem ocorrer possíveis interações com os medicamentos convencionais.

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O uso de medicina complementar e alternativa no tratamento da COVID-19 é influenciado por vários fatores culturais e sociais. Em algumas culturas, as práticas tradicionais de cura e os remédios naturais têm um valor significativo e estão profundamente enraizadas nos seus sistemas de saúde. Adicionalmente, fatores sociais, como desinformação, influência de mídia sociais e o desejo de soluções rápidas podem contribuir para a adoção de terapias alternativas (PAUDYAL, V., et al.).
Desta forma, prestadores de cuidados de saúde devem ouvir sem julgamento e educar os pacientes sobre práticas e riscos potenciais associados às terapias alternativas. O incentivo ao diálogo pode fomentar confiança e melhorar a relação paciente-médico, essencial para garantir a integração segura e eficaz de tratamentos alternativos. Além disso, os sistemas de saúde devem investir na saúde pública através de campanhas para disseminar informações precisas sobre a COVID-19 e promover habilidades de pensamento crítico entre a população, capacitando os indivíduos a tomarem decisões informadas em relação a sua saúde.
Referências
ALGAADI, S.A. Herpes zoster and COVID-19 infection: a coincidence or a causal relationship? Infection [online]. 2022, vol. 50, no. 2, pp. 289-293 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1007/s15010-021-01714-6. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s15010-021-01714-6
AL-KURAISHY. H.M., et al. Ginkgo biloba in the management of the COVID-19 severity. Arch Pharm (Weinheim) [online]. 2022, vol. 355, no. 10, e2200188 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1002/ardp.202200188. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ardp.202200188
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FIORINO, S., et al. Cytokine storm in aged people with CoV-2: possible role of vitamins as therapy or preventive strategy. Aging Clin Exp Res [online]. 2020, vol. 32, no. 10, pp. 2115-2231 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1007/s40520-020-01669-y. Available from : https://link.springer.com/article/10.1007/s40520-020-01669-y
HAN, Z., et al. Is acupuncture effective in the treatment of COVID-19 related symptoms? Based on bioinformatics/network topology strategy. Brief Bioinform [online]. 2021, vol. 22, no. 5, bbab110 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1093/bib/bbab110. Available from: https://academic.oup.com/bib/article/22/5/bbab110/6235963
KLADAR, N., et al. Phytotherapy and dietotherapy of COVID-19 – An online survey results from central part of Balkan Peninsula. Healthcare (Basel) [online]. 2022, vol. 10, no. 9, pp. 1678 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.3390/healthcare10091678. Available from: https://www.mdpi.com/2227-9032/10/9/1678
LI, H., et al. New approach for targeted treatment of mild COVID-19 by honeysuckle through network pharmacology analysis. Comput Math Methods Med [online]. 2022, vol. 21, pp. 9604456 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1155/2022/9604456. Available from : https://www.hindawi.com/journals/cmmm/2022/9604456/
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Para ler o artigo, acesse
RISTO, J., et al. Alternative therapies for viral infections caused by SARS-Cov-2. Fisio Mov [online]. 2024, vol. 37, e37201 [viewed 23 February 2024]. https://doi.org/10.1590/fm.2024.37201. Available from: https://www.scielo.br/j/fm/a/mjkzB4nbYHgxB8DTXtyxM6j/
Links externos
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