Profa. Dra. Karin Hermana Neppelenbroek, DDS, MSc, PhD, Professora Titular, Departamento de Prótese e Periodontia, Prefeita do Campus USP Bauru, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru – SP – Brasil.
A necessidade do estudo surgiu a partir de evidências que apontaram as próteses dentárias totais removíveis (dentaduras) como um reservatório de microrganismos respiratórios, aumentando consideravelmente o risco de desenvolver doenças pulmonares, especialmente a pneumonia aspirativa. Esse risco chega a ser 8 a 10 vezes maior em idosos acima de 70 anos que estejam hospitalizados, sobretudo 48 horas após a internação.
Visando minimizar esse risco, o estudo avaliou 17 protocolos de limpeza de dentaduras em 340 pacientes hospitalizados, com o objetivo de estabelecer um método simples e eficaz para reduzir ou, preferencialmente, eliminar todos os microrganismos presentes nessas próteses.
Fonte da imagem: arquivo pessoal dos autores.
Os pacientes hospitalizados em enfermaria, incluindo os avaliados no estudo, não removem as dentaduras durante o período de internação, à semelhança do que ocorre com aqueles internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Da mesma forma, os hospitais, como os investigados na pesquisa, geralmente não adotam nenhuma conduta em relação aos cuidados de limpeza com as dentaduras. Sendo os usuários de dentaduras em sua maioria idosos, como o observado com os participantes do estudo, com média de idade de 71 anos, aumenta-se a preocupação em relação ao risco de infecções respiratórias oriundas das próteses.
A importância da higiene bucal em pacientes hospitalizados foi demonstrada com redução de até 40% nos casos de pneumonia após escovação dentária e enxágue com digluconato de clorexidina. Apesar desses dados favoráveis obtidos com a remoção da placa dentária (depósito organizado de microrganismos e resíduos sobre os dentes ou próteses), falta informação sobre protocolos de limpeza para dentaduras em pacientes hospitalizados que, como os participantes do estudo, ainda limpam essas próteses apenas com enxágue em água ou, menos frequentemente, com escova e creme dental ou sabão.
Fonte da imagem: arquivo pessoal dos autores.
Para atingir seu objetivo, o estudo testou a eficácia antimicrobiana de diferentes protocolos de limpeza de dentadura, utilizando imersão em soluções desinfetantes à base de hipoclorito de sódio (água sanitária), digluconato de clorexidina e peróxido alcalino (pastilhas efervescentes) ou irradiação em forno de micro-ondas, associadas ou não a escovação com escova dental. Foram também testados os métodos frequentemente utilizados pelos pacientes, ou seja, escovação com água, sabão ou creme dental. Essa eficácia foi avaliada pela capacidade apresentada pelo protocolo, após uma única aplicação, em remover a placa microbiana visível (identificada com corante vermelho) e reduzir a quantidade de microrganismos viáveis (bactérias e fungos crescidos em placas de culturas).
Os resultados mostraram que todos os 17 protocolos testados apresentaram eficácia antimicrobiana quanto aos dois métodos de avaliação (corante e crescimento de colônias). Entretanto, dentre eles, a imersão em solução de hipoclorito de sódio a 1% por 10 minutos, associada ou não à escovação, foi considerada como o protocolo de maior eficácia antimicrobiana, uma vez que removeu completamente a placa visível e eliminou todos os microrganismos presentes nas dentaduras. Os protocolos menos eficazes foram aqueles mais adotados pelos pacientes, utilizando escovação com água, sabão ou creme dental.
Imagem: arquivo pessoal dos autores.
Figura 1. À esquerda, dentadura antes (A) e após (B) a imersão em hipoclorito de sódio a 1% por 10 minutos sem associação à escovação, evidenciando a completa remoção da placa visível corada em vermelho. À direta, dentadura antes (C) e após (D) a escovação com água, evidenciado a baixa capacidade de remoção da placa visível pela escova dental.
Como a simples imersão das dentaduras por 10 minutos em solução de hipoclorito de sódio a 1% demonstrou alta eficácia antimicrobiana sem a necessidade de escovação, esse protocolo pode ser adotado até mesmos por hospitais que não contam com cirurgiões-dentistas, pela possibilidade de serem aplicados pela própria equipe de enfermagem, pelo menos uma vez ao dia, durante o período de internação do paciente. Além de ser um protocolo rápido e fácil, utiliza uma solução de baixo custo em relação a outras de uso hospitalar como digluconato de clorexidina.
Adicionalmente, a adoção de um protocolo padrão e eficaz como o sugerido pelo estudo pode resultar em menor tempo de hospitalização, tanto pela prevenção de infecções associadas aos microrganismos da dentadura quanto pela redução do curso de virulência de uma doença pulmonar previamente estabelecida, levando a menores custos de internação.
NEPPELENBROEK, K.H. Protocolos de limpeza de dentaduras em pacientes hospitalizados podem prevenir doenças respiratórias [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2024 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2024/03/26/protocolos-de-limpeza-de-dentaduras-em-pacientes-hospitalizados/
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